A diferença (étnica, cultural, de gênero, sexual, economica, social, etc) no SUS e a formação em saúde.
A diferença (étnica, cultural, de gênero, religiosa, econômica, social, etc), tem se tornado tema importante no campo de formulação de Políticas Públicas, nos últimos anos, graças à movimentos sociais identitários que têm posto em debate a necessidade de se produzir imagens e significados novos e próprios a seu respeito como forma de combate aos preconceitos e estereótipos que embasam sua inferiorização.
Na área da saúde, foram elaboradas políticas nacionais para grupos como os povos indígenas, as pessoas portadoras de deficiência, a população LGBT e os povos do campo, da floresta e das águas, com o intuito de superar as desigualdades e eliminar as discriminações nas ações e serviços de saúde. Isto, pois, entende-se que reconhecer as particularidades destes segmentos populacionais e oferecer-lhes um cuidado adequado às suas especificidades é um ato necessário à consolidação do SUS como um sistema universal, integral e equânime.
Mas como estas políticas vêm se efetivando?
No cotidiano do trabalho no SUS, há espaço para a diferença (étnica, cultural, de gênero, sexual, religiosa, econômica, etc) e cuidado para com ela?
Os profissionais da saúde têm um olhar sensível para promover e proteger a saúde de grupos específicos e socialmente marginalizados ?
É possível um SUS para todos sem considerarmos as especificidades de grupos e pessoas?
Estes questionamentos podem incentivar inesgotáveis discussões, mas a pretensão aqui é, tão somente, propôr reflexões sobre como as diferenças vêm sendo consideradas, estudadas e cuidadas por todos nós, com ênfase para a sua importância na formação profissional, por entender que a formação é um eixo importantíssimo da construção de novas práticas.
Meu interesse sobre o tema tem surgido com a experiência como psicóloga na Residência Multiprofissional em Atenção à Saúde Indígena HU/UFGD, onde tenho observado e vivenciado o cotidiano do trabalho no SUS e visto que são muitos os impasses a serem superados para a efetivação de um cuidado humanizado e acolhedor para todos, em suas particularidades.
Penso que ainda precisamos avançar neste sentido e que uma formação profissional sensível às diferenças e singularidades possa contribuir para práticas também atentas às necessidades de grupos populacionais como os supracitados. Para além, entendo que uma formação em saúde nestes moldes pode ser um caminho para fortalecer a democracia no setor saúde, de modo a garantir à todos o direito de serem iguais, quando a diferença for inferiorizante, e também garantir o direito de as pessoas serem diferentes, quando a igualdade for descaracterizante, como bem sugere Boaventura Souza Santos.
A Residência Multiprofissional em Atenção à Saúde Indígena HU/UFGD, assim como outros cursos espalhados pelo Brasil, é uma iniciativa de atentar para as especificidades de uma população historicamente marginalizada e destituída de seu direito à saúde, pois teve sua cultura subjugada, seus costumes e hábitos desconsiderados, suas terras tomadas e vidas dizimadas por mais de 5 séculos. É um caminho de construção de práticas de promoção e recuperação da saúde destes povos.
Há alguém com experiências formativas que seguem o mesmo propósito? Compartilhe-as aqui!!!
(Este post é uma tarefa solicitada pela professora Cátia Paranhos na disciplina SUS da Residencia Multiprofissional em Atenção à Saúde Indígena HU/UFGD)
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Olá Bruna, como vai?
Teu post mostra a delicadeza de análise de uma questão que atravessa os modos de viver hoje e não só no campo da saúde. Talvez a questão já se colocasse antes, mas não de forma tão emergente como agora. Parece que aguçar o olhar para respeitar as diferenças é A tarefa.
AbraSUS!