BARREIRAS NO COTIDIANO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: Reflexos da não adesão à reabilitação.
A Convenção das Nações Unidas sobre Direitos da Pessoa com Deficiência reconhece que a deficiência é um conceito em evolução e que resulta da interação entre pessoas com deficiência e os ambientes a elas inadequados. As barreiras também decorrem das atitudes que impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Barreiras que impõem a essas pessoas desafios cotidianos de enfrentamentos para sua efetiva participação como membros iguais da sociedade.
Embora sancionada pelo Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, equivalência com a Constituição Brasileira, ainda temos de enfrentar barreiras arquitetônicas que nos impedem acesso aos serviços de saúde, educação, esportes, lazer, transporte, mobilidade urbana, etc. Impedimentos diversos para que nos mantenhamos dependentes da ajuda de terceiros, como pessoas incapazes. Enfrentamentos que se estendem às barreiras comunicacionais para surdos e cegos, ou barreiras atitudinais ao se apresentar candidatos às vagas no mercado de trabalho e constatar subestimações quanto a nossa capacidade produtiva.
Soma-se a isso, o enfrentamento diário da falta de informações das pessoas sem deficiência acerca da diversidade que compõe a condição humana de estar com alguma deficiência. Informações que as preparem para lidar com nossas especificidades, de modo a respeitar limitações e valorizar capacidades. Maioria, por preconceito, opta pelo descrédito e conclusões sem consistência. Julgamentos equivocados que se perpetuaram através de suas profundas raízes históricas, mas, atualmente, inaceitáveis do ponto de vista do estado de direito de qualquer cidadão que vive em sociedades civilizadas.
Na verdade, o que mais me surpreende são as barreiras individuais que algumas pessoas com deficiência adquirida constroem, caracterizadas pela dificuldade e resistência em aceitar sua nova performance, assumir a própria identidade/condição física ou sensorial. Pessoas que decidem por se fazer de vítimas, letárgicas, incapazes, estáticas, pessimistas, dependentes e sem disposição para evoluir, libertar dos seus condicionamentos mentais.
A não aceitação da própria condição (de)eficiente cerceia qualquer perspectiva de evolução nos programas de reabilitação e inclusão social, até porque as outras pessoas perdem a vontade de trabalhar com pessimismos. É preciso acreditar que é possível, alimentar esperanças, manter-se firma no propósito e, ter Fé. Lembro como reagia com euforia, quando ainda tetraplégico, conseguia esboçar movimentos dos dedos das mãos. Erguer um braço, então, como foi muito comemorado, assim como conseguir provar para os urologistas que seria viável estabelecer controle das micções. Compreendo e aceito a singularidade das pessoas, contudo, como já vivenciei medos, dúvidas, conflitos internos, como as demais pessoas que tiveram de reaprender até a comer com as próprias mãos, não costumo alimentar desesperanças.
Confesso não ter sido fácil superar as fases de negação, de ajustamento, e de reconstrução, do após lesão neurológica incapacitante. Mantinha-me antenado na certeza de que Deus e meus amigos espirituais estavam na guiança, nutrindo-me do pensamento de Santo Inácio de Loyola: “A vitória mais bela que se pode alcançar é vencer a si mesmo”.
Wiliam Machado
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Olá Willian,
O acesso tornou-se um assunto de grande relevância pois faz emergir uma discussão mais transcendente sobre a questão da igualdade e da liberdade. Igualdade que deve ser pensada nos marcos da diferença. Nem todos necessitam ao mesmo tempo de algo. As necessidades são diferentes para cada grupo de pessoas. Parece paradoxal, mas não é.
AbraSUS