Campinas, a Atenção Primária em Saúde, nossas referências…
Reportagem da capa deste domingo de carnaval no Correio Popular de Campinas, SP, mostra um pouco a quantas anda a Atenção Primária à Saúde em Campinas. Apesar de contar com técnicos e gerentes militantes do SUS e da Saúde Coletiva, o município paga o preço de da gestão municipal que nos últimos anos investe em asfalto e pronto atendimentos para manter a popularidade.
Quem sabe alguém consegue ver, na situação atual de Campinas, o futuro do nosso país, caso o projeto das UPAs se tornar o ÚNICO projeto de ampliação do acesso à saúde no SUS nos próximos anos…
Mesmo com muitos militantes tentando fazer o que podem para não deixar acabar com 30 anos de construção coletiva, um governo com prioridades no mínimo questionáveis no campo da saúde, pode fazer muitos estragos.
4 Comentários
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Altair,
Essa questão de quem demanda e como demanda é interessante. Conheço muitos gestores que defendem a implementação generalizada de pronto atendimentos (PA) em função da questão do acesso. O argumento é o de que "com o PSF jamais daremos conta…" Em muitos lugares essa montagem do modelo de atenção com base em serviços de PA foi implementada. Mas, até o momento, não conheço nenhuma experiência dessa proposta que "dê conta da demanda". Isso porque, na minha opinião, o que é geralmente ofertado é uma clínica degradada, de baixa qualidade, focada em sintoma, pouco resolutiva e altamente medicalizante. O princípio é simples, muito embora, nada fácil de ser realizado: só se pode "dar conta" da demanda sendo resolutivo. Claro que cabe perguntar o que é resolver e qual é a visão de necessidade… mas isso pode ficar para outro post.
A questão da UPA para mim é mais complexa: Será possível fazer uma boa clínica, resolutiva e que não seja queixa-conduta, em uma UPA? E o problema não acaba por aí…
Se for, é possível integrar a UPA, na sua microrregião, com os outros serviços, com a AB e com os serviços hospitalares, formando efetiva rede?
Outra questão é o investimento em Atenção Básica (AB). O nulo envolvimento da maioria dos estados com o cofinanciamento da AB e a inviabilidade de manter o sistema de financiamento tão amarrado como está hoje. Por outro lado, se o financiamento não for todo carimbado, será que não ficará mais fácil para desmontar as redes que já existem?
Na área hospitalar e na urgência e emergência o problema não é menor. A maioria dos estados brasileiros tem baixa capacidade de regular leitos hospitalares de forma publica e competente, assim como nas áreas metropolitanas. O que tenho visto é que a implantação de uma UPA, onde não há regulação de leitos competente, amplia a dificuldade de tranferir pessoas para leitos hospitalares e transfere para o município o ônus de um problema que, em geral, seria do estado. Gente em macas de PA esperando vaga de internação e morrendo sem conseguir é o que mais aparece na televisão. Mas não se fala e até se acha natural que, na maioria dos lugares, quem decide as transferências e o uso dos leitos hospitalares públicos ou conveniados são as redes de amizade e interesse privado entre médicos.
Muitas questões! Importa-me discutir se é UPA, não só UPA. Qual UPA? Como? Qual PSF? Como? A disputa não é por modelos fechados. Por fórmulas. Não creio que isso resolverá nossos problemas. São princípios que os modelos devem operar: adscrição de clientela, territorialização, clínica ampliada, responsabilidade sanitária, cuidado em rede, coordenação do cuidado, universalidade, equidade, integralidade…
Abraços,
Gustavo
Por faustojaime
Caro Altair,
A grande prioridade no momento é a mudança do modelo de atenção à saúde. Superar o modelo de atenção orientado para as condições agudas pelo modelo de atenção orientado para as condições crônicas. Este modelo, para funcionar adequadamente, deve ser coordenado pela atenção primária. A atenção primária, além de todas as outras atribuições que lhe são devidas deverá ainda assumir este papel coordenador da atenção.
A coordenação será facilitada pelo estabelecimento de vínculos formais entre os niveis de atenção, melhores linhas de comunicação e mecanismos eletrônicos de fluxo de informações, integrando a informação em diferentes tipos de profissionais e níveis de atenção.
Se a estruturação das UPAs não for combinada com o fortalecimento da atenção primária e a estruturação das redes de atenção à saúde, pode significar uma grande distorção do sistema com o fortalecimento do modelo de orientado para as condições agudas que precisa ser superado.
Um grande e fraternal abraço,
Fausto Jaime. Assessor de Gestão Estratégica da Secretaria Municipal de Goiânia e Coordenador de Projetos da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás.
Por Ricardo Teixeira
Não é preciso dar três passos nessa conversa para descobrir que pusemos nossos conceitos pra caminhar na beira do abismo…
UPA, APS, Redes?
sive
Pronto-Atendimento, ESF, integração do "sistema"?
Pero…
E se ESF não for igual a APS.
Se "postinho" não for igual a APS.
Se APS for igual a Rede (ESF + UPAS), então…
Eis o "agenciamento APS" em questão!
É essa, positivamente, a proposta de APS.
Um Frankenstein descosturado, é verdade…
Nem rede é!
UPAS lá, ESF cá!
Isso tá acontecendo, agora mesmo, aqui em Sampa, com UPAS e ESF dentro do mesmo prédio…
Parece-me que há um certo modo de se tomar o problema da inconsistência conceitual e tecnológica da "rede de cuidados primários de saúde" que temos, que apenas acirra, cada vez mais, a tensão entre o problema do acesso e do cuidado integral.
Temos que admitir que, se é assim, o problema está mal colocado. Jamais nos poderá conduzir a uma ideia adequada sobre o problema…
Conceber e experimentar um "agenciamento APS" em que acesso e integralidade não se encontrem em tão forte tensão… Será possível?
Qual rede de cuidados primários?
O que me parece certo é que a APS é Rede e o problema do PA é seu.
Abraços,
Ricardo
Por Altair Massaro
Campinas está neste estado de coisa pq não tem projeto na área de saúde, na verdade os projetos parecem mesmo serem outros.
De qualquer modo, entendi que, dentro das priorizações do novo ministério, a primeira delas é pensar a atenção primária, seja lá o que isso signifique.
Estou na atenção hospitalar e rede de urgências desde que iniciei a minha vida profissional. Entretanto, preocupa-me deveras a predominância da fomentação das UPAS em nossas construções. Mas a pergunta é: quem demanda isso? e por que o faz?
Vale a velha máxima: não há vitimas nisso! Todos só atualizam o que podem ou onde sua ilusão está ancorada, não é?
Quem sabe agora teremos oportunidade de repensar os caminhos do SUS, sem preconceitos e sem apegos demasiados.
Estamos na construção companheiro. É isso ai!
Altair