A boca do leão e a Saúde do Trabalhador
“A boca do leão e a Saúde do Trabalhador” – Paulo Figueiredo
Um circo apresentava uma atração com um leão em que o domador colocava a sua mão dentro da boca do animal.
Numa certa ocasião, durante uma apresentação, o domador introduziu demasiadamente a mão na boca do leão, atingindo a “campainha ou sininho” da garganta do animal, fazendo com que o mesmo fechasse abruptamente a boca e introduzisse, no braço do domador, os seus afiados dentes. (1)
As graves lesões provocadas pelo acidente com o domador fizeram com que os diretores do circo resolvessem extrair todos os dentes do animal, assim, com o animal “banguelo” as consequências de um novo acidente seriam minimizadas e, com um jogo de luzes adequado, a plateia nem perceberia a falta de dentes da fera. (2)
Recuperado o domador, do acidente, e o leão, da cirurgia, voltaram-se às apresentações com grande sucesso, mas eis que, numa apresentação, sem nenhum motivo aparente, o leão voltou a fechar inexplicavelmente a boca soltando um rugido de dor, provocando lesões no punho e dedos da mão direita do domador devido a força da mordedura do animal, apesar de “banguelo”!
Investigada a causa desta reação inesperada do animal, os técnicos do circo concluíram que um marimbondo havia picado o lombo do mesmo (havia um inchaço no local!), justamente na hora da apresentação e, numa reação fisiológica natural do animal, ao sentir a dor, fechou a boca, causando o acidente!
A partir de então, antes das apresentações e dos ensaios, o leão recebia uma aplicação concentrada de repelente contra insetos…
Alguns meses após, o leão voltou a fechar a boca durante uma apresentação, lesionando novamente o domador. O fato é que o domador, por um descuido, uma bobeira…. pisou no rabo do animal e numa reação natural o mesmo, ao sentir a dor, fechou a boca.
Como solução para se evitar novos acidentes deste tipo, os técnicos do circo resolveram amputar o rabo do animal, assim, num descuido do domador, não mais aconteceria esta situação: sem rabo não haveria como pisar no mesmo, não é mesmo?
Assim, ao longo de alguns anos, o animal ainda sofreu outras amputações, até que um dia morreu! De velhice…. (3)
O circo ainda tentou adquirir outro animal para substitui-lo, mas foi impedido pela legislação que trata da proteção dos animais silvestres. (4)
O domador de leões, então, resolveu se dedicar a apresentações como palhaço, conseguindo grande sucesso! (5)
FIM ……….
Considerações:
(1) Colocar a mão na boca do leão é uma atividade de risco iminente, independentemente da habilidade do domador, assim um trabalhador que opera uma máquina de risco iminente (máquina mutiladora) está sujeito a um acidente por um descuido, uma bobeira, uma “falta de atenção”, …..
(2) Este é o “jeitinho” de operar uma máquina contornando as condições de segurança….. e tentando evitar um “risco maior”, sem assegurar a segurança de operação do equipamento.
(3) Várias intervenções foram feitas no animal, sem sucesso…..até que esgotou sua vida útil.
Assim alguns gestores utilizam máquinas com potencial de lesionar seus trabalhadores até a sua inutilização pelo tempo (desgaste), adotando medidas paliativas de segurança.
(4) Gestores ainda tentam manter o mesmo padrão de maquinários e processos de trabalho que possuem potencial de lesionar seus trabalhadores.
Assim, só são obrigados a abandonar suas práticas em função de restrição legal ou após sofrerem fiscalização dos órgãos de proteção dos trabalhadores.
(5) Muitas vezes a mudança para um processo de trabalho com segurança, conforto e satisfação dos trabalhadores traz resultados satisfatórios, inclusive sob o ponto de vista financeiro.
A restrição, por exemplo, da utilização de animais em espetáculos, pode ter levado a falência alguns circos, mas grande parte deles migrou para outras apresentações com redobrado sucesso. Que o diga o Cirque du soleil que não trabalha com animais…
Por patrinutri
Achei muito interessante sua publicação.
Acho que é isto mesmo que acontece em muitos locais de trabalho, se pune as pessoas individualmente e não se observa os processos. Mais fácil culpabilizar o indivíduo transformando-o como fera do que admitir que a gestão está equivocada.
Os processos de gestão compartilhada , colegiados de gestão, nos permitem olhar para o todo. Observar onde aconteceram falhas individuais, coletivas e nos processos.
Muito bom mesmo podermos conversar sobre isso por aqui.
Grande abraço,
Patrícia