A Reforma Trabalhista, aprovada ontem no senado federal, baseia-se na hipótese de que a alocação de recursos é uma necessidade que o mercado provê de modo ótimo nas relações de oferta e procura em um mercado livre. Esse ideal jamais foi observado plenamente em nenhum momento da história.
Como o planejamento centralizado, a crença nos poderes humanos é um tributo universal ao desejo. Nada indica que qualquer racionalismo possa espelhar fielmente a totalidade do real. Muito menos, indica caminhos onde a realidade se dobre aos nossos projetos.
Por outro lado, não é necessária nenhuma teoria para que aceitemos o fato de que relações de força sempre levam a dominação do mais forte. Pelo menos enquanto a correlação de forças não se altere.
No momento vivemos a paradoxal conjuntura em que quem controla o estoque de valores monetários se comporta como uma orda de esqualidos desesperados. Os oligarcas se atiram como predadores famintos sobre os trabalhadores. Segundo eles, não há empregos, nem moeda suficiente para garantir uma remuneração adequada a todos.
É certo que somos mais de sete bilhões de seres, a maior população de humanos que a terra já teve. Mas o que, exatamente, sustenta a ideia de que vivemos, de fato, uma era da escassez?
Hiper produção, automatização, robótica, safras recordes, computação cognitiva, comunicação global de baixo custo, acelerado desenvolvimento tecnológico em todas as áreas do conhecimento, entre muitos outros fatores, indicam que o sofrimento humano está relacionado a distribuição e aos critérios de acesso aos recursos decorrentes da hiper produção industrial.
Fundamentalmente, em nosso imaginário, a condição humana parece estar longe de ser o suficiente para a garantia de acesso a uma existência plena. A vida humana, espuriamente, só tem valor quando encontra justificativa no dinheiro.
Nós produzimos miséria através de uma escassez artificialmente sustentada. Uma grande parte da riqueza humana está investida em armamentos de destruição em massa. Outra, está congelada em ativos concentrados numa ínfima fração de pessoas – os oligarcas do sistema financeiro.
A produção de valores, de determinados tipos de riqueza e de escassez, explica nossa miséria em meio a abundância.