“Existe somente uma idade para a gente ser feliz. Somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos (…) Essa idade, tão fugaz na vida da gente, chama-se presente”. Tal fragmento, retirado do poema Idade de Ser Feliz– de Geraldo Eustáquio de Souza – vai de encontro ao que é imposto pela sociedade. Isso porque, nos dias atuais, parece que o ser humano passou a ter um prazo de validade. Tal como os aparelhos celulares que se tornam obsoletos em pouco tempo, por exemplo. Infelizmente, em função do cansaço cotidiano e das pressões sociais, as pessoas acabam acreditando que realmente são “muito velhas” para realizarem os sonhos que carregam dentro de si.
As pressões sociais, não raro, são as principais responsáveis pela imposição de um prazo de validade aos seres humanos. Tal fato ocorre, porque uma parcela considerável da sociedade acredita que tem o direito de impor diretrizes aos outros. Tais como a “obrigação” de, até os 30 anos, ter total estabilidade emocional e financeira, ter casa própria e ter filhos, por exemplo. Tais obrigatoriedades absurdas têm a capacidade de fazer com que o indivíduo – caso queira satisfazer ao que é imposto pela sociedade – perca saúde mental e, consequentemente, saúde física. É claro que podem existir indivíduos que, antes dos 30 anos, sintam-se completamente realizados. Entretanto, fazer dessa situação uma regra geral é um profundo ato de desonestidade.
Cada indivíduo é um universo único. Dessa forma, não há como comparar histórias e trajetórias diferentes. Assim sendo, a sociedade não tem o direito de impor prazos de validade aos indivíduos. Por isso, leitor, se alguém te disser que tu és muito velho (a) para desempenhar determinada atividade, não dê ouvidos. Assim, automaticamente, não correrás o risco de te expor a uma carga prolongada de stress e, consequentemente, ganharás saúde mental e física. Segundo a Dra. Marilda Novaes Lipp – cientista, escritora e psicóloga – quando o stress é prolongado, ele afeta diretamente o sistema imunológico do indivíduo. Além disso, o ser humano cronicamente estressado apresenta cansaço mental, dificuldade de concentração, perda de memória imediata e apatia.
Os seres humanos, portanto, não são objetos ou mercadorias. Em razão disso, a imposição de um prazo de validade ao ser humano se evidencia como uma atitude desonesta. Isso porque cada indivíduo possui características e habilidades específicas. Além disso, cada ser humano tem seu ritmo próprio. Dessa forma, ninguém precisa se sentir obrigado a cumprir as diretrizes insanas impostas pela nossa sistemática social doentia.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
olá Anderson,
Vou fazer sessenta e dois anos na semana que vem. Portanto teu post me toca profundamente.
Interpretei a frase retirada do poema de outra forma. Veja se é possível pensar assim: se é o tempo presente que permite que sonhemos e façamos planos, então todos podemos fazê-lo, jovens ou velhos. Pois todos vivemos o presente, não há como viver o passado ou o futuro, pelo menos quando se leva em conta que a flexa do tempo aponta prá uma direção, ou seja, o tempo é irreversível. Falo da experiência material, biológica com o tempo. De outros pontos de vista, o tempo pode ser uma mistura de todas as dimensões, passado, presente e futuro, como na arte, por exemplo.
Sinto a materialidade da diminuição das potências do corpo que advém com a idade, mas ao mesmo tempo um aumento das potências incorporais ou imateriais do espírito. Tenho agora uma perspectiva infinitamente mais rica na percepção do mundo e da vida. Sou afetada de forma muito mais complexa por tudo aquilo que se passa à minha volta.
Por outro lado, é bastante possível passar ao largo, construir linhas de fuga das formas tradicionais e mortíferas de olhar para a passagem do tempo que certos modos de vida tentam nos impor como “natureza”, ou seja, algo inexorável e igual para todos. Aliás, a natureza mesma foge por todos os lados desta visão paralisante.
Tenho muitos planos e principalmente desejos que me movem intensamente em direção da afirmação de mais vida.