Os desafios de ser sanitarista (na saúde mental) e atuar na saúde pública, hoje!

6 votos

Senecio, Paul Klee

Senecio, Paul Klee

Fico pensando que os desafios de atuar na saúde pública no contexto que a gente vive são imensos. E de uma forma ou de outra, nós só conseguimos nos desafiar quando vivemos esse desafio no nosso cotidiano.

O meu local de fala, por exemplo, é baseado em dois pontos que eu estou vivendo diariamente no SUS: a Interlocução da Saúde Mental da Supervisão Técnica de Saúde Mooca/Aricanduva e o CAPS Ad Mooca.

Na interlocução da mental tenho observado que um dos grandes desafios é fazer rede, fortalecer a rede de atenção psicossocial (RAPS) da Mooca/Aricanduva. Fazer dessa rede não só da saúde, mas, de somar a RAPS com a assistência social, educação, defensoria pública e demais parceiros.

A interlocução da mental é responsável pela articulação da rede de saúde mental no CAPS Adulto Aricanduva, CAPS ad Mooca, CECCO Mooca, CAPSi Mooca e Residências Terapêuticas (RTs), bem como outras conexões com a atenção básica, urgência e emergência, atenção hospitalar, vigilâncias entre outras. Dos serviços, três unidades são da administração direta e as outras estão sob contrato de gestão.

São vários os desafios para os serviços que estão sendo gerenciados pelo contrato de gestão ou pela administração direta.

Na gestão municipal muitos trabalhadores aposentando, falta condições estruturais de trabalho, equipes reduzidas (não) dando conta de tanto trabalho. Diariamente, os trabalhadores precisam se reinventar para aplicar o seu trabalho em saúde.

Nas OSSs uma questão que todo mundo já conhece: alta rotatividade de profissionais, lógica gerencialista na produção do cuidado etc.

Aí é que tá o desafio!

O trabalho na saúde mental só funciona com as relações de vínculo que o usuário tem com o profissional de saúde. Se determinado serviço possui uma rotatividade de trabalhadores da saúde muito grande as relações de vínculo são fragilizadas, não é possível estabelecer nenhuma relação de vínculo, amizade, confiança. Os serviços de saúde mental operam sob tecnologias leves de cuidado.

Pelo menos todos os serviços de saúde deveriam fabricar possibilidades de tecnologias leves de cuidado.

Esse é o segundo desafio da saúde pública, dos sanitaristas e de muitos profissionais de saúde.

Um dos lugares que venho aprendendo muito é no CAPS ad Mooca, um dos serviços de saúde mental muito diferente de qualquer outro que eu tenho circulado, atualmente. No CAPS o perfil das pessoas que usam os serviços são moradores de rua que estão em centros de acolhida ou são usuários de drogas (ou os dois juntos).

Morador de rua e usuário de droga é um desafio para a saúde pública por conta do preconceito que muita gente tem e muito trabalhador de saúde também tem na hora que eles (ou quando tentam) acessar o serviço. Da mesma forma que eles foram “desumanizados” morando na rua, perdendo confiança de si mesmo, auto estima, como se o serviço de saúde tivesse fazendo um favor a eles na hora do atendimento. Há uma “desumanização” também quando o trabalhador de saúde aplica seu trabalho em saúde no morador de rua ou usuário de droga tratando de forma desigual ou como se ele não merecesse atenção para sua saúde.  

O desafio dos sanitaristas (estou incluindo aqui todos os profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, dentistas etc com pós graduação em saúde pública/coletiva e os companheiros/as da graduação em saúde pública/coletiva) é de resgatar a dignidade dessas pessoas e construir itinerários terapêuticos que possam resgatar a potência de vida de cada um.

Agora, na atual conjuntura o desafio menor (no sentido de reformulação da questão política que o Brasil vive para coletivizar todas as expressões de defesa da democracia) é a construção de um processo revolucionário subversivo do poder institucional-político que foi minuciosamente fabricado.

Os cento e oitenta dias que vamos viver é para transformar, resistir e fortalecer a luta pela defesa da vida, da saúde e da democracia.

SUS É DEMOCRACIA!!!