Crise na saúde: Quem não quer trabalhar?
Na edição de Zero Hora do dia 24 de agosto de 2010, ao conceder uma entrevista, a coordenadora do Serviço de Emergência do Hospital Conceição conseguiu encadear uma série de comentários infelizes e mal articulados a respeito da sobrecarga de trabalho e superlotação do setor.
Ao falar sobre o assunto, a médica apontou corretamente a dimensão física da estrutura da emergência, construída para abrigar cerca de 50 pacientes e que opera com uma lotação acima de 150 pacientes.
Até aí tudo bem. Uma desproporção nestes patamares explica o sofrimento de pacientes e trabalhadores da saúde. No entanto, em seguida, a gestora do serviço alega que toda a equipe está passando por dificuldades e que é necessário que todos “vistam a camiseta” e se apresentem para resolver a situação de crise.
Um argumento não se ajusta ao outro. A médica parece dar a entender que uma desproporção estrutural de tamanha envergadura pode ser resolvida com mais “empenho” dos trabalhadores. Seria cômico se não fosse trágico.
O primeiro argumento, a falta de capacidade física, derruba a lógica do segundo: em algum momento do processo o paciente e o profissional da saúde serão penalizados pela inadequação física do serviço de emergência. Por uma questão de lógica básica, se entende que a mera ampliação das horas de trabalho não pode compensar, sem conseqüências, tamanha deficiência estrutural.
A solução passa pelo redimensionamento de toda a capacidade dos serviços de emergência da capital com a ampliação do número de leitos e das equipes de trabalhadores para de atender a demanda. Também passa pela decisão política de reabrir os hospitais Luterano e Independência da ULBRA. Ou seja: mais leitos e mais trabalhadores!
Numa situação de sobrecarga estrutural da capacidade instalada para o atendimento, o trabalhador se expõe a agentes químicos e biológicos por um tempo superior ao limite de segurança para atender ao excesso de demanda. Isso evidentemente aumenta os riscos de intercorrências e acidentes que podem por em perigo, tanto a saúde de quem está sendo atendido, quanto à de quem atende.
O SINDISAÚDE-RS vem a público se solidarizar com os trabalhadores de todas as emergências da capital gaúcha. Especialmente os trabalhadores do GHC que fizeram, apenas no mês de julho, mais de 3.500 horas extras na emergência do Hospital Conceição. Já consideramos um excesso as horas extras realizadas na emergência do Hospital de Clínicas, por exemplo. Lá, elas foram da ordem de 1.500 em julho. E este cenário se repete nos demais serviços de emergência de Porto Alegre.
A população gaúcha precisa saber que estas horas a mais de trabalho são realizadas ao custo de comprometer a saúde física e mental destes trabalhadores. Ou seja, o que menos falta aos funcionários do GHC, e de todas as demais emergências dos hospitais públicos e privados é disponibilidade para enfrentar a crise crônica da superlotação das emergências da capital.
O SINDISAÚDE-RS espera que a superintendência do GHC publique, no mesmo veículo de comunicação, esclarecimentos sobre as alegações da coordenadora do Serviço de Emergência do Hospital Conceição. Um documento oficial da direção do sindicato já foi entregue aos administradores do Grupo, cobrando um posicionamento claro e objetivo sobre a manifestação.
Cabe à direção do GHC, confirmar ou refutar as alegações da coordenadora e, se for o caso, nomear os trabalhadores que ela afirma que não querem trabalhar ou “que não vestem a camiseta”.
Por Antônio Eusébio Teixeira Rocha
Que pena, ainda hoje assistirmos estes tipos de comentários. Pensei que era coisa do passado, de museu…..
Acho que seria interessante pedir o Teste de DNA para saber de quem é a paternidade, aliás o responsavél por estes fatos.