OS PÁRA-QUEDISTAS ESTÃO CHEGANDO
Charge do Jornal O Povo – edição de 19/07/2008
Considerando o ano eleitoral em curso e todas as contradições que o mesmo desencadeia, trago uma reflexão humanizada para a rede, a respeito do tema e sua interface com o olhar da educação popular. Este artigo foi publicado em 2008 no Caderno de Opinião do Jornal O Povo, mas continua muito atual. Confiram.
Os pára-quedistas estão chegando
Por Elias J. Silva
Para a educação popular, a política é um caminho importante e transformador.
Em todo ano eleitoral é assim: junta-se a fome à vontade de comer. Candidatos oportunistas recebem salvo conduto de certos políticos eleitores que vêem nas eleições “um atalho para se darem de bem”. Com esta forma, que coloca os interesses pessoais acima dos valores coletivos, o espírito comunitário é rifado e a educação política é jogada na lata do lixo.
Surgem, assim, antigos e novatos cabos eleitorais que passam a transformar o voto em moeda de troca, estimulados por antigos e novatos candidatos que lançam valores monetários ao invés de valores éticos e humanos. As eleições se transformam num jogo do “toma lá, dá cá”, típico de uma cultura que submete o saber político, historicamente construído, à ignorância política de pobres eleitores manipulados e nefastos candidatos mal intencionados.
A falta de educação política desconstrói valores exatamente no momento singular da democracia que é o processo eleitoral. Os partidos e os seus nobres líderes não abraçam a educação política. Já a militância parece ter perdido o elo e o sentido da causa que, em passado recente, a levou a lutar.
A coisa mais abominável do processo eleitoral são candidatos sem causa e sem história que os referencie e a figura medíocre e despolitizada dos cabos eleitorais. A junção destes dois atores transforma as eleições numa ópera bufa.
Para a educação popular, a política é um caminho importante e transformador e, todo processo de escolha traz no seu bojo grande significado e aprendizado para a sociedade. Por isso, cabe ao educador popular problematizar e gerar reflexões acerca das atitudes cristalizadas, que não oferecem uma seiva na qual possa se vislumbrar mudanças de práticas.
Quem dera que a ignorância política não se travestisse de cabos eleitorais e que o processo eleitoral não fosse reduzido a uma zona de prostituição política. Quem dera que o voto dos cidadãos e cidadãs não fosse transformado em objeto de prostituição. Não seria assim – infelizmente será -, se houvesse educação política de fato. Somente por esta via da educação e do desenvolvimento humano, o cabo eleitoral deixará de reinar e dará lugar ao agente de educação política, capaz de fazer a defesa de um projeto ou de um conjunto de propostas, materializado no partido e no candidato que o representa.
Via de regra, os cabos eleitorais surgem da noite para o dia como grandes realizadores e líderes meteóricos, em detrimento do trabalho comunitário cotidiano, que de forma permanente é realizado com luta e desprendimento, por muitos homens e mulheres nas comunidades do meio popular. Existe outro tipo de cabo eleitoral que está no dia-a-dia da comunidade, com atos, práticas e obras assistencialistas que não educam para o sentido dos direitos e deveres da cidadania. Este modelo de cabo eleitoral é o mais nocivo, porque vai criando um vínculo de cabresto entre a população carente e o futuro candidato. A ignorância política faz com que a população não perceba que está sendo usada para fins eleitoreiros e financeiros do suposto agente filantrópico.
Esse círculo vicioso somente será superado com uma mudança de paradigma, a qual se possa identificar como círculo virtuoso da educação política, que pode ser construída pelos grupos e movimentos sociais, pelos cidadãos e cidadãs livres, numa visão de futuro do desenvolvimento humano.
Elias J. Silva – Educador Popular da Rede de Educação Cidadã, da ANEPS – Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde e, membro da COMOV – Comunidade em Movimento da Grande Fortaleza.