Até a medicina baseada em evidências, fartamente nutrida pela estatística ( ferramenta científica questionável em alguns campos da saúde, notadamente em saúde mental ), questiona a eficácia do methilfenidato no tratamento das agitações na infância.
Imersas em um mundo acelerado pelo atravessamento de praticamente todas as atividades humanas pela tecnologia, crianças não poderiam ser calmas e tranquilas. Aliás, cabe perguntar se em algum outro período já o foram. Pede-se hoje a elas um funcionamento de “adulto em miniatura”: organização, paciência e obediência. Sem considerar que tudo isso é fruto de um investimento diário de pais, professores e sociedade na educação das crianças e que se trata de um processo civilizatório longo, penoso e, quiçá, para toda a vida.
Em meu trabalho clínico com crianças e adolescentes, por mais de trinta anos, venho acompanhando as evidentes mudanças sociais no papel que se atribui à infância e juventude e sua consequente produção de subjetividades afeitas ou não ao que delas se espera. Este tipo de evidência nem sempre é levado em consideração nas pesquisas baseadas em evidência, ou seja, a grande relevância dos estudos longitudinais e históricos para que se possa ter um distanciamento crítico em relação à realidade a ser pesquisada. Parece-me, infelizmente, que estamos diante de ferramentas e olhares demasiadamente rasos, rápidos e simplistas, prá não dizer o mais óbvio, sem cientificidade nenhuma.
E o que dizer então da questão ética? Uma criança me diz sentir-se presa em seu corpo quando toma a ritalina. Imediatamente lembro dos relatos que definem o efeito zumbi like da medicação. É preciso ouvir as crianças!!!