No nosso dia a dia estamos constantemente nos deparando com os encaminhamentos. Algumas vezes por uma necessidade de termos uma segunda opinião e realizar um tratamento mais apropriado para aquele paciente que breve retornará para você, mas algumas vezes, e nem sempre nos damos conta, para nos retirarmos da responsabilidade pelo sujeito adoecido, aquilo que Balint denominava “conluio do anonimato”. Decidi escrever sobre os encaminhamentos a partir de uma vivência pessoal. Aí vai…
Estava na residência de psiquiatria e naquele ano 4 pacientes do ambulatório adoeceram, necessitando de exames invasivos. “Por acaso”, todos eles me pediram para que eu os acompanhasse durante os exames, realizados no mesmo hospital universitário onde fazia minha formação. Não queriam ir “sozinhos” ao especialista. Na época não entendia bem do quê se tratava esse “sozinhos”, e pensava que minha presença física seria a possibilidade de tirá-los da solidão.
Muitos anos se passaram e encontro com uma amiga que na época era acadêmica de enfermagem e que também acompanhou um daqueles pacientes “acompanhados” por mim. Disse ela: “Se lembra do Seu Raimundo? Ele morreu algum tempo depois que você saiu do Rio. A irmã dele me contou, e disse que nos últimos momentos só falava no seu nome…”
Fico pensando então nos vários sentidos da palavra ACOMPANHAR. Acompanhar um paciente é estar junto, ser sua referência, não deixá-lo sozinho. E aprendi também que não se trata exatamente da presença física. Afinal de contas, com Seu Raimundo eu não estava fisicamente ao seu lado, como na época do exame da residência. Mas estava ali, com meu nome, com aquilo que de mim tinha permanecido com ele…
Por Emilia Alves de Sousa
Que lindo depoimento!
Você nos traz uma questão superimportante , o acompanhamento do paciente, e como a acolhida profissional neste ato faz toda uma diferença. Ontem mesmo, uma criança internada no HILP, hospital onde trabalho, precisou fazer um teste de vacina numa outra unidade de saúde, e surgiu a dúvida, quem vai acompanhá-la, pois a enfermeira designada para essa finalidade estava participando de uma reunião. A assistente social poderia acompanhá-la, porém não tinha como intervir caso a criança viesse ter alguma intercorrência. Uma das residentes se disponibilizou para acompanhar a criança, o que produziu uma grande confiança na sua mãe-acompanhante. Era visível a satisfação da usuária, em saber que um profissional de referência estaria ao seu lado.
Obrigada Marcelo pela beleza da postagem!
AbraSUS!
Emília