Caps Tauá: O lugar onde uma outra saúde mental acontece!
Você já ouviu falar em Santo Antônio do Tauá?
Certamente não, e mesmo que procure nas redes sociais vai encontrar seu homônimo no nordeste brasileiro, cidade de características industriais, bem distante da realidade que será apresentada aqui.
Falo de uma cidade do interlan paraense. Localizada a 56 km da capital, Santo Antônio do Tauá tem hoje aproximadamente 30.000 habitantes, cuja principal característica é a agricultura familiar e sazonal, ficando seu humilde povo, como em tantos outros municípios restrito a emprego temporários na administração pública e benefícios sociais.
Se fosse somente isso seria apenas mais uma pequena cidade do nosso país.
Terra que um dia foi considerada como a cidade dos igarapés, guarda na etimologia da palavra Tauá um importante significante. “Barro amarelo” comumente utilizado nas olarias e na cerâmica dos tempos da fundação desse lugar.
Todavia o que difere essa cidade de qualquer outra é seu recente cenário político. Nos últimos anos instalou-se uma atmosfera de instabilidade que ao fim de 04 anos totalizou 13 (treze) sucessões na administração pública local, seguidas de todas as mazelas possíveis.
Foram meses de crise da cidade com repercussões até hoje observadas, não somente na economia, mas sobretudo na saúde de seu povo, não havendo portanto registro ou precedentes na história do Brasil de um território que tenha sofrido tamanho desatino.
Como então fazer saúde pública em um solo tão inóspito?
E o que dizer da saúde mental, ainda hoje objeto antropológico da discriminação e preconceito?
Desde sua emancipação, as pessoas com sofrimento psíquico eram obrigadas a se deslocar até Belém para ter acesso a cuidados, em grande parte já em crise em função da inexistência de recursos para acolher essa demanda no território, porém há 06 anos foi implantado o Caps Tauá, possibilitando cuidados no próprio território do usuário e sua rede social.
Com um pouco mais de um ano de funcionamento, foi inserido no olho do furacão político local dadas as inúmeras sucessões já referidas.
Em um cenário de ameaças e insegurança, encontramos no Projeto Percursos Formativos na Raps e principalmente na Política Nacional de Humanização uma forma de reagir e assegurar a sobrevivência do cuidado.
Como uma aposta ética, estética e política, a partir de uma oficina de sensibilização, implementamos a PNH no Caps Tauá e elegemos o GTH como dispositivo matricial para dar motricidade ao trabalho.
Incluindo todos os diferentes sujeitos, de crianças e idosos a usuários de álcool e outras drogas, subvertemos o modelo de atenção psicossocial reproduzido em escala no país, através do simples reconhecimento da alteridade do outro, seus desejos e suas escolhas, sendo neste contexto que se dá o nascimento do Projeto Terapêutico Humanizado (PTH), que nada mais é do que a atitude de não utilizar o suposto saber e poder para tutelar o outro ao desejo da ordem social, mas sobretudo lhe dar voz para exercer seu protagonismo e exercer sua cidadania de verdade.
Em um ambiente extremamente hostil, permeado pelo desamparo institucional, em meio ao nada, foi possível criar e sobreviver.
Hoje o Caps Tauá é não somente um centro de atenção psicossocial, ele é o coração do Tauá, lugar cuja principal luta é por assegurar direitos fundamentais para construção de projetos de vida mais humanos e impactantes, onde todos os dissidentes sociais têm um lugar para ser e existir.
Sustentado sobre os princípios da PNH, estamos fazendo história, ainda que no contrafluxo, vamos aos poucos avançado.
Recentemente, em um encontro estadual, onde fui convidado para apresentar essa experiência como em outras oportunidades na história recente pelo país, fui carinhosamente chamado por uma colega psicóloga de subversivo.
A subversão aqui é justamente de um modelo cuja própria história vem nos indicando ser um caminho para o assujeitamento do outro e assim impossibilitando a sua real liberdade e que vem contribuindo sobremaneira para o avanço das forças manicômiais em nosso país.
O que fizemos foi pegar simbolicamente o barro amarelo e incluir todos no trabalho de moldar como faz um artesão seu vaso de cerâmica, o caps que queremos e assim vem sendo feito em um lugar onde uma outra saúde mental acontece.
Por Emilia Alves de Sousa
Oi Paulo,
Primeiramente dizer-lhe da alegria pela sua chegada à rede com esta linda postagem. Segundo, que não conheço Tauá, mas já estou com vontade de conhecê-la e ver de perto essa experiência exitosa do CAPS, que mostra um modo diferenciado de produzir saúde mental, valorizando a inclusão e a cidadania de todos os sujeitos, “onde todos os dissidentes sociais têm um lugar para ser e existir.” Se fazer diferente, assumindo um compromisso ético-politico com a vida do outro, em meio a um cenário caótico como o relatado, é ser subversivo como disse sua colega, então viva a subversão!
Fiquei curiosa para saber mais sobre o CAPS de Tauá, qual a média de usuários atendidos por dia? Como é que é a adesão deles ao tratamento?Eles participam de atividades fora do muro do CAPS?
Aqui você vai encontrar outras experiências exitosas na saúde mental/CAPS e compartilho algumas!
https://redehumanizasus.net/89645-caps-ii-nossa-casa-uma-visao-alem-da-teoria/
https://redehumanizasus.net/75955-mais-um-video-que-conta-sobre-o-hotel-e-spa-da-loucura-no-nise-da-silveira
https://redehumanizasus.net/86379-servicos-organizados-de-inclusao-social-sois-festejam-9-anos-de-atendimento-em-joinville
https://redehumanizasus.net/96245-empoderamento-e-cidadania-um-de-lirio-possivel/
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Emília