Brinquedoteca e a importância do brincar – Instituto de Psiquiatria

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A brinquedoteca Terapêutica do Instituto de Psiquiatria (IPq) é um espaço preparado para estimular a criança a brincar, reconhecendo essa prática como universal e própria da saúde e estabelecendo uma atitude social positiva em relação à brincadeira. Trata-se de um ambiente especialmente lúdico, que possibilita o acesso da criança a uma variedade de brinquedos e oferece espaços que incentivam a brincadeira, a dramatização, a construção, a solução de problemas, a socialização e a criatividade.
A criança adquire experiência brincando – a brincadeira é uma parcela importante de sua vida, e traz prazer em todas as suas expressões físicas e emocionais. O brincar é universal e próprio da saúde, facilita o crescimento, conduz aos relacionamentos grupais e pode ser uma forma de comunicação na psicoterapia. Permitir que as crianças brinquem é, em si, uma psicoterapia com aplicação imediata e universal, e gera uma atitude social positiva com respeito ao brincar.
Segundo Donald Winnicott, psicanalista e pediatra britânico, a importância do brincar não está no conteúdo, mas no brincar em si, no tipo de concentração que o caracteriza, no fato de a criança ser capaz de perder-se ali, mergulhada em um estado de quase alheamento. Esse estado só pode ocorrer se houver a incorporação do sentimento de segurança, de que existe alguém cuidando da permanência das coisas lá fora, e é a matriz da concentração na criança maior e no adulto.
Arminda Aberastury, psicanalista argentina, sintetiza bem o processo lúdico quando diz que “o brinquedo possui muitas das características dos objetos reais, mas, por seu tamanho, pelo fato de a criança exercer domínio sobre ele, transforma-se no instrumento para o domínio de situações penosas, difíceis, traumáticas, que se engendram na relação com objetos reais. Além disso, o brinquedo é substituível e permite que a criança repita, à vontade, situações prazerosas e dolorosas que, entretanto, ela por si mesma não pode reproduzir no mundo real”.
A brincadeira, as artes e o uso das formas auxiliam a unificação e integração geral da personalidade. Através do brincar a criança adquire experiência, e sua personalidade evolui por intermédio de suas próprias brincadeiras e das invenções de outras crianças e adultos. O adulto sempre contribui com o desenvolvimento da criança e adolescente, pelo reconhecimento do grande lugar que cabe à brincadeira e pelo ensino de brincadeiras, desde que não obstrua a iniciativa própria da criança. Através do brinquedo, a criança lida criativamente com a realidade externa e isso conduz à capacidade de sentir-se real e de sentir que a vida pode ser enriquecida.
Além dos aspectos psicológicos, o brinquedo dá à criança prática em lidar com objetos, administrar sua coordenação, suas habilidades e julgamentos. Através do brincar a criança descobre ter um poder limitado de controlar, mas, ao mesmo Marisol Montero Sendin Pediatra, Hebiatra, Psicanalista, Ludoterapeuta Responsável pela Brinquedoteca Terapêutica do IPq tempo, descobre o campo de ação ilimitado da imaginação. Ao brincar a criança desloca para o exterior os seus medos, angústias e problemas internos, dominando-os por meio da ação. Repete no brinquedo situações que foram excessivamente difíceis e isso lhe permite, com o domínio sobre os objetos externos a seu alcance, modificar um fato que lhe foi penoso, tolerar papéis e situações que, talvez, não conseguisse na vida real e, também, repetir à vontade situações prazerosas.
A satisfação direta ou indireta, obtida na atividade lúdica, cede lugar ao prazer evolutivamente no produto terminado da atividade, o que é considerado por muitos autores um pré- -requisito indispensável para o bom rendimento escolar da criança. A aptidão lúdica converte-se progressivamente em aptidão para o trabalho quando certas faculdades adicionais foram adquiridas, tais como: controlar, inibir ou modificar os impulsos para usar materiais agressiva e destrutivamente (despedaçar, arremessar, misturar, acumular) e usá-los, pelo contrário, positiva e construtivamente (planejar, construir, aprender e, na vida social, repartir), executar planos preconcebidos de modo adaptado à realidade e levados a termo após um considerável período de tempo, se necessário, sem necessidade de satisfação imediata, suportando frustrações e postergando o prazer para o resultado final.
O acervo da Brinquedoteca procura abarcar as necessidades físicas, emocionais, socioculturais e intelectuais de crianças/adolescentes de 5 a 18 anos. Os recursos humanos são os profissionais, voluntários, estagiários e aprimorandos das áreas de Medicina, Psicologia, Terapia Ocupacional, Fonoaudióloga, Enfermagem e Pedagogia.
As atividades desenvolvidas incluem o brincar livre; atendimentos individuais; atendimentos em grupo (por idade); atendimento conjunto da criança/adolescente e familiar; atendimento das crianças/adolescentes e suas famílias (oficina lúdica), a Terapia/Ludoterapia/Educação Assistidas por Cães e a Oficina de Contação de Histórias.

Para isso, a Brinquedoteca tem como objetivos principais oferecer um espaço lúdico que propicie o resgate da capacidade simbólica que o brincar permite, contribuindo para a estabilização psíquica e emocional, interiorização e expressão das vivências e para a melhoria da qualidade das relações interpessoais das crianças, adolescentes e suas famílias.

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Fonte: Jornal da FFM – Publicação Bimestral da Fundação Faculdade de Medicina – ano XIV – nº 79 – mai/jun 2015