DENGUE: SE VOCÊ NÃO AJUDAR, O BICHO VAI PEGAR!

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Ação educativa de combate à dengue com alunos do município de Macaíba/RN

APRESENTAÇÃO

         Esse projeto de intervenção aborda a temática da Educação em Saúde relacionada às medidas de prevenção da dengue. Trata-se de uma atividade desenvolvida pelos alunos Francisco Anderson Araújo Bras, Geraldo Câmara Mariz e Luíza de Medeiros Nacácio e Silva, do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. O projeto foi desenvolvido no contexto do Internato em Saúde Coletiva na Unidade Básica de Saúde de Mangabeira, em Macaíba/RN, sob coordenação da Profª Ana Tania Lopes Sampaio, tutoria da Profª Isabel Cristina Araújo Brandão e preceptoria de Dr. Yuri Guilherme e da Enfª Nayara Buccos.

INTRODUÇÃO

          A dengue é uma doença de alta prevalência mundial, com estimativa superior a 100 milhões de casos/ano, e que afeta principalmente países de clima tropical. Desde 1986 ela vem ocorrendo de forma contínua no nosso país, intercalando-se com períodos de epidemia que costumam estar relacionados à introdução de novos sortipos em áreas nos quais não circulavam e a mudanças no tipo de vírus predominante. No ano de 2012 foram registrados 591.384 novos casos de dengue no Brasil, uma taxa média de 304,9 casos por 100.000 habitantes. A doença é transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti infectado, portanto o controle do vetor é medida primordial na estratégia de controle dos casos.

          Além da elevada incidência, é necessário atentar para o fato de que essa patologia pode cursar com manifestações graves, não raro evoluindo com complicações e óbito dos indivíduos afetados. De maneira geral, o quadro clínico do paciente é composto por febre e dores no corpo. Após 3 a 4 dias a febre costuma desaparecer, e é nessa fase que podem surgir as manifestações hemorrágicas e complicações associadas, presentes em 3.965 indivíduos no Brasil em 2012.

        De acordo com dados do Ministério da Saúde, foram registrados 27.685 casos de dengue no Rio Grande do Norte em 2012, cerca de 857,6 casos por 100.000 habitantes, média superior à incidência nacional e segunda maior entre os estados nordestinos no ano. Destes, 287 foram casos graves, que evoluíram com quadro de Febre Hemorrágica do Dengue (FHD) ou alguma outra complicação. Dos 283 óbitos pela doença no país em 2012, 8 ocorreram no RN. No que se refere ao município de Macaíba, foi recentemente divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde Pública do RN que ele encontra-se entre os 48 municípios do estado com risco muito alto de epidemia em 2013, levando em conta a incidência elevada da doença nos últimos anos e o índice de infestação predial.

 JUSTIFICATIVA

          A doença é caracteristicamente sazonal, com maior incidência no período de chuvas, as quais no Nordeste do Brasil (região onde se encontra o município de Macaíba, situado na zona periurbana da capital do RN – conhecida como Grande Natal – e que sediou o projeto em questão) ocorrem corriqueiramente entre os meses de Março a Julho. Neste ano de 2013, o estado do Rio Grande do Norte teve seu período chuvoso iniciado tardiamente, apenas no fim do mês de Abril, e com a chegada das chuvas foi observada uma abrupta elevação nas notificações de casos suspeitos na área adscrita à UBS de Mangabeira.
         A quase totalidade dos casos registrados localizava-se na Rua Agenor Xavier e adjacências, região que já havia sido previamente visitada pelos estudantes durante uma vivência de Territorialização, para que se apropriassem das características socioeconômicas, geográficas, ambientais e das relações de poder existentes no território da Unidade em que atuariam. Durante a visita, foi observada a presença abundante de lixo descartado de forma inadequada, além da intermitência no abastecimento hídrico do município de forma geral, condicionando a população a armazenar água sem adotar os cuidados necessários. Além disso, o receio da população em relação ao aumento de casos de dengue registrados na região ficou evidente na Roda de conversa utilizando o método Paidéia, que reuniu os profissionais da UBS e representantes da comunidade para discutir os problemas de saúde locais.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

            Conscientizar a população de Mangabeira a respeito das medidas de prevenção da dengue e da necessidade de colocá-las em prática, visando afastar o risco iminente de epidemia na região.

Objeitvos Específicos

– Capacitar os profissionais da UBS de Mangabeira quanto às medidas de prevenção da dengue, classificação de risco e manejo dos pacientes na atenção primária;
– Sensibilizar e orientar alunos de escolas locais a se tornarem agentes atuantes na prevenção da dengue;
– Promover a mobilização social da população da área atingida no sentido de tomar conhecimento e colocar em prática as medidas de combate ao vetor da doença.

METODOLOGIA

                O projeto foi concebido em três etapas, com públicos distintos e articuladas entre si. A primeira parte foi a capacitação da equipe da Unidade Básica de Mangabeira, realizada através de uma exposição dialogada, com distribuição de material informativo sobre a dengue elaborado pelos acadêmicos de Medicina e confecção de um fluxograma de classificação dos pacientes em grupos de risco, de acordo com a identificação de sinais de alarme e sinais de choque, e manejo desses pacientes em cada situação, seguindo as diretrizes preconizadas pelo Ministério da Saúde.

Acadêmicos de Medicina da UFRN atuaram na capacitação da equipe

              A etapa seguinte foi levar as informações de medidas preventivas da dengue para as crianças, objetivando transformá-las em agentes de mudança na comunidade, através do estímulo a que disseminassem o conhecimento que estava sendo transmitido e colocassem em prática em sua residência e na vizinhança os conceitos aprendidos. As instituições escolhidas para a intervenção foram a Escola Estadual João Chaves e a Escola Municipal Santa Isabel, ambas próximas à região onde foram identificados os casos recentes e um alto índice de infestação predial.  Selecionamos turmas de Ensino Fundamental do 1º ao 4º ano, compostas por alunos de 6 a 9 anos, dos turnos matutino e vespertino. Foram organizadas rodas de discussão nas salas de aula, com orientação aos estudantes acerca das medidas de prevenção da dengue, distribuição de material informativo e confecção de armadilhas para apreensão dos mosquitos. As crianças foram orientadas a ilustrar plaquinhas com as informações que aprenderam, tornando os encontros mais lúdicos e interativos.

Encontros formativos em sala de aulaRodas de discussão, com incentivo à participação dos alunosExposição das larvas do Aedes aegyptiPlaquinhas com desenhos feitos pelas crianças

      Por fim, o fechamento da intervenção se deu através de uma caminhada com os alunos pela Rua Agenor Xavier e regiões circunvizinhas, onde foi identificado a maior parte dos casos notificados e dos criadouros do mosquito. A ação foi divulgada entre os alunos durante os momentos formativos nas salas de aula e pelo site da Secretaria de Saúde. Pela manhã, houve uma concentração dos participantes na escola João Chaves, e de lá o cortejo partiu percorrendo a área previamente delimitada, abordando os moradores locais em suas casas e distribuindo panfletos informativos da dengue, telas para cobertura de tambores e jarras utilizados nos armazenamento de água e identificando situações de risco para proliferação do vetor nas residências. As crianças também levaram as plaquinhas que confeccionaram para a caminhada, que contou ainda com um carro de som de apoio, transmitindo frases de incentivo no combate à dengue.
        Esse projeto só se tornou realidade graças a uma parceria entre as escolas envolvidas, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, profissionais de saúde da UBS de Mangabeira e a Secretaria Municipal de Saúde de Macaíba.

Caminhada "Dengue: se você não ajudar, o bicho vai pegar"Crianças como agentes de prevençãoNo percurso os alunos iam identificando várias potenciais criadouros do mosquito

RESULTADOS E CONCLUSÃO

          De acordo com os depoimentos colhidos junto a professores, alunos e moradores do local afetado, a ação foi um sucesso do ponto de vista do estímulo aos cidadãos para que se apoderem de pelo menos parte da responsabilidade sobre sua própria saúde, saindo de uma posição passiva e atuando na comunidade para torná-la mais limpa e livre da dengue, transformando-se em agentes sociais de mudança. Conforme observado na caminhada, que foi o momento de colocarem em prática tudo que haviam aprendido, as crianças absorveram com propriedade os conceitos transmitidos e mostraram desenvoltura ao passá-los para frente, orientando os moradores de Mangabeira.
         No que se refere ao treinamento ministrado junto à equipe de saúde, também consideramos a experiência muito produtiva e essencial, visto que grande parte dos óbitos nos casos de dengue grave se deve a falhas no manejo desses pacientes. Como a Atenção Básica é a porta de entrada dos níveis de assistência, além de geralmente estar apta a resolver a maioria dos casos não-complicados da doença, é ela que deve receber o enfoque das ações relacionadas ao combate à dengue.
     Por fim, é sempre importante salientar a presença da Educação em Saúde como medida estratégica de suma importância nas ações de promoção à saúde e prevenção de agravos específicos, as quais são parte integrante e indissociável da Estratégia em Saúde da Família. O acesso dos usuários e profissionais da área à informação é essencial tendo em vista o conceito ampliado de saúde, e abarca em si uma idéia de continuidade, pois ações pontuais costumam ser efetivas apenas em situações pontuais, e o objetivo nesse caso é transformar toda uma realidade estabelecida.

Equipe UBS de Mangabeira e estudantes de Medicina unidos na empreitada