Liberdade para os filhos de Francisco *
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
música Haiti de Caetano Velloso e Gilberto Gil
Ainda há presos políticos neste país. Francisco é catador de lixo. Leonor é dona de casa. Seus 05 filhos estão em abrigos terceirizados há dois meses. A família é acusada de um crime imperdoável: pobreza. A decisão unilateral de uma assistente social, contrariou o parecer da equipe de saúde da família, que conseguira resgatar as crianças do abrigo na primeira vez, e precipitou mais uma intervenção desastrada da justiça. Este nome "VARA" da infância...
Toda a equipe se mobilizara porque percebera que naquela família haviam laços afetivos fortes e preciosos. O filho mais velho (12 anos) costumava faltar aulas para imitar o trabalho do pai e ajudar em casa. Era zeloso dos irmãos mais novos. Agora está ameaçado de ser enviado sozinho para a antiga FEBEM, porque logo não terá idade de continuar no abrigo com os irmãos. Para os mais novos será mais um golpe. Os pais estão desesperados. Não podem ver as crianças. Não entendem o que se passa. Perguntam à médica constantemente: "doutora, nesta rua tem tanto bandido, tanto traficante. Eu não sou bandido.... por que fazem isto comigo?" Os pais estão indecisos, entre continuar se submetendo a uma rotina humilhante de cursos de culinária e alfabetização em busca de um duvidoso e incerto "perdão" da justiça, ou desistir de tudo, fugir do pesadelo, deixar os filhos para trás e voltar para o interior. Assim poderiam ficar com pelo menos um, que por hora está salvo, na barriga de Leonor. "O que eu faço, doutora?" , pergunta o pai. Ele espera ser perdoado. Perdoado por ter sobrevivido com a simplicidade necessária, às situações de mais aguda miséria, à fome dos filhos e à indiferença do mundo. Sobreviveram. Mas ele não podia imaginar o quanto podia sentir falta da indiferença. Uma engrenagem enlouquecida diz que as suas crianças tem "o direito" (que diabos é isto?") de estar num abrigo, de ir para a FEBEM, mas não tem o direito de viver com seus pais.
A equipe não sabe o que dizer ao sr. Francisco. Não sabe o que fazer diante da violência caridosa da justiça.
* Francisco e Leonor são nomes fictícios. O restante infelizmente é verdade.
Por Emilia Alves de Sousa
Oi Gustavo,
Que realidade triste!. Espero que encontrem
uma alternativa adequada para o enfrentamento
do problema!
Um abraço!!!
Emília