Em 2020 nos deparamos com os limites da ciência ao lidar com eventos novos. O salto do Coronavírus para a espécie humana era previsto de modo insistente pelos virologistas há muito tempo. No entanto, os outros ramos da ciência não puderam convencer os governantes a se prepararem adequadamente para lidar com uma já esperada pandemia.
O surgimento do Coronavírus e da Covid-19 constitui um fenômeno natural que se potencializa ao eclodir em meio ao modo de vida, a forma de sociedade e o estágio civilizatório em que estamos. É possível que o encontro entre um patógeno e outro modo civilizatório não fosse tão catastrófico. Talvez o que estamos aprendendo agora seja útil para lidar com a recorrência de pandemias ao longo dos próximos séculos.
A força da ciência, em relação à crença, está em potencializar nossa capacidade de persistir como espécie. Nesse sentido, nossas crenças, quando não examinadas de modo racional, nos condenam a possibilidade real de intenso sofrimento e até mesmo da extinção.
Precisamos admitir a ameaça que constitui sermos uma espécie que não consegue viver em equilíbrio com seu ambiente. A Covid-19 é uma consequência de nosso modo de lidar com a realidade.
Mesmo com toda dor e sofrimento que ela está causando ela está criando uma série de condições para mudar nossa relação com o ambiente. É isso ou a Covid-19 será o primeiro degrau de uma queda contínua para a espécie humana.
Há cerca de 400 mil anos, uma mega erupção vulcânica matou a maioria dos seres humanos que habitavam a terra. Eram ainda caçadores coletores. Após a catástrofe, a humanidade em todo o planeta não seria suficiente para lotar um estádio de esportes. Esses poucos remanescentes de milhões de humanos deixaram uma herança genética que está no DNA de todos os povos do mundo atual.
Para além dos mitos religiosos de criação do mundo, são esses os seres humanos que deram origem às narrativas religiosas que tentavam explicar a origem da humanidade.
Nós superamos ameaças geológicas e cósmicas com muito menos recursos do que temos atualmente. A sabedoria que nos trouxe até aqui tinha como base o respeito pelo aspecto misterioso, desconhecido e ameaçador da realidade.
Hoje, com todo o conhecimento que acumulamos, não é diferente. A realidade exige persistência e humildade para buscar o equilíbrio entre a civilização e o ambiente que a sustenta. Se o delicado equilíbrio entre as espécies e o ambiente for ameaçado, nós sofreremos grandes perigos.
A dor que estamos passando pela negligência calculada dos governantes do Brasil deve ser punida como crime contra a humanidade. A onda de negacionismo da ciência representa uma pulsão de morte que constitui um tipo de surto suicida que se espalhou pela população a partir da ação de grupos e instituições corrompidas.
Combater essa psicose coletiva é tão importante quanto combater a pandemia de Covid-19. De fato uma coisa não pode ser feita isoladamente da outra. O negacionismo científico e as mortes por Covid-19 estão diretamente relacionadas.
Por Danila Simone Cassiano Alves de Albuquerque
Excelente post! Assistimos com perplexidade todos os dias sobre diversos assuntos que geram o “vírus da corrente negativista”. E os números estão aí. Infelizmente o Brasil se aproxima dos 250 milhões de mortos por covid-19, ao mesmo tempo em que as “fake news” ainda ameaçam na pandemia. São milhões de “curas milagrosas”, movimentos anti-vacinas, pessoas que apoiam políticos que negam a ciência e que não dão exemplo para o controle dos mecanismos de proteção, num momento em que o contágio só cresce no Brasil.