Assisto aos vídeos da Veja, de O Antagonista e outros articuladores do pensamento conservador e liberal que pretende acabar com o ciclo de governos de centro esquerda no Brasil. Leio com atenção os autores atuais e clássicos que defendem as concepções liberais e conservadoras. Estou atento aos fundamentalistas religiosos e seu milenarismo apocalíptico. Há em meio ao turbilhão dessa crise um ar mofado de retorno do mesmo, ao lado de uma sensação de incerteza e do imponderável.
É indisfarçável o temor que os articulistas expressam, em meio aos refrões repetidos de que o PT é uma organização mafiosa com ligações com o tráfico de drogas, guerrilhas e crime organizado internacional. Pode-se ver no olhar que para por alguns microssegundos e pergunta dos subterrâneos do inconsciente: E se, e se, a tragédia moral que aparece no discurso que exige o indiciamento e condenação de Lula, além do impedimento de Dilma, for percebido como mera luta pela retomada do controle da máquina pública?
O indiciamento e condenação de Lula só seria o fim do processo no horizonte curto e messiânico que pretende passar a limpo o Brasil através do linchamento moral de um partido político e de seus líderes.
Uma eventual condenação de Lula seria, exatamente, o início e não o fim. Até aqui a crise é uma encenação, uma tragicomédia, pois que não passa da história se repetindo como farsa.
O sacrifício de Lula em nome da manutenção de um consenso moral demagógico e falido, bem, isso seria algo realmente novo. Abriria uma cisão em nosso modelo hipócrita de coesão social.
Há um pressuposto claro unindo articulistas da Globo e da, Veja. E ele é um pressuposto metafísico.
A questão central é sobre se a moralidade metafisica pode se impor sobre a constelação de interesses práticos que movem, tanto as tomadas de decisão coletiva, quanto a vida pessoal de cada cidadão.
É uma aposta alta imaginar que as pessoas, a maioria dos eleitores em especial, vão encontrar mais razões para Lula ir para a cadeia do que as que existem para FHC ser preso. Esse mundo não é mais o de Getúlio Vargas e o do mar de lama. Depois de House of Cards alguém pode apostar suas cartas sem temor na opção de que existam mocinhos e bandidos nos intestinos da política?
Pode-se ouvir os ecos da catacumba intelectual de Olavo de Carvalho. Uma filosofia arcaica em que o platonismo só se completa no advento do Deus encarnado. Existe uma verdade. Ela é única e coerente. Tudo mais é erro, heresia e pecado.
O mundo do fundamentalismo deísta é muito simples. Existe um Deus onipotente, onipresente e onisciente. Ele criou a tudo e a todos. Mas, irá conceder a vida eterna no paraíso aos legítimos, verdadeiros, justos e poucos eleitos.
Isso excluí imediatamente a maioria da humanidade que crê de modo diferente nesse mesmo deus, em outros ou em nenhum Deus. Esse é o custo da simplificação. A humanidade é um erro. Todos estamos perdidos desde a queda no Éden e somente os crentes arrependidos poderão salvar-se
O fundamentalismo político ideológico é uma versão laica da mesma lógica. No lugar de Deus, a “verdade”. No lugar da redenção, o “mérito”. Nessa versão ateísta da religião toda a falação sobre justiça não é mais do que a racionalização do abuso contra o outro.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Muito bom, Marco! Lembrei das crônicas da ascenção fascista de Bob Fernandes.
beijo