Roma – amor
A habilidade mais importante, desde o surgimento de nossa espécie, tem sido a capacidade de cuidarmos uns dos outros. A emergência de nossa humanização a partir de um nascimento prematuro e frágil foi o que nos permitiu o desenvolvimento de uma linguagem complexa. Por causa da linguagem afetiva nossa subjetividade se aprofundou e se elevou a níveis que nenhum outro animal atingiu.
Nós somos capazes de criar narrativas intersubjetivas que permitem complexas formas de colaboração. Por um lado isso significa tanto religião, quanto guerra. Por outro lado é o que nos fez persistir diante de catástrofes, genocídios e massacres. As narrativas intersubjetivas estão na gênese da civilização global na qual vivemos para o bem ou para o mal. Mas, a capacidade de cuidar jamais teve um lado negativo.
Nesse momento em que algoritmos inteligentes – os sistemas cognitivos artificiais – estão começando a apreender a realidade com autonomia, talvez possamos, enfim, nos reconectar ao princípio feminino de onde nossa humanidade surge.
Agora que sistemas automatizados estão nos substituindo em um número cada vez maior de atividades que consideravamos privativas dos seres humanos, veremos que junto com a caça e a coleta, com a guerra e a capacidade de submeter outros humanos pela força, a atividade mais importante, aquela que fez a humanidade persistir ao longo de um ou dois curtos milhões de anos, foi de fato a maternagem, a dedicação perpétua ao cuidado e a proteção de crianças e idosos.
Os primeiros, porque representavam o futuro, a existência de todos para além de suas vidas no espírito mutante das gerações futuras. Os segundos, porque representam a memória de nossa ligação imemorial com o ambiente, a vida e com nossos ancestrais.
A vida humana, mais do que a existência de todas as demais espécies, é devedora dessas incontáveis bilhões de mulheres e dos poucos homens que as honraram. Somos descendentes do perpétuo cuidado e zelo, somos sobreviventes de uma epopéia sem fim de violência e sangue. Sem o acalento e a maternagem, já estaríamos extintos.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
OI Marco!
Primeiramente quero agradecer-te pela presença sempre instigante por aqui.
E desejar mais um ano de vida para essa rede que a todos acolhe em sua já tradicional marca registrada do afeto.
Bela idéia essa do devir-mulher a compor a rede de cuidados num sentido mega ampliado. Essa transcendência está sempre presente em teus escritos e nos leva para lugares inusitados.
Um feliz ano novo para todos nós!
AbraSUS!!!