Acerca do Normal e o Patológico de Canguilhem – Um problema contemporâneo

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https://drive.google.com/file/d/0B6Dh2r0OH3TiTUZFMElRUy1nMDA/view

 

A vida social é atravessada por processos nos quais esta demarcação é acionada: normal e patológico são categorias que distinguem, no plano social, o que é prescrito ou aceito daquilo que é proscrito ou recusado. Este fato cultural demonstra, por si só, o interesse geral do tema, mas, no campo da saúde, sua importância é crucial. A clínica é um campo onde a demarcação entre a saúde e a doença é o ponto de partida e a bússola que orienta a ação terapêutica, e a referência em relação à qual os resultados  terapêuticos são avaliados.
 
Benilton Bezerra é médico psiquiatra de uma linhagem de pensadores inquietos e bastante produtivos. Seus ditos e escritos têm propiciado novas contribuições mais arejadas e afeitas aos modos contemporâneos de viver. E tudo isso, que já não é pouco em tempos de escritas rápidas e ralas, se soma a um jeito delicioso de dar seu recado.
 
E o que dizer então de Canguilhem? Atento aos poetas, cita Paul Valery:
 
“O homem se sente garantido por uma superabundância de meios dos quais lhe parece normal abusar. Ao contrário de certos médicos
sempre dispostos a considerar as doenças como crimes, porque os interessados sempre são de certa forma responsáveis, por excesso ou omissão, achamos que o poder e a tentação de se tornar doente são uma característica essencial da fisiologia humana. Transpondo uma frase de Valéry, dissemos que a possibilidade de abusar da saúde faz parte da própria saúde” (Canguilhem, 1966/1978, p.162).