E a Orquestra Tocou Baião
Ouvindo Guerra Peixe*
Fui tomado por uma visão
Mozart na zabumba
Vivaldi no triângulo
E Bach no acordeom
Ali naquele palco
Tudo se convergia
Do sertanejo a alegria
O pulsar do coração
Atravessando a vaquejada
O mandacarú arremetia
No sol que chamejava
Nas claves e nas pautas
Da música tocada
Vi um Brasil possível
Síntese de tudo que é belo
Naquele encontro espantoso
Do sertão com o castelo!
(ERASMO RUIZ)
*Guerra Peixe (1914-1993) foi músico e compositor brasileiro com vasta produção, com especial destaque para a apropriação que fazia dos ritmos populares. Foi Também professor e pesquisador. A semelhança de tantos gênios brasileiros, sua obra é mais conhecida fora do Brasil com seu repertório fazendo parte de renomadas orquestras como a Sinfônica de Berlim. A peça do vídeo (Mourão) é o terceiro movimento de um quarteto de cordas, também com arranjo para orquestra, inspirada pela época que o compositor viveu no Recife. Mais informações sobre Guerra Peixe e sua obra acesse:
7 Comentários
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Por Erasmo Ruiz
Cara Iza
É música do Guerra que me sacode a alma, alma de sulista que vive há 16 anos no Ceará e que vai devagarzinho virando esse ser que é desse lugar e de lugar nenhum, um caipira do interiorrrrr de São Paulo que vai ficando meio cearense. Minha paixão pela música orquestral se fundiu com a paixão pelos ritmos nordestinos de raiz e dai o poema que perto da música de Guerra Peixe fica devidamente opaco. Bj do ERASMO
Conta-se que na década de 40, no Rio de Janeiro, um exuense tocava valsas e tangos em sua sanfona nas portas dos bares e “passava o chapéu” para ganhar uns trocados. Depois, em um bar, ao tocar para cearenses que perceberam seu sotaque nordestino, foi-lhe solicitado que tocasse coisas de sua terra, do seu pé de serra. Conta-se também, que, nessa noite, o pires que recolhia o “couvert artístico” transbordara já na terceira mesa. Foi assim que o Gonzagão, ex-militar não letrado, decidiu reconstituir sua memória musical e expandi-la pelo Brasil. O desfecho dessa história, claro, todos já sabem: o encontro com Humberto Teixeira, o sucesso do baião, a inscrição da cultura nordestina na música popular brasileira. Talvez tenham outras versões para essa história. Esta é de um livro que já não tenho e que li há algum tempo de autoria de Dominique Dreyfus, mas creio que a essência deve ser a mesma.
O trabalho de Guerra Peixe, o seu poema, o vídeo: o zabumba e o triângulo tão harmonicamente incorporados! Emocionante!
“De onde é que vem o baião?
Vem debaixo do barro do chão
De onde é que vêm o xote e o xaxado?
Vêm debaixo do barro do chão
De onde vêm a esperança, a sustança espalhando o verde dos teus olhos pela plantação?
Vêm debaixo do barro do chão”
É tão bom abrir a rede e deparar com histórias descontraídas como esta de Erasmo, e Jacqueline no mesmo embalo, retirando do nosso rosto o ar, às vezes pesado, triste, por ler tantas histórias de sofrimento , em busca de solução
Me fizeram lembrar da minha infãncia e adolescencia, quando, ainda madrugada, meu pai ligava o seu rádio pra ouvir Tonico e Tinoco, Luís gonzaga, moreno e moreninho e tantos outros. e em algumas vezes me colova na sala pra tocar no acordeon, Saudade do Matão, Luar do sertão.Do "jetio" que eu ouvia, já que não havia escola naquela época, no interior. Pena que ficou no passado.
Belos poemas´, inesquecíveis histórias
Erasmo e Jacqueline
Abrços
Nercinda
Querida Nercinda,
novamente imagino você sentada na cadeira de balanço da nossa tenda contando suas histórias. Quem sabe um dia, não? Enquanto isso não acontece, você conta e encanta por aqui, no balanço dessa rede!
Fez-me lembrar da história contada por seu Geraldo, um senhor que mora aqui na zona Norte. Ele conta que andava quilômetros a pé para ouvir música no rádio do compadre Antonio, o único que tinha um rádio nas redondezas; era lá que todos se reuniam à noite e escutavam fascinados a voz forte de Luiz Gonzaga : em torno de um velho rádio da marca ABC.
Beijos,
Jacqueline
Por patrinutri
Quanta poesia, quanta sensibilidade!
O que é viver se não tocar a vida com a essência e deixar-se tocar pelo que se vive?
Hoje me senti mais viva e mais Brasileira, numa fusão de muitas culturas, numa miscigenação que não se faz só presente na cor das pele, mas nos ritmos, na arte, nas múltiplas formas de vivência.
Lembro também dos sabores que vem junto com a música, da vontade de comer um baião de dois, uma carne de sol sei lá o que me abrir o apetite e me fizer salivar de desejo por incorporar esta riqueza de cultura e vida.
Como diz Nercinda, seu post e os relatos da Jacque se completam dando um sabor exótico a vida que o mundo contemporâneo insiste em tentar uniformizar com a massificação do capitalismo desenfreado.
Que maravilha transcender pela arte e com a ajuda dos amigos,
Obrigada Erasmo!
Bjs Patrícia
Por Erasmo Ruiz
Principalmente a partir do seculo XIX, um dos papéis da música foi de criar esse sentido de identidade nacional. Aconteceu no mundo todo, aconteceu no Brasil já no fim da colônia quando padres mulatos em Minas Gerais, Rio e Recife fundiam a harmonia neoclássica que vinha da Europa (ao som de Haydn e Mozart) com o ritmo dos tambores dos escravos, construindo um barroco tardio que é só nosso! Da mesma forma que anjos com características negroides eram pintados e esculpidos nas igrejas, a música ia tendo uma marca nossa. Depois, coube a gente como Nepomuceno, Carlos Gomes, Vila Lobos e Guerra Peixe a cconstrução de um Btrasil a partir da música, criando verdadeiros mosaicos de sons, cantigas, batuques, modinhas, enfim, tenho sensações muito parecidas com as suas. Em meio as nossas regionalidades nos descubrimos acima de tudo brasileiros e, depois, cosmopolitas! Deixo outra peça maravilhosa, dessa vez de Oscar Fernandez (outro que se apropriava dos congos, reizados e pastoreios). A peça se chama batuque, interpretada aqui pela Orquestra Sinfôniica do Estado de São Paulo (OSESP). Ah, e quem fez a estrutura da orquestra sinfônica que conhecemos hoje foi um compositor Francês chamado Berlioz por volta de 1835. Viva a mistura!!!!
Bj do ERASMO
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Erasmo,
Vc tá inspirado, heim? Quantos belos poemas!
bj da Iza