Mil anos a mil

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Percebo que a partir da meia idade, vamos perdendo uma certa espontaneidade em professar a esperança e a alegria de viver. Numa cultura que supervaloriza a autonomia, o individualismo e a juventude, a sabedoria que vem com a idade toma expressão na seriedade sisuda que caracteriza os rabugentos e mal humorados.

Mas é uma bobagem. Não somos mais tristes porque a realidade do envelhecimento nos torna céticos. O ceticismo não implica numa renúncia a felicidade, ao sonho e a esperança. Não é porque conhecemos bem, que deveríamos amar menos. Ao contrário, tanto as pessoas, como os hábitos que nos são caros, merecem mais amor e paixão, na medida em que sejam cada vez mais bem experenciados…

É um preconceito tosco achar que a paixão, o desejo e a sensualidade se retraiam com a idade. Se agimos assim, não é pelo endurecimento suposto que acompanha o avanço da idade. É porque cedemos ao impulso da manada e bovinamente nos instituímos dentro dos limites que o senso comum traça para nós.

Só para ser do contra, para ser eu mesmo, continuo acreditando em beijo na boca, de língua, em sexo apaixonado e tesão. A sabedoria dos anos não me fez, nem mais, nem menos. Acredito que sou eu com um aroma encorpado e o sabor que só o tempo confere a quem teve a sorte de estar envelhecendo numa atmosfera intensa e alegre.