Relato de Experiência no CAPS Casa Verde por Alícia Eduarda Rios Soares
Relato de experiência durante o estágio em Saúde Mental – pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas – no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Casa Verde, junto à discente Larissa da Silva Almeida.
O CAPS Casa Verde, localizado no bairro Pitanguinha, é uma instituição que oferece serviços de saúde mental para indivíduos com transtornos mentais, tais quais esquizofrenia, depressão, ansiedade, transtornos de personalidade e transtornos de humor. A estrutura do CAPS é acolhedora e a equipe multiprofissional, composta por psiquiatra, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, enfermeiros, entre outros profissionais, os quais buscam proporcionar um atendimento humanizado e integral aos pacientes. Durante a semana são realizadas atividades como oficina do pão, de dança e também de artesanato, além de grupos de discussões e o brechó, as quais tive a oportunidade de participar.
Na Oficina do Pão, foi possível observar a importância das atividades manuais e a culinária como um meio para a promoção do bem-estar e da socialização dos pacientes. A preparação do pão, desde a mistura dos ingredientes até o momento da degustação, proporcionou um senso de realização e integração entre todos os participantes, evidenciando os benefícios terapêuticos e psicológicos dessas atividades. Além de que, ao final da atividade, os envolvidos na execução da oficina recebem parte do lucro faturado com as vendas dos pães, o que os deixa ainda mais motivados.
Quanto às rodas de conversa, durante o meu tempo de permanência, as discussões giraram em torno de temas sobre sexualidade, que mostraram-se fundamentais para a expressão e educação dos pacientes sobre assuntos frequentemente considerados tabus. As conversas foram conduzidas de maneira inclusiva e respeitosa, permitindo que os pacientes compartilhassem suas experiências e dúvidas, promovendo um ambiente de aprendizado mútuo e desmistificação, essenciais para a saúde mental e emocional.
A Oficina de Dança destacou-se como uma atividade de muito entusiasmo entre maior parte dos pacientes envolvidos. Durante a atividade, podem escolher a música que preferir e dançar espontaneamente, contribuindo significativamente para o bem-estar físico e emocional dos participantes. A alegria e o interesse dos participantes eram indicativos claros dos benefícios terapêuticos do momento em questão.
Em relação ao brechó, na estrutura do CAPS há um espaço destinado para essa atividade. No entanto, na última semana, essa atividade foi estendida para a comunidade local da região, sendo colocado em uma praça próxima, o que ofereceu uma oportunidade de integração social. A organização e gestão do brechó incentivam o desenvolvimento de habilidades sociais e de trabalho, além de promover um ambiente de troca e solidariedade, aspectos fundamentais para a reabilitação psicossocial.
Ademais, quanto a oficina de artesanato, organizada pela terapeuta ocupacional, que também possui uma sala específica para a sua realização, ocorre a interação dos pacientes com itens para que possam montar e construir objetos, como pulseiras de miçangas e bolsas de macramê, que podem ser vendidos posteriormente e ter parte do lucro destinado ao paciente que executou, similarmente à oficina do pão.
De maneira geral, os pacientes mostraram-se bastante participativos e engajados nas mais diversas atividades, demonstrando a essencialidade dessas iniciativas para a melhoria da qualidade de vida e a reabilitação psicossocial. Cada atividade, além de seu valor terapêutico, promove autonomia, autoestima e a socialização dos participantes, componentes fundamentais no processo de recuperação e inclusão social.
Logo, toda essa experiência no CAPS Casa Verde foi muito importante para a minha formação, pois proporcionou uma visão ampliada acerca da atenção integral na saúde mental, destacando a importância de abordagens multidisciplinares. Além disso, a interação entre os pacientes proporcionada pelo estágio também permitiu uma melhor compreensão da assistência humanizada e o cuidado individualizado, que são essenciais para atender as demandas de cada paciente. Agradeço à equipe do CAPS Casa Verde pela oportunidade e aprendizado.
Por Larissa da Silva Almeida
A experiência no CAPS Casa Verde é um excelente exemplo da aplicação prática dos princípios da luta antimanicomial. Este movimento, que se opõe ao modelo tradicional de internação em manicômios, defende a reintegração social dos indivíduos com transtornos mentais através de um tratamento humanizado e comunitário.
As atividades que pudemos acompanhar no serviço promovem autonomia e autoestima, bem como oferecem oportunidades de socialização e expressão, a exemplo da atividade de dança, na qual os usuários estavam livres para escolherem a música que quiserem e dançarem da sua forma individual, situação que nem sempre era possível de ser manifestada em suas residências. Ainda, a abordagem inclusiva e respeitosa nas rodas de conversa, exemplifica como temas sensíveis podem ser abordados de forma a educar e desmistificar, contribuindo para a saúde física e mental dos participantes.
A luta antimanicomial preconiza exatamente isso: uma atenção integral que respeite a individualidade e a dignidade dos pacientes, afastando-se do modelo opressivo e isolador dos manicômios. A integração das atividades com a comunidade, como o brechó estendido para a praça local, reforça a importância da inclusão social, um dos pilares desse movimento. A participação ativa dos pacientes nas diversas oficinas e atividades do CAPS Casa Verde demonstra o sucesso dessa abordagem na melhoria da qualidade de vida e no fortalecimento da cidadania dos indivíduos em tratamento.
Por fim, gostaria de agradecer à equipe do CAPS Casa Verde pelo acolhimento e ensinamentos, assim como aos usuários que permitiram a minha inserção em uma parte de suas vidas, compartilhando um pedaço de suas histórias que para sempre carregarei na minha caminhada na área da saúde e na minha existência enquanto ser humano.