Atualmente as moedas são criadas em ambientes virtuais. Muito pouco dinheiro é realmente impresso. O lastro desse dinheiro são promessas de pagamento, os títulos da dívida pública.
Esses títulos são jogados nos mercados financeiros e o esquema de pirâmide que gera valor monetário do “nada” se desenvolve livremente. Dívidas vão sendo criadas para pagar dívidas, de modo que, alguns dos maiores bancos da Europa possuem menos de 3% do dinheiro de seus correntistas. O restante são promessas de pagamento geradas por empréstimos, tecnicamente chamados de taxas de alavancagem. O que configura claramente um sistema fraudulento.
Chegamos ao limite da quebra da confiança da população no sistema monetário internacional. Estamos novamente na iminência de um colapso econômico semelhante àquele de 1929.
A urgência que mobiliza as políticas de ajuste fiscal visa levar o prejuízo da quebra do sistema financeiro para as pessoas comuns, através da transferência dos custos com educação, saúde pública e previdência social para pagamento do juros da dívida pública.
Mas a questão é se realmente precisamos criar moeda através da geração de dívidas, num claro esquema de pirâmide, de uma fraude.
As nações desenvolvidas não são as que menos se endividaram, pelo contrário, o maior déficit fiscal é o norteamericano. A diferença é a capacidade de suportar uma balança fiscal negativa através de uma base tecnológica aplicada massivamente no complexo industrial militar.
De onde veio, por exemplo, a liderança tecnológica dos EUA?
Em primeiro lugar dos investimentos em educação que permitiram um exército de técnicos, engenheiros, pesquisadores e grandes cientistas. Esse é o lastro oculto pela criação de moeda a partir do endividamento dos atores econômicos. A dominação tecnológica é a grande arma geopolítica do século XXI.
O sistema não funciona com base na disponibilidade de recursos. A crise ambiental, por sinal, é uma evidência de que a mão invisível do mercado se comporta de modo autodestrutivo, com base na crença de que a escassez de insumos sempre poderá ser resolvida com incrementos tecnológicos. Daí emerge o colapso ambiental no qual vamos afundando rapidamente.
Entretanto, a possibilidade de que carros possam ser guiados por sistemas de inteligência virtual não é tida como um aporte de recursos. Não se espera que carros automáticos sejam capazes de melhorar a qualidade de vida das pessoas que trabalham como motoristas. É tido como natural que o ganho em produtividade venha a gerar desemprego e aumento da pobreza e miséria.
O paradoxo da trajetória de nossa espécie é ainda irrespondível. Quanto mais podemos ao longo da história, em termos de recursos e capacidades coletivas, mais a população aumenta. No entanto, cada vez mais seres humanos têm existências miseráveis em números absolutos.
Investimentos em educação, a capacidade de prover afeto e cuidado, nossa força coletiva, solidariedade e diversidade são o fundamento do desenvolvimento que nos trouxe do domínio do fogo até a internet e a exploração espacial. Mas isso não tem relação nenhuma com a produção de nosso sistema de valores, especialmente o capital simbólico monetário ao qual todos os demais capitais simbólicos acabam submetidos.
A miséria humana reside por um lado na inclinação inconfessada para a autodestruição. E, de outra parte, na hipocrisia discursiva em que professamos sonhos e desejos contrários ao sentido de nossas ações e omissões.
Por deboraligieri
Marco querido.
Há pouco lia um texto no portal da Fiocruz sobre a PEC 241 que se relaciona muito com o que você diz aqui (https://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/entrevista/essa-pec-e-o-caminho-mais-rapido-para-arrebentar-com-o-pais). Não há capital simbólico suficiente para sossegar a sanha rentista, que infelizmente é um movimento global. E por isso as política sociais estão sendo alvejadas neste momento: por seu poder transformador da sociedade. Agora, qual o caminho para mudarmos este panorama? O debate, como você propõe, é o primeiro passo nesse caminho.
Abraços,
Débora