Rede no Berço: acolhendo as diferenças culturais
De acordo com o Sistema Único de Saúde, todo cidadão tem direito de receber atendimento com qualidade, respeitando as suas diferenças sócio-ambientais. Direito esse, potencializado pela Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, publicada em 2006.
Neste sentido, todos os cidadãos devem ter acesso aos serviços de saúde compatíveis com as suas necessidades, levando em consideração o contexto sócio-cultural no qual está inserido. Isso impõe uma intervenção em saúde individualizada, respeitando as singularidades de cada sujeito, tratando de forma diferente os diferentes.
Pensando assim, o Hospital Infantil Lucídio Portella sediado em Teresina, em 20 de março de 2004 implantou a ação "Rede no Berço". A iniciativa tem como objetivos: possibilitar a melhoria do acolhimento das crianças que têm a cultura de dormir em rede, bem como, propiciar a preservação da cultura das crianças advindas de outras áreas, sobretudo, as de etnia indígena.
Nas enfermarias do Hospital, cotidianamente, era observada pelos profissionais, um número expressivo de crianças que apresentava dificuldades de adaptação ao berço, pela falta do hábito de dormirem em colchões, o que produzia mal-estar nas mães/acompanhantes, pelo desconforto de terem que ficar várias noites sem dormir, acalentando o filho no colo.
Tal realidade direcionou algumas dessas mães a pedirem alta médica e, até mesmo, a fugirem do hospital com o filho(a), sem conclusão do tratamento.
A iniciativa foi motivada através da percepção de uma mãe que improvisou uma rede no berço do filho, usando um lençol do tipo "camacolo", porém sem obter o sucesso desejado, pela inadequação do tecido para essa finalidade.
A idéia foi discutida com a equipe do serviço de costura do Hospital, na busca de uma solução adequada, oportunidade em que foi pensado a utilização de um tecido especial com uso de cantoneiras, para adaptação ao berço, dando a idéia de rede, surgindo assim o projeto "Rede no Berço". As redes são confeccionadas com medidas diferenciadas, conforme o modelo de cada berço e são disponibilizadas de acordo com as demandas.
Como resultados alcançados, destacam-se: a humanização do atendimento nas enfermarias; o aumento do grau de satisfação dos pais/acompanhantes e a redução do pedido de alta médica desses sujeitos.
A rede no Berço além de possibilitar uma melhor acolhida às crianças que têm a cultura de dormir em rede, tem garantindo o respeito às diferenças culturais, produzindo assim o protagonismo desses sujeitos.
Esta iniciativa encontra-se disponível também, no site do Governo do Estado
do Piaui e no site da FUNASA.
35 Comentários
Faça login para comentar e recomendar este post a outros usuários da rede.
Por Ricardo Teixeira
Ao menos dessa vez, a "rede" em questão é realmente uma rede de deitar! 🙂
Mas só pra deixar mais evidente que são mesmo sempre as redes que sustentam nossos corpos…
Emocionante essa notícia, Emília.
Em poucas linhas, você nos conta muita coisa e nos fala das muitas redes que se formaram no hospital para que esse projeto pudesse emergir, das múltiplas trocas de conhecimento, movidas pelo interesse e respeito à necessidade do outro, que tiveram que se dar para que esses bebês pudessem, afinal, "balançar"…
Parabéns a todos que ajudaram a tecer essas redes!
Ricardo
Muito interessante essa iniciativa.
Um grande exemplo de busca de
alternativas para a melhoria do
bem-estar geral dos nossos pacientes.
Parabéns!!!
Querida Emília,
Esta ação em prol da satisfação das famílias e conforto das crianças é um exemplo claro do que pode ser feito de acolhimento e aproximação com as necessidades e modos de vida das pessoas. Quando há o respeito e a escuta ao outro como legítimo outro, geram-se benefícios. Mas sabemos que reinventar este cotidiano é desafiador. Parabéns por seguirem em frente desconstruindo modos cristalizados e ampliarem a participação do usuário na melhoria das condições de sua estada no hospital.
Abraços
Annatália
Oi Annatalia,
Obrigada pelo carinho, pelo apoio e pelo
reconhecimento do nosso trabalho.
Um abração!!!
Emília
Por maria jose
Como o próprio título sugere "Rede no berço". É um artigo rico em informações pelo fato de iniciar fazendo referências aos direitos do cidadão quanto às suas diferenças culturais. Uma idéia simples até então desvalorizada.
Você está de parabéns pelo resgate de valores que contribuem para uma boa qualidade de saúde e valores são sinônimos de respeito , a interpretação do sentimento supremo – Amor.
Maria José
Oi Maria José,
Obrigada pela demonstração de carinho e parabenizo-lhe
também, pelo excelente trabalho, bastante humano, que
vem desenvolvendo à frente do Pró Infantil.
Beijos!!!
Emília
Por Claudia Abbês
Claudia Abbês
Emília querida
Que bela notícia! Parabéns pelo trabalho e por insistir ,e persistir, na aposta de fazer balançar a rede … em rede. Bjs saudosos.
Oi Claudia,
Que saudade menina!
Você também, com o seu trabalho, é um belo exemplo
de luta, de persistência pela garantia de uma saúde pública
resolutiva e acolhedora.
Obrigada pelo carinho e votos de um feliz Natal e
um Ano Novo com muita saúde, com grandes
realizações e acolhimento.
Beijos!!!
Emília
Parabéns, Emília!
Idéia fantástica! Sucesso para o projeto!
josette.
Oi Josette,
Seja bem vinda à rede humanizasus!!
Obrigada pela atençao!!!
Beijos!!!
Emília
Nossa, que interessante essa iniciativa!
Obrigado pela matéria Emilia.
Vou encaminhar para alguns amigos que estudam as questões étnicas e de atendimento médico-familiares.
Oi Zebozi,
Eu que agradeço a você pela atenção!
Fale para o seu amigo, que estou à disposição
para qualquer informação sobre a nossa iniciativa.
Abraços!!!
Emília
Oi gente,
Fiquei sabendo de uma experiência do uso de rede
para tratamento de bebês prematuros numa UTI
numa cidade em Minas Gerais. Achei super interessante!
Se alguém tiver alguma informações sobre os
resultados dessa experiência, por favor, nos informe,
pois temos interesse em conhecê-la melhor.
Desejo a todos os leitores dessa matéria, um Feliz
Natal e um Ano Novo exitoso.
Emília
Oi pessoal,
Na semana passada, surgiu no nosso Hospital uma outra
demanda da "rede no berço".
Foi até hilário, chegar numa das enfermarias e encontrar uma
rede comum amarrada, pra não dizer, retorcida, no berço e a criança dentro, quase sem abertura para respirar.
Essa criança tem a cultura de dormir somente em rede e, como
as redes do tamanho G não haviam sido encontradas, a sua
mãe, por iniciativa própria amarrou a rede no berço da filha.
Ao tomar conhecimento, a equipe de costura do Hospital entrou
em ação e providenciou umas redes compatíveis com o berço
e lá estã a criança na sua rede, muito feliz e sua mãe mais ainda.
Tal realidade nos deixou muito sastifeita por ver a mudança
de atitude dos profissionais com relação ao cuidado dos pacientes.
Pois se fosse noutro contexto, talvez a rede tivesse sido
retirada simplesmente, sem resolver o problema da criança.
Isso é um grande exemplo de acolhimento na atenção!!!
Um abraço pra todos!!
Emília
Querida emília, saudades de você. Parabéns e força neste trabalho de aposta na dignidade e respeito com a vida. Beijoca, Ana Heckert
Oi Ana,
Você é uma das minhas referências nesse processo
de construção de uma saúde pública digna e humana.
Também tenho sentido saudades dos nossos contatos.
Espero poder revê-la muito em breve nessas "caminhadas" da
HumanizaSUS.
Um grande abraço com votos de um Ano Novo
com grandes realizações!
Emília
Por Eduardo Passos
Em que redes nos sustentamos? Muito interessante a matéria postada por Emília. Do Piauí recebemos o relato de uma experiência de HumanizaSUS. A experiência do SUS que dá certo é descrita de maneira a garantir não só a sua divulgação como tb e, sobretudo, permitindo a sua multiplicação. Esta é, de fato, a importância da RHS, esta outra rede, na qual estamos não só para nos embalar, mas sim para dar sustentação a experiências que precisam ser discutidas, criticadas quando for o caso e multiplicadas quando o Coletivo Ampliado da PNH entender tratar-se de uma experiência de humanização do SUS.
Parabéns aos compas do Piauí!
Oi Eduardo,
Que coincidência! Hoje mesmo, numa roda de discussão
do GTH do HILP, fizemos referência a uma citação sua e da
Regina Benevides, em que analisam o GTH como um "motor que
faz pensar e propor em cada serviço, qual é o SUS de todos
e para todos que queremos construir". Lembra? Gosto muito
dessa citação de vocês.
Obrigada pela atenção!
Um grande abraço!!!
Emília
Parabéns Emilia pelo trabalho, ficamos orgulhosos em saber que o nosso estado e principalmente a nossa rede de saude pode desenvolver um trabalho com eficácia no acolhimento aos nosssos iguais diferentes livres do pre-julgamento, isso e prestar saude ,isso e ser HUMANO
LOURIVAL OLIVEIRA
Teresina Piaui
Lourival e Raimunda,
Obrigada pelo carinho! Vocês também estão de parabéns
pela construção de redes entre o coletivo da MDER.
Muito sucesso nessa iniciativa de vocês.
Um grande abraço!!!
Emília
Parabéns, Emilia !
A sua experiência Rede no Berço, acolhendo as diferenças culturais,
já é exitosa no processo de humanização da atenção em saúde no HILP.
Um abraço,
Amparo
Oi Amparo,
Seja bem vinda à também rede humanizaSUS
e obrigada pela atenção!!!
Abraços!!!
Emília
Por Luciane Régio
Emília! Sem dúvida as singularidades, as diferenças, norteando a atenção no SUS é um grande avanço!!
Existe gente fazendo de seu cotidiano uma experimentação da vida de cidadania, de direitos, dando visibilidade para as diversas culturas, jeitos de viver…
Abraço-alegre,
Lu
Um sono tranquilo na rede
Ola Emilia tudo bom? Bem estou produzindo uma matéria sobre a Rede Humaniza SUS e acompanhei este seu post, achei bacana mencioná-lo na matéria.
Quem criou este projeto Rede no berço?
Você trabalha ou trabalhou neste hospital no Piauí?
O Projeto ainda existe?
Você sabe se depois que você compartilhou esta ideia aqui na rede ela foi aplicada em outras unidades de saúde do país? Se sim. Em quais?
Emília obrigado e conforme eu obter essa resposta a gente vai se falando… Porém precisaria o q
Ola Emilia tudo bom? Bem estou produzindo uma matéria sobre a Rede Humaniza SUS e acompanhei este seu post, achei bacana mencioná-lo na matéria.
Quem criou este projeto Rede no berço?
Você trabalha ou trabalhou neste hospital no Piauí?
O Projeto ainda existe?
Você sabe se depois que você compartilhou esta ideia aqui na rede ela foi aplicada em outras unidades de saúde do país? Se sim. Em quais?
Emília obrigado e conforme eu obter essa resposta a gente vai se falando… Porém precisaria o quanto antes do seu depoimento, pois preciso entregar esta matéria até terça-feira, 29.10 ás 15h
Obrigado!
Olá Bruno,
Obrigada pela visitação e escolha da nossa iniciativa para citação na sua matéria.
Este projeto foi criado por mim, a partir da percepção da dificuldade de algumas crianças na adaptação do uso do berço no hospital, principalmente as de etnia indígena.
Nos estados nordestinos, e no Piauí não é diferente, existe uma forte cultura de dormir em rede. E até bem pouco tempo, fazia parte do enxoval do bebê, principalmente os da zona rural, uma redinha para o seu repouso diário.
Sou Assistente Social e Coordenadora do GTH, em exercício, no HILP.
A iniciativa da rede no berço ainda existe, e sempre que surge alguma criança com rejeição ao berço, a rede é disponibilizada. É verdade, que nos últimos anos, a cultura de dormir na rede tem sido menos frequente entre os nordestinos.
Quanto ao implemento do uso da rede em outras unidades de saúde, desconheço a existência de relatos de experiências antes de 2004, ano de implantação do nosso projeto. Somente a partir desta data, e muitos anos depois, é que tomei conhecimento dessa prática em outros Estados, como Cuiabá-MT, Santa Maria-RS e em Maceió. Por este motivo, acredito que a nossa iniciativa provavelmente tenha influenciado esses estados na implantação do uso da rede nas UTIs Neonatais, como forma de proporcionar mais tranquilidade e conforto às crianças em tratamento nessas unidades, o que sem dúvida ajuda na terapia delas.
Deixo alguns links de posts publicados na RHS e de matérias publicadas no site do governo do nosso Estado, sobre o assunto.
https://www.youtube.com/watch?v=tnne_rFYnro&hd=1
https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/08/bebes-prematuros-sao-colocados-em-redes-dentro-das-incubadoras-no-rs.html
https://www.saude.df.gov.br/noticias/item/3741-uti-neonatal-do-hrsm-realiza-tratamento-com-mini-rede.html
https://redehumanizasus.net/12349-um-encontro-com-os-indigenas-em-barra-do-corda-ma-um-dispositivo-de-mudancas-no-hospital
https://www.piaui2008.pi.gov.br/materia.php?id=11375
https://www.piaui2008.pi.gov.br/materia.php?id=11398
Um abraço!
Emília
Olha eu aqui outra vez. Bem Emília, você acredita que depois que você postou este projeto aqui na rede outros hospitais e Unidades de Saúde adotaram a ideia, e que ela surti efeito significativo no tratamento de bebes prematuros ou não.
Oi Bruno,
Respondi todas as suas perguntas no comentário logo abaixo
Emília
vai direto prá crônica desta semana recheada pelos agenciamentos em rede em vários posts!
obrigada pela idéia para o mote da crônica!
bjs,
Iza
Querida Iza,
Eu é que agradeço pela atenção e o apoio sempre disponível!
Bjs!
Emília
Por Jussara Aquino
Parabéns pela iniciativa…Sou de Dourados-MS, sou Residente do HU-UFGD, presenciei um fato semelhante a esse, de uma mae indígena, que logo ao chegar no hospital onde trabalho, fazer uma rede dntro do berço para seu filho pequeno dormir , ela me disse que seu filho tinha dificuldades de se adaptar ao berço.
Por Larissa Placeres
Parabéns pela iniciativa! Orgulho em saber que as diferenças culturais não só são respeitadas, como também são valorizadas e inseridas nos hospitais!
É muito bom ver iniciativas desse tipo vindo da equipe de profissionais do hospital, que foi capaz de identificar a demanda e encontrar uma solução eficaz. É de extrema importância considerar aspectos de cunho cultural de determinadas populações, pois estas fazem toda a diferença no momento do atendimento. Parabéns pelo programa Rede no Berço!
Por Thiago Henrique de Sousa
Parabéns pelo projeto! São ações como essas que fazem a diferença na qualidade do atendimento dos pacientes hospitalizados.
Thiago Henrique