A corrupção nas instituições do Estado brasileiro jamais foi um segredo. Do final do regime militar, do escândalo da mandioca, passando pelos governos Sarney, Collor, FHC, Lula, Dilma a imprensa sempre denunciou a corrupção de acordo com seus interesses.
Não é possível que um chefe de redação e os setoristas que realizam a cobertura do executivo, legislativo e judiciário não conhecessem as sombras do sistema que habitavam até às vísceras. Assim, a operação lava-jato é mais um capítulo na história do uso do moralismo para manipular e contornar o sistema democrático.
A questão não formulada, nesses e em outros casos históricos, é o que não está nas manchetes da grande mídia brasileira.
O que precisa aparecer são os trilhões de dólares que o dinheiro da corrupção compra.
Os EUA são o país que detém a maior dívida pública do mundo. Ainda assim, vão gastar 800 bilhões de dólares em seu complexo industrial militar em 2018. É um grande senso comum a ideia de que a América faz sua riqueza a partir de sua habilidade inata para o sucesso. É algo tão entranhado no imaginário Yankee que a maior ofensa por lá consiste em ser rotulado como perdedor. O natural na cabeça do americano médio é vencer.
Desconsideram que toda vitória, segundo sua ética protestante, implica na existência dos derrotados. E, principalmente, na ocultação de que os derrotados pagam a conta. Dos nativos indígenas, aos escravos africanos, passando pelo lucro com as grandes e pequenas guerras, toda a riqueza americana é fruto da esperteza para lucrar com o “erro” e a desgraça de outros povos.
A corrupção dos agentes públicos, juízes e políticos inclusive, mas não só deles, garante o acesso do império as riquezas de nosso país. Então, temos a pergunta óbvia jamais formulada: – O que a corrupção compra e sempre comprou? Ora, a corrupção compra lucro e controle. Se isso não está a venda, entram em cena a chantagem, a extorsão e a sabotagem.
De fato, não somos uma nação independente, especialmente desde o golpe. O trabalho da operação Lava Jato caracteriza uma operação de inteligência e infiltração que colocou o Brasil de joelhos no cenário internacional. A possibilidade de articulação das nações em desenvolvimento, como nos BRICS, foi atacada pela ameaça que ela significava para o jogo geopolítico das superpotências.
Na América Latina observa-se um tipo de engenharia social, similar ao que ocorre no Oriente Médio. A diferença reside no fato de que os nossos Estados são sabotados internamente. Os vemos apodrecer de dentro para fora. No oriente médio, nações criadas artificialmente, retalhos de antigos impérios milenares, se destroem mutuamente para que sua maior riqueza natural possa ser saqueada pelas grandes potências econômicas e militares do resto do mundo.
O fenômeno da corrupção desvendado no Brasil é exatamente igual ao que existe em todo o resto do mundo. A quebradeira de 2008 mostra que a pilantragem está tão perfundida no tecido social norte americano, quanto no Brasil, na Colômbia, Rússia ou China. Mesmo com a pena de morte, onde controle social generalizado ou as liberdades democráticas não existem, a corrupção, maior ou menor, é onipresente.
A única diferença é que no Brasil um moralismo vira latas permitiu a destruição da soberania nacional. Nós discutimos nas ruas sobre um roubo de malotes de dinheiro enquanto um governo ilegítimo entrega toneladas de recursos naturais ao império internacional. É como dizer, não leve meu relógio, leve minha casa.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Tempos terríveis em todas as searas da vida nacional e internacional. Mas as resistências cavam seu espaço com forças inauditas.
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