O criador de mundos e o líder militar carismático.
Inspirado em uma cena do filme "10.000 anos A.C." de Roland Emmerich.
A corrupção existe porque o bem coletivo e a proteção dos seus é incompatível, na maioria das vezes. Afinal, o poder serve para para cuidar de si e dos seus…
A maioria dos homens traça um círculo em volta da família e dos amigos e trabalham para protegê-los. Outros traçam um círculo maior e trabalham para toda a tribo. Poucos podem expandir seu círculo para além de todas as famílias da tribo e lutam para proteger uma coisa abstrata que não existe até que alguém lute por ela: Uma nação, uma pátria, um povo.
Mas somente as mulheres podem manter as famílias destes homens. Pois são elas que suportam a falta que eles fazem em sua própria casa. Elas tem que suportar também o zelo que o grande homem tem para com os filhos de outros homens, enquanto o seus próprios filhos crescem sem a presença do pai.
A civilização é obra da abnegação das mulheres e da arrogância dos homens que se pensam responsáveis por muitos e não podem proteger nem os seus…
Por isso, alguns grandes homens tem de enriquecer. Para suprirem com coisas, a falta que fazem em sua casa.
Há entretanto, outras pessoas ainda mais raras. Podem ser pobres em poder e dinheiro, mas são ricas em produção do bem maior que move a humanidade. Estas pessoas fabricam valores. Podem abandonar as regras e sonhos de uma época por que são capazes de criar novos valores, novos sonhos e mudar a face da terra.
Einstein, por vezes, foi um mau marido, um pai vacilante, ausente e capaz de abandonar um filho esquizofrênico. Mas mudou mais a nossa vida e a de nossos filhos do que qualquer líder político, militar ou carismático.
Pela sua obra temos capacidade para criar instrumentos para um suicídio coletivo jamais realizado na história conhecida. E também para enfrentarmos as ameaças de extinção que rondam a nossa espécie desde a aurora da humanidade. O que esse conhecimento não garante é a sabedoria de usá-lo de forma a saciar nossos contraditórios desejos. Talvez não haja saber que dê conta disso: dar-nos saciedade e plenitude.
Por isso, a corrupção na vida pública é mais uma consequência de fatores da vida privada e não uma esfera independente de nossa maneira de ser. Não podemos ser boas pessoas em casa e bandidos na rua.
Embora, sempre pareceremos melhores em uma esfera do que na outra. Exatamente por sermos amados por uns e, odiados por outros.
Mas é apenas um mito que um bom líder tenha que ser um bom ou mau chefe de família. Na verdade, cada caso é um caso. E nossa suposta identidade individual é na verdade a composição de uma legião de modos de ser agregados pela memória e pelo hábito…
Por Rejane Guedes
Querido amigo de tantas instigações 'pensamentais',
Seu texto evoca [em mim] a memória de leituras e momentos vivenciados no cenário das práticas no SUS. Nas experimentações em rede e no cotidiano dos serviços de saúde.
Há um mundo vivo que dá suporte aos discursos. Mas os discursos jamais serão ou darão conta desse mundo vivo. Por mais que expressemos nosso olhar, ele é parcial e limitado pelas zonas de aproximação e distanciamento de outros olhares.
Encontro na sua escrita passagens 'convergentes' que denomino CONEXÕES. Estas incitam fluxos de outras expressões…
Seleciono um trecho que particularmente me 'salta aos olhos': "A maioria dos homens traça um círculo em volta da família e dos amigos e trabalham para protegê-los. Outros traçam um círculo maior e trabalham para toda a tribo. Poucos podem expandir seu círculo para além de todas as famílias da tribo e lutam para proteger uma coisa abstrata que não existe até que alguém lute por ela: Uma nação, uma pátria, um povo."
Desconfio que nessa construção coletiva da realidade em rede transbordamos a noção de 'círculos' para aquelas 'zonas de intensidade' ou fluxos de velocidades e lentidões concomitantes, zonas de autonomia sempre temporárias, sempre em transformação…
Agradeço pela preciosa contribuição que tanto afeta [meus] modos de pensar e experimentar.
Saudações nutritivas. Rejane.