ATÉ QUE PONTO É DETERMINADA A AUTONOMIA DO PACIENTE?

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Em uma manhã normal de quarta-feira na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), uma paciente de procedência desconhecida encontra-se intubada e sendo acompanhada pela equipe médica do setor, porém por algum motivo, a paciente descompensou e começou a ficar agitada, sendo necessária a intervenção dos servidores para contê-la no leito.

Após uma breve tentativa de conversa com a paciente, sem sucesso, um dos médicos presentes no setor, começou a agir de forma mais ríspida, gritando e fazendo ameças para com a usuária, do tipo: “Se a senhora não se acalmar, eu vou tirar o tubo da sua boca e você vai ficar sem respirar!”, “Para de morder o tubo, você tá me dando trabalho”. Esse tipo de fala, deixou o resto da equipe desconfortável, porém apesar disso não tentaram contornar a situação.

Apesar deu não ter presenciado o final dessa situação, fiquei com um sentimento muito abalado por causa de todo o enredo, uma vez que, nos dias de hoje, a humanização é amplamente difundida e praticada por muitos profissionais de todas as áreas.

Podemos observar o posicionamento do médico, que por sua vez, mesmo que tenha seus próprios desafios e problemas biopsicossociais, é um dos principais responsáveis técnico do hospital, sendo dever dele manter sua postura e representar o pensamento racional dentro de casos de emergência. Por outro lado, temos a paciente, sujeito principal do enredo, que por estar passando por um processo delicado de trastorno na sua saúde, não tem qualquer controle sobre as suas ações no momento do ato, sendo completamente justificada as suas atitudes.

Isso me fez pensar em texto em que li na internet, mesmo ser conhecer o autor, acredito que se encaixa perfeitamente na história em que eu presenciei, que seria assim:

“(…) Vamos ser mais bem humorados, mais desarmados. Podemos ser cidadãos sérios e respeitáveis e, ao mesmo tempo, leves. Basta agir com delicadeza, soltura, autenticidade, sem obediência cega às convenções, aos padrões, aos patrões. Um pouco mais de jogo de cintura, de criatividade, de respeito às escolhas alheias. Vamos deixar para sofrer pelo que é realmente trágico, e não por aquilo que é apenas incômodo, senão fica impraticável atravessar os dias”

Autor desconhecido

Podemos associar essa história a algumas teorias da bioética, no caso, acredito que a teoria do principialismo encaixa-se perfeitamente neste enredo, uma vez que, a autonomia dessa usuária foi transgredida, pois claramente ela estava sendo obrigada a passar por aquele procedimento. Não podemos deixar de passar despercebido que provavelmente ela não estava com seu nível de consciência plenamente estabelecido, mas outras forma de diálogo poderia ter acontecido, como tentar acalmar a paciente, não trata-la de forma ríspida, procurar algum familiar ou conhecido da usuária para tentar entender um pouco mais da sua história, por exemplo, se ela tem alguma religião que não permita passar por determinado procedimento, entre outros.

No caso da beneficência que a única alternativa para esse caso seria a intubação, que é um método invasivo, que melhora a ventilação/perfusão do paciente, porém pode acarretar em um aumento da estadia do mesmo na UCI ou até levar a uma iatrogenia. Sendo que nesse caso, a iatrogenia deve ser evitada ou ao menos diminuída de acordo com os preceitos da não-maleficiência.

Por fim, com relação a justiça, deveria ser analisada junto a equipe o ônus e bônus para paciente, tanto a curto, médio e longo prazo e qual o prognóstico para aquela usuária após ter passado por determinado procedimento. Se for o caso, garantir atenção integral a essa paciente pela equipe multidisciplinar e se possível, a sua família.