Pseudohipoglicemia: glicemia normal, sintomas de hipoglicemia

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O que é pseudohipoglicemia?
“Dra, eu não sinto nada quando a diabetes está alta, mas passo mal quando ela abaixa”. O paciente quis dizer aqui que se sente normal, bem, quando a glicemia está por volta de 200-300mg/dL, mas passa mal quando ela está normal (100-150mg/dL), nem precisa estar realmente baixa. Isso se chama pseudohipoglicemia.

Esse tipo de frase, eu e todo médico que trabalha com diabetes ouve toda semana. O perfil de paciente que fala isso é aquele em que a glicemia está alta, com o diabetes descompensado, já por algum tempo e começa a usar uma nova medicação mais potente para controlar a glicemia, como é o caso da insulina ou de medicações orais como as sulfonilureias.

A gente sabe que o paciente está falando a verdade, que o mal-estar dele é real, apesar da glicemia não estar <70mg/dL (definição de hipoglicemia em pacientes com diabetes).

O que se passa no corpo e no cérebro de quem tem esse tipo de sensação?

Lembra que eu falei em outro post, sobre hipoglicemia sem sintomas no diabetes, que o corpo se acostuma a glicemias baixas e repetidas e para de emitir os sinais de alerta? O corpo se acostuma, da mesma forma, se a glicemia está sempre alta.

Nesse cenário, o cérebro desenvolve mecanismos adaptativos ao aumento persistente da glicose. Quando a glicemia normaliza, é como o corpo e o cérebro sentissem que a glicose está muito, muito baixa, apesar de não estar. Sintomas típicos como tontura, irritabilidade, pensamento lentificado, podem aparecer com glicemias por volta de 100mg/dL em quem tinha glicemias médias de 300mg/dL, por exemplo.

Pode ser que, em alguns textos, o termo pseudohipoglicemia esteja relacionado à medida falsamente baixa da glicemia por artefatos na sua medição. Esse tema foi abordado no post anterior. É também possível que você identifique esse fenômeno sob o nome de hipoglicemia reLAtiva.

A pseudohipoglicemia é uma barreira para o controle do diabetes em pacientes que estão muito tempo descompensados. Os pacientes, mais propriamente o cérebro deles, sentem muito essa queda relativa da glicose. É preciso avisar ao paciente que ele vai passar um período de mal-estar, orientá-los a não ingerir carboidrato se a glicose estiver normal. Depois de algumas semanas de melhor controle da glicemia, o paciente não vai mais sentir esses sintomas desagradáveis com a glicemia normal.

Os profissionais de saúde devem estar atentos a esse fenômeno de discrepância da glicemia normal e sintomas de glicemia baixa. O conhecimento da desses mecanismos adaptativos permite alertar e ajudar o paciente a “passar a arrebentação” das glicemias altas para as normais, passando pela pseudohipoglicemia.

Para ver o mecanismo molecular que explica esse fenômeno, confere o post no site – https://drasuzanavieira.med.br/2022/04/17/pseudohipoglicemia-glicose-normal-sintomas-de-hipoglicemia/