Contribuindo para a diminuição da invisibilidade da saúde do homem na Atenção Primária – Cuidado Integral
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Busca por avaliação de próstata, disfunção erétil e demanda oculta de homens na Atenção Primária à Saúde [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2016. Tese de Antonio Modesto
Médicas e médicos de família e comunidade frequentemente atendem homens aparentemente assintomáticos que buscam avaliação da próstata, e percebem que muitos deles ocultam outras queixas, especialmente disfunção erétil – problema de grande interesse para homens e para a indústria farmacêutica. Como o rastreamento de câncer de próstata traz mais danos que benefícios, esses usuários se colocam sob risco de intervenções diagnósticas e terapêuticas questionáveis, com grande potencial de falsos-positivos e sequelas.
As Unidades Básicas de Saúde (UBSs) no Brasil, por sua vez, historicamente se dedicaram à população feminina, e seus profissionais frequentemente reproduzem estereótipos de gênero que contribuem para a invisibilidade dos homens nesses serviços.
O objetivo da pesquisa foi entender como a população masculina usa serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) e como expressa suas queixas, a partir do caso dos homens que buscam avaliação de próstata ou têm questões referentes a disfunção erétil (ou outros problemas de sexualidade). Buscamos identificar articulações entre esses problemas e a demanda por rastreio, bem como entender como os serviços (particularmente os/as médicos/as) lidam com demandas expressas e subjacentes. A pesquisa é qualitativa e os dados foram produzidos através de entrevistas semiestruturadas com 16 profissionais e 15 usuários maiores de 18 anos da Estratégia Saúde da Família em três UBSs em São Paulo e duas em Mauá – homens em cujas consultas surgiram questões sobre próstata, disfunção erétil ou outros problemas de sexualidade. Como técnica auxiliar, observamos os cinco serviços participantes, pautados por roteiro específico e registrando as observações em diário de campo.
A interpretação dos dados levou em conta os referenciais de gênero e construção social das masculinidades, além das noções de integralidade, prevenção quaternária e medicalização. A análise de conteúdo das entrevistas demonstrou como aspectos dos(as) profissionais se relacionam à forma como eles(as) percebem, acolhem e dão sentido às demandas dos homens, permitindo também apontar mudanças em curso. A observação dos serviços ajudou a identificar características de APS seletiva em UBSs mauaenses, favorecendo o desencontro entre as demandas e dificuldades dos homens e as ações oferecidas e idealizadas, e de uma APS mais abrangente nas UBSs paulistanas, que facilita a presença dos homens, mas nem sempre contempla questões de gênero.
Entre os usuários, identificamos a incorporação de discursos médicos envolvendo risco e cuidado em saúde, nomeamos fatores de entrada, facilitação e manutenção de sua presença na UBS e apontamos fatores relacionados à expressão de suas demandas, mostrando como essa expressão pode influenciar o cuidado recebido e mesmo colocar o homem sob risco de iatrogenia. Discutimos possibilidades de superar olhares reducionistas e estereotipados e abordagens prostatocêntricas e medicalizadoras da saúde masculina. Com isso, contribuimos à diminuição da invisibilidade dos homens, positivando sua avaliação e cuidado integrais.
Descritores: saúde do homem; masculinidade; próstata; prevenção quaternária; necessidades e demandas de serviços de saúde; disfunção erétil.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
A coluna “Consultório” traz ótimo artigo de 2018 de Antonio Modesto:
https://papodehomem.com.br/testosterona-o-que-e-e-o-que-fazer-quando-ela-esta-baixa-or-consultorio-2