DIA DO SERVIDOR PÚBLICO
Não há o que comemorar. Temos que mudar. Sermos conectores do bem-comum da nova era.
Ontem à noite, participei do final do Curso de Comunicação da Associação Paulista de Saúde Pública (APSP).
Nos reunimos uma vez por semana na sede da APSP com aulas muito boas de Wilma Madeira, Ricardo Teixeira e à distância, do Rio de Janeiro, por causa do temporal que caiu sobre São Paulo quando ele veio para dar a aula, Thiago Petra. Foram temas instigantes, cada um deles com uma aborgem que me levaram a refletir muito, em todo o mes de outubro, sobre o papel da comunicação da e na saúde, nestes novos tempos com a Internet.
Éramos alunos de movimentos sociais, estudantes, servidores públicos, gestores, usuários do SUS, todos com algum interesse nesta panaceia que se tornou o tema da comunicação em saúde.
Tivemos um debate muito interessante, ontem, em roda de conversa, dialógica, em que o viés de origem pesava muito nas argumentações. Um exemplo prático de como é difícil conciliar tantos interesses de um SUS que deveria ser único, e como estabelecer esta comunicação democrática, em tempos de acirramento ideológico, em que o valor do bem-comum, ou do comum (que pode ser inclusive de negação do SUS) está sendo colocado.
Como servidor público do SUS, meu interesse na comunicação é gerar um “bem-comum”, relativizando a hierarquia do sistema, para que o poder seja dado para quem desenvolve a rede, em todos os seus níveis. Gestores, trabalhadores e usuários deveriam formar uma tríplice aliança, diluindo em suas caixinhas, os nichos de poder, dando abertura ao novo e ao diferente ou àquele que não teve a oportunidade de participar dos meandros burocráticos de cada caixinha de poder, mas quer produzir o “bem-comum”. Este “bem-comum” poderia ser realizado numa rede social de comunicação (uma mídia social de domínio público), uma rede que tenha uma direção clara, os princípios e diretrizes do SUS, diferenciando-se da lógica de mercado da mídia tradicional, que busca a inovação para valorizar um produto, uma corporação, um procedimento ou exame, em que predomina a competição que encarece a ideia de saúde como mercadoria, em detrimento da ideia de saúde como cidadania, saúde como relação de cooperação para o “bem-comum”, que poderia acontecer numa rede social de domínio público.
Para que isto aconteça, deveríamos insistir no desenvolvimento da ideia de CAPITAL SOCIAL no SUS, principalmente pela visão de Bordieu, mas é, mais uma vez, uma visão particular, de alguém que sonha um SUS diferente, antes do seu fim. Incomunicável.
Por deboraligieri
Evaldo querido.
Uma bela síntese do curso de comunicação, e das dificuldades que ainda temos para produzir uma comunicação baseada no estabelecimento de relações a partir da diversidade, e não viciada na concepções originárias de nossas posições como atores sociais da saúde.
O debate da aula me afetou bastante, principalmente por me sentir no lugar de fala do usuário do SUS, visto por muitos trabalhadores e gestores como aquele que “não sabe”. Mas nós usuários vemos também muitas vezes os trabalhadores e gestores como as pessoas que nos impedem o acesso à saúde. São as caixinhas que você menciona, ou os vários SUS: o SUS do usuários, o SUS dos trabalhadores, e o SUS dos gestores. Cada um sabe de um SUS que vivencia, e o diálogo entre esses conhecimentos é o que nos permite a construção colaborativa da saúde como um projeto comum, como um direito de todos e todas no Brasil.
Talvez esse seja um caminho para a reflexão sobre o questionamento da Wilma na primeira aula (https://redehumanizasus.net/95349-o-que-e-comunicacao-em-saude): mais do que possível e útil, é necessária uma comunicação dialógica na saúde, através da valorização de todos os saberes envolvidos na produção de saúde, como forma de dar concretude à saúde como direito e como construção social, e também como ferramenta de transformação social. A partir desse pressuposto democrático, trabalhar a comunicação não seria apenas colocar informações à disposição do público, mas produzir essas informações com o público. Acho que este seria o grande impacto para o imaginário da saúde nas diferentes mídias: a concepção da saúde e das políticas de saúde como algo próprio dos cidadãos, como construção coletiva, como produto de relações de composição entre os diferentes atores sociais, e não apenas de disputas de poder. A saúde como um direito universal!
Beijos,
Débora