A fundamentação do credo religioso, portanto de todas as religiões, é o mistério. A realidade cognoscível está no mundo ao nosso redor. Mas além de nosso entendimento o universo permanece imenso, tanto na direção do mundo das partículas atômicas, quanto na direção das galáxias e do universo observável.
O empreendimento humano na luta pela sobrevivência, em meio a um ambiente hostil, nos levou a lutar em cooperação e estender a nossa potência de agir através de ferramentas. Isso, no desenrolar das centenas de milhares de anos, conecta os primeiros caçadores coletores a civilização tecnológica e em rede na qual vivemos.
Entretanto, do ponto de vista das questões universais, a respeito do sentido e significado de existir, sabemos tanto quanto sempre soubemos desde o início. No âmbito real que seja de algum modo inteligível ou calculável, sobre a razão da existência, da consciência do mundo material e, dentro dele, da existência da própria vida, não avançamos um único passo. Quando se trata do mistério tudo é reelaboração do que já intuímos antes.
A ciência não trata da verdade. A ciência trata das formas de intervir no mundo. A ciência não tem nem mesmo o monopólio do uso do conhecimento. Existir, como empreendimento racional, ainda que inconsciente, é inerente a todas as espécies de organismos.
Nós não entendemos plenamente os mecanismos de estocagem de informação e de emergência de comportamentos articulados, estratégicos e altamente inteligentes. O que não parece ser racionalmente tratável é a questão do porque a vida, o ambiente e o universo existem.
Assim, o mito e a religião avançam uma hipótese tão antiga e ubíqua, quanto ousada: Existe um além. Um tipo de realidade anterior ao tempo e ao espaço. Num sentido preciso, essa realidade não é razoável. Não possui um sentido humanamente cognoscível. É o ínfimo e infinito que deram de alguma forma uma origem ao universo.
Especulamos sobre isso em cosmologia e física teórica. A teoria das cordas, a física quântica e a teoria da relatividade têm dado indícios de que o real que vivenciamos no escopo restrito de nossa percepção, pode estar contido dentro de uma realidade mais amplamente vasta.
Aí, nessa vastidão inexplorada é que se poderia encontrar a substância da alma.
Num espaço bidimensional poderiam existir consciências absolutamente incapazes de visualizar a terceira dimensão. Ainda que fossem capazes de calcular sua existência.
Assim, ainda que essa analogia preserve a existência de algo como o ser senciente (que percebe a si mesmo no mundo) ela permite uma grosseira extrapolação. Os seres das dimensões acima nos perceberiam de forma transparente e totalmente banal. É de nossa limitada perspectiva que o mistério faz sentido.
Então, gostaria de saber se, em dimensões superiores, poderíamos encontrar a materialidade ou a existência etérea de Deus e da alma.
Por essas dúvidas é que ouso me definir como um agnóstico cético.
Por Emilia Alves de Sousa
Oi Marco,
Tenho uma cultura religiosa muito forte. Nasci numa família de católicos praticantes fervorosos, e assim fui educada. Mas em alguns momentos da vida também tenho refletido sobre a existência da alma, da vida após a morte, e aí bate uma dúvida cruel e um enorme sofrimento, imaginar que com a nossa morte, tudo acaba para nós. Gostaria de acreditar que não.
Ainda não me considero uma agnóstica cética, ou será que eu só? Espero que não! (Risos)
Abraços!
Emília