POTENCIALIZANDO AS REDES DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Acolhimento a pessoas portadoras de sofrimento psíquico é um tema que me instiga a pensar, investigar e refletir, por isso resolvi trazer para nossa RHS. Pretendo ampliar nosso leque de discussão sobre esta tecnologia, que por vezes é "sub utilizada" por nossos serviços. Ocasionando o pior: o agravamento do sofrimento e a internação psiquiátrica, seja em hospital geral ou não.
Quais questões poderíamos levantar para avaliar melhor o uso da tecnologia acolhimento em saúde mental? Por que os profissionais não sentem-se motivados a atender esta "parcela" da população? Quais aspectos poderíamos reforçar no processo de escuta de um cidadão para identificar o mais precoce possível o sofrimento psíquico?
Estes questionamentos parecem que avançaram, mas as evidências nos trazem outras versões. Os CAPS por vezes sentem-se sós nesta REDE de apoio integral a saúde, como suas forças enfraquecidas, equipes esgotadas, que as vezes chegam a reproduzir "mini-manicômios" no dia-a-dia.
Em Passo Fundo, temos "um" promotor de justiça fazendo pressão para ampliar o Hospital Psiquiátrico, e o Hospital Geral que está aberto as internações gradeou uma "ala", mas não aumentou/qualificou/estimulou a equipe para este trabalho.
17 Comentários
Faça login para comentar e recomendar este post a outros usuários da rede.
com a presença dos profissionais que já tem experiências bem sucedidas em Acolhimento e fortalecendo esta REDE: Atenção Primária e Hospital.
Obrigada Carine… vamos aguardar tuas novidades!!!
Por Regina Reggiori
Carol,
Fico chateada em saber que os hospitais gerais estão discrdando da idéia de fortalecer o movimento antimanicomial, dispondo de grades em suas instalações. O hospital em que estou inserida HSA – Hospital Santo Antonio – de Tenente Portela RS, cadastrou leitos psiquiatricos este ano, estamos disponibilizando 10 leitos para AD e 7 para psiquiatria, ampliamos o espaço fisíco e adequamos a unidade para receber estes usuários, porém não estamos fazendo uso de grades ou assemelhados, que posam caracterizar esta unidade como unidade psiquiátrica, os pacientes são internados na unidade clinica quebrando o paradigma de que estes são diferentes.
|A experiencia tem sido muito rica, não temos um modelo ideal a seguir, mas dia a dia estamos construindo nosso próprio modelo. Aposto e acredito nessa oferta dos leitos em hospitais gerais e evidêncio como necessidade urgente neste momento um maior investimento na qualificação dos profissionais que estão envolvidos neste processo local. Encontro na PNH a possibilidade de estar complementado este serviço e qualificando a assistência ofertada a estes usuários.
Abraços.
Aluna Apoiadora Humaniza SUS
UP Minuano
Regina Reggiori
Regina!
É lamentável mesmo o fato da grades, mas é evidente que "as grades
também estão em nós". Como comenta Erasmo:
"Colaboramos para estereopitar o sujeito em sofrimento psíquico,
assim como colaboramos no "markenting" contra o Hospital Psiquiátrico".
Que seguindo a linha da discussão preconizamos a reforma psiquiátrica
mas ainda não temos uma REDE afetiva/efetiva de serviços substitutivos
para nos "nutrir" e potencializar ações de REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL.
Por jussara paiva
Cara Carolina….
Sou enfermeira do PSF e também plantonista em um Hospital de doenças Infecto contagiosa, aqui na cidade de Natal. Achei oportuno e instigante seus questionamentos e fiquei refletindo a partir das experiências vivenciadas diariamente nesse dois serviços públicos.
A primeira dificuldade que enfrentamos parece ser a falta de capacitação dos profissionais para romper antigos conceitos aprendidos durante a graduação. Nos inquietamos com as centenas de usuários que buscam receitas de "controlados" mensalmente nas Unidades de Saúde, mas nossas inquietações não conseguem ultrapassar os muros que nos rodeiam, pois não existe uma escada que nos ajude escalar esses muros…..Psicologos nas USFs não existe, núcleos matricialde apoio não decolaram, os Caps saõ verdadeiras ilhas de excelência(quem está lá não sai,,quem está fora não tem acesso). E aí vamos quase adoecendo junto com os usuários. O que fazer ao chegarmos a UNidade e e nos depararmos com uma usuária tomando banho despida na lateral da casa ao lado, cena essa que já se anunciava e não tivemos como intervir.No Hospital de infectologia naõ é diferente, recebemos frequentemente pacientes oriundos de hospitais psiquiatricos e não sabemos como lidar com eles. Temos muito o que caminhar…..
Jussara!
Quando trazes estas questões me toca fundo, pois é extremamente plausível aprofundar a discussão: "os Caps saõ verdadeiras ilhas de excelência(quem está lá não sai,quem está fora não tem acesso)".
Me provoca (no bom sentido, é claro) esta discussão e temos um exemplo bem trivial: o acesso aos medicamentos, o acesso ao passe-livre do ônibus, o acesso aos outros serviços que os usários do CAPS tem e quando queremos encaminhá-los para o "Novo Horizonte" (grupo de alta do CAPS II Nosso Espaço), estes benefícios pesam…
Conseguimos (muito pouco) discutir com a REDE para manter estes acessos mesmo com a alta do usuário do CAPS…
"Temos" (?) uma reabilitação psicossocial frágil e vulnerável a qualquer vento!
A família com seus estigmas internalizados é a primeira a reforçar a dependência, pq eles também sentempse dependentes desta ILHA!
A maior resolutividade para a temática em questão me parece muito evidenciada quando
processada pelo investimento nos sujeitos (sensibilização da gestão central e um investimento
no trabalhador através de qualificação e da inserção do tema na roda, sem desconsiderar o
usuário e/ou familiar que se vê impossibilitado de vislumbrar um horizonte).
Enquanto o sofrimento psíquico não for encarado como um sofrimento humano
e pertinente a toda sociedade ainda teremos reprodução de "mini-manicômios" e alguns
excessos.
Por Luciane Régio
Olá, Carolina!
Já que colocaste a questão do acolhimento em Saúde Mental na roda, aliás o tema me esquenta… digo que teremos muitos desafios em incluir todos os sujeitos e suas subjetividades nas rodas sobre PNH, SUS, Reforma Psiquiátrica…
Lamentável que venha daqueles que deveriam ser defensores das leis, da justiça social, idéias de retrocesso como esta de ampliar hospital psiquiátrico, enquanto se fala em Reforma Psiquiática, desinstitucionalização! Sem falar das alas com grades que mencionaste! A que ponto de "não saber", ou de "não querer saber" se chega!
Concordo com André, onde ele diz que o sofrimento psíquico deve ser encarado como sofrimento humano pertinente à co-responsabilização todos, e acrescento que não é senão, uma questão de cidadania!! Sofrimento Social!
Acolhimento como compromisso, como atitude de resgate de cidadania, de direitos, de inverter a lógica de processos de trabalho pensados pelos ditos "detentores do saber/poder" de julgar quem é normal?
Se acolher é comprometer-se, não há nada melhor do que os vínculos/reconhecimento do outro/afetos para pensarmos como mudar os modos de atenção em Centros de Atenção Psicossociais, Hospitais Psi, Hospitais Gerais, na comunidade/no bairro, na família, na escola, nas ruas desse país!
Um Abraço,
Luciane
UP HumanizAÇÕES
Por Cláudia Matthes
essa é a sensação que dá.
Preconizamos muitas formas diferentes de atender aos usuários, mas ainda não estamos conseguindo fazer conversar essas ilhas de atendimentos, sejam atenção básica, caps…
muito se tem de avançar…comunicar as ilhas, criar redes.
De uma coisa tenho certeza todos querem voltar para casa. Sentir-se amado, acolhido, importante, significativo e fazer encontros …"
Já todos nós de volta para casa, estabelecendo redes de afeto e de potência…unindo ilhas. Re-construindo afetos.
Com carinho especial para todos os nós dessa grande rede que tem a coragem de colocar na roda tanta potência ilhada …
com carinho
Cláudia-Peju
Carolina!
Aqui em Santa Maria desde 2005 temos colocado a saúde mental em discussão junto com a atenção básica e temos obtido bons resultados.
A partir da especialização a dimensão do acolhimento tem sido amplamente discutida junto as UBS e ESF do município.
O projeto "Saúde Mental na Roda" acontece desde 2005 e tem por objetivo o compartilhamento de idéias e a discussão de estratégias para melhorar o atendimento em saúde mental e também fazer uma aproximação entre os serviços especializados e a atenção básica.
Ainda temos algumas dificuldades mas é trabalho de formiguinha, né?
Estou a disposição para compartilhar mais sobre este projeto!
Abraços
Angela Meincke Melo – Santa Maria/RS
UP Humanizações
Angela!
Aqui em Passo Fundo temos uma Equipe de Apoio Matricial em Saúde Mental desde 2006, onde também realizamos uma RODA com a equipe da APS para discutir casos e trocar experiências. Mas, é apenas uma equipe de apoio para dar suporte a uma vasta REDE, demorando o retorno desta equipe em determinada ESF.
Também contamos com "incidentes" neste percurso: trocas de profissionais (demissões e contratações constantes), falta de viatura para deslocamentos desta equipe apoio, excessiva demanda para "apagar incêndio" tornando-se praticamente impossível fazer um trabalho mais voltado para prevenção, entre outros desafios.
Com certeza queremos trocar idéias com vcs e saber mais de como acontece essa atividade aí em Santa Maria.
Um abraço, Carolina
Nós que trabalhamos neste serviço, muitas vezes nos sentimos sozinhos neste amaranhado que é a falta de entendimento por parte de vários serviços que deveriam estar conectados conosco. Como por ex. o Ministério Público, quando simplesmente nos enviam ordens de internação sendo que muitas vezes este usuário já esteve por várias vezes internado sem resolutividade porque quando retorna para seu habitat encontra a mesma situação que deixou. Não há uma preucupação por parte destas pessoas em relação ao social, não sentam para discutir conosco o que seria melhor para este sujeito, não escutam o usuário simplesmente encaminham sua internação com ordem de condução. Referente a colocação de grades é triste saber que ainda existe este entendimento por parte destas pessoas, como trabalhar a humanização com estes seres que se dizem humanos?
Estamos trabalhando com nosso hospital geral e conseguindo internar nossos dependentes para desintoxicação, não foi fácil ainda existe resistencia por parte de alguns clinicos , estamos fazendo nossa parte diáriamente vamos ao hospital acompanhar a evolução e discutir com a equipe médica e de enfermagem os cuidados com estes usuários, realizando o Apoio Matricial da mesma forma os profissionais nos chamam sempre que necessário. Assim acredito que estamos fortalecendo e construindo esta rede que estava adormecida dentro do hospital geral.
Sônia!!!
Quando citas a dificuldade com o Ministério Público também me reporto a nossa realidade em Passo Fundo. e Te digo nos próximos dias estaremos "sentando" com estes colegas para ampliar os horizontes. E também te conto que não é a primeira vez que tentamos nos aproximar, por isso nosso trabalho de concetar os nós da REDE é tão intenso quanto o de conectar nosso usuário ao exercício da cidadania.
Um abraço, Carol
UP Minuano / RS
Por stella nicolau
Um dispositivo que teve êxito na UBS Jardim Boa Vista, bairro de periferia da região oeste da cidade de São Paulo, foi criar alguns espaços abertos de convivência e realização de atividades a fim de recebermos as pessoas com sofimento psíquico e mediarmos o seu convívio com as pessoas do bairro. Montamos um grupo de artesanato aberto, que foi iniciado com doações de materiais que os profissionais tinham em suas casas (retalhos, linhas, agulhas, papel de dobradura, etc) e a idéia era de que quem soubesse fazer uma atividade pudesse ensinar ao outro. Colocávamos uma musiquinha para animar, no frio fazíamos um chá, no calor um suco e nesses espaços eu convidava usuários com deficiências, sofrimento mental e seus familiares para uma tarde gostosa. Artesãs do bairro foram convidadas a ensinar sua arte e muitas conseguiam encomendas e vender seus produtos. Um coletivo foi sendo criado e os profissionais buscavam promover o encontro entre os diferentes, falar sobre os preconceitos, as barreiras na comunicação. Esses usuários tiveram oportunidades de ampliar suas redes no bairro, de sairem do isolamento na casa. Eram pessoas evitadas no bairro e que começam a ser compreendidas na medida em que vêem que a equipe e a comunidade as acolhem e as validam como sujeitos.
Stella Maris Nicolau – Curso de Terapia Ocupacional – Universidade Federal de Sao Carlos
Stella! Com prazer leio teu comentário e contribuição neste post. Me emociono em saber notícias de espaços de construção de novas histórias…
A RHS tem nos proporcionado conhecimento de experiências bem sucedidas em acolhimento.
Sinto que temos inúmeras alternativas, ainda que com dificuldades, para "validar" o pertencimento dos sujeitos em suas comunidades. Porém, me questiono como podemos usar a tecnologia do ACOLHIMENTO na "prevenção/detecção precoce" do sofrimento psíquico.
Stella, você sente os profissionais desmotivados a atender esta "parcela" da população? Quais aspectos poderíamos reforçar no processo de escuta de um usuário da UBS para identificar o sofrimento psíquico, tendo em vista esta experiência que nos relata?
Um abraço, Carol (terapeuta ocupacional)
UP Minuano/RS
Por stella nicolau
Olá minha colega Carol,
Não vejo os profissionais desmotivados, mas creio que é preciso aprofundar na atenção básica a questão de como enfrentar o sofrimento mental. Penso que devemos não cair em dois extremos: medicalizar e enquadrar em uma entidade nosológica sofrimentos relacionados a condições de vida adversas, ou, banalizar quadros psiquiátricos que requeiram um diagnóstico e manejo medicamentoso adequado, como as esquizofrenias, distúrbio bipolar,as depressões, etc. Equipes de saúde da família bem capacitadas podem discriminar bem o que é o sofrimento da vida (e que deve ser enfrentado encorajando e ajudando a empoderar as pessoas a buscarem mudar contextos adversos de vida) e o que é um quadro que requer manejos determinados, com apoio de profissionais especializados. Mas penso que para todos os extremos uma unidade de saúde deve manter poros abertos de escuta que não precisam ser necessariamente grupos terapêuticos, mas as oficinas, as festas, as celebrações, os debates, as conversas, a fim de se consolidar a criação de vínculos e a pertença da comunidade no serviço. Essa presença da comunidade no cotidiano, ajudando a organizar atividades é muito rica (já fizemos na casa de uma usuária uma oficina de xarope caseiro que congregou técnicos e usuários numa troca de saberes entre a medicina popular e a científica). Creio são ações de saúde mental. Como TO, eu sempre fico observando o cotidiano da instituição e pensando em como potencializar os espaços que já existem a fim de se tornarem espaços de vida, de prazer, de empoderamento, enfim, de saúde mental.
Beijão!
Stella Maris Nicolau – Curso de Terapia Ocupacional – Universidade Federal de Sao Carlos
Stella, cara colega!
É um prazer dividir esta discussão com uma colega de profissão – corporativismo a parte (mas bem que a TO precisava um pouco deste, pelo menos aqui no Sul seria necessário!).
Retomando o fio da meada!
Ainda que as pessoas busquem mecanismos próprios para superar as adversidades é no coletivo que construimos novas facetas para o enfrentamento ao sofrimento psíquico. E estar atenta ao prazer/desejo de viver das comunidades e potencializar as trocas entre estes atores é o grande brilho da nossa prática!
um abraço, Carol
UP Minuano
Por Carine Bianca Ferreira Nied
Pois é Carol, aqui em Santa Cruz do Sul estamos iniciando essa discussão em torno do acolhimento. O Hospital Santa Cruz, lugar em que estou inserida, irá assumir o Pronto Atendimento do município, nosso GTH está articulando essa discussão. Não está sendo fácil desconstruir a lógica da triagem, do atendimento. Para isso, estaremos conhecendo outros lugares e olhares que já tem esse percurso para podermos então iniciar nossa discussão e construção coletiva.
Acredito que nesse período esse coletivo será muito importante!
Carine Ferreira Nied