Tempo de lembrar

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Quem faz plantão, faz poesia.

Todos os segundos de nossa vida ficam inscritos em nossa história como letras gravadas no mármore frio. Duram mais do que nós mesmos e, ainda assim, se perdem na vastidão do tempo. São esquecidos, passam, deixam de existir como a rocha que se desgasta em ínfimas partículas de pó.

Alguns são como o vento suave que sopra sem ser notado. Outros, de tão intensos, depois que acontecem parece que sempre estiveram lá: – Em nosso futuro. Placidamente esperando o momento de consumar-se em nosso destino.

São instantes em que pensando no dia seguinte, damos o passo fatal que nos faz passar do meio fio do acostamento em direção à via de rodagem. São momentos como aquele em que o olhar de um médico anuncia sua frase iminente. Frações de minutos, como aqueles, em que com um gesto de mão, calamos o telefone que toca de madrugada, para com apreensão, expectativa e medo dizermos:
– Alô?

Numa vida se contam em dezenas, ou menos, estes segundos em que ouvimos a primeira frase de uma mãe ao filho recém parido, o resultado da contagem dos votos de uma eleição ou a notícia de que alguém querido passou a existir apenas na conta limitada dos segundos que podemos lembrar e que, no entanto, jamais podemos esquecer.