Aprendendo com significado
O dia a dia no PSF é sempre muito rico: de emoções, de trocas, de reflexões, de ganhos , de perdas, é a roda viva da vida, na qual estamos incluidos como sujeitos.
Ontem aprendi com uma usuária o verdadeiro siginificado do acolhimento, aprendi na prática o quanto uma atitude errada pode provocar estragos e quebrar vínculos de confiança.
Em um certo dia da semana passada, fui abordada pela filha de uma usuária que me relatava "minha mãe fez uma cirurgia e está infectada, queria que alguém fosse vê-la". Era um daqueles dias desafiadores do PSF, sem médico nas duas equipes, agenda cheia e apenas duas técnicas de enfermagem trabalhando. Respondi sem muita sensibilidade que estava impossível alguém ir até sua residência e que retornasse ao Hospital no qual havia sido realizada a cirurgia, para avaliação médica.
Retornei as atividades, quase esqueci do acontecido até que novamente fui contactada pela filha da paciente, informando que sua mãe havia retornado do Hospital e necessitava realizar curativos.
Dessa vez ,fui à casa da usuária e ao chegar lá ouvi o seguinte desabafo: " não pensei que vocês viessem,pois da outra vez não veio ninguém. Naquele dia eu estava desesperada,nunca havia feito uma cirurgia e quando vi a quantidade de secreção me apavorei. Esperava do posto de saúde, pelo menos uma atitude humanitária, que me acolhesem, me apoiassem, me vissem, mesmo que eu necessitase de ir ao Hospital. Faltou humanidade por parte de voces."
Nesse instante percebi que estava tendo a maior aula de humanização que alguém poderia ter e acima de tudo aprendendo de forma significativa o sentido do ouvir, do olhar, do acolher.
Pedi desculpas à usuária, era o mínimo que podia fazer naquele momento..voltei para Unidade de Saúde e coloquei na roda a experiência vivida, desencadeou-se então uma reflexão muita rica sobre nossa prática diária e a importãncia de compartilhar essas vivências para crescimento de todos enquantos seres humanos,sujeitos aitvos da construção do SUS e da vida.
E aí me lembrei da grande Cora Coralina,
NÃO SEI….
Não sei…se a vida é curta..
Não sei..
Não sei…
se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas,
Muitas vezes basta ser:
colo que ACOLHE
braço que ENVOLVE
palavra que CONFORTA
silêncio que REPEITA
alegria que CONTAGIA
lágriama que CORRE,
olhar que SACIA,
amor que PROMOVE,
E isso não é coisa do outro mundo:
é o que dá sentido a vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa
verdadeira e pura
enquanto durar.
Por meine siomara alcantara
"Cumadre" e amiga Jussara, é muito bom tê-la na roda, agora não mais como expectadora, e sim como agente que esta vivenciando o nosso árduo e belo trabalho do PSF. Linda a poesia de Cora, faz realmente repensar que caminhos da vida devemos seguir e que eu tenho a certeza que trilhas pelo caminho do bem, do acolher desde a Guarita a Macaiba, do norte e ao oeste de Natal, curando as feridas do corpo e quem sabe também da alma. Acho que você foi muito feliz quando levou este acontecimento para refletir na roda, é no diálogo que crescemos como gente, como ser humano, que sofre, que ri, que erra, mais que tem a compaixão pelo outro. E isso eu sei que você tem. Um abraço carinhoso, Meine