A experiência da Tenda do Conto no cotidiano escolar.

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Foto do psicólogo sentado numa cadeira, ao fundo uma cortina branca, no meio da sala um pano vermelho com papeis e uma caixa vermelha e branca.

Registro da tenda do conto na Escola Rural José Batista de Melo, Avencas, Gravatá-PE.

A tenda do conto é uma prática dialógica, metodologia participativa, na perspectiva da promoção da saúde, desenvolvida por Jacqueline Gadelha, enfermeira e pesquisadora, do Rio Grande do Norte. Apostando na sensibilidade da escuta, Jacqueline propôs uma ação que convidava usuários do SUS para contar suas histórias, e ouvir atentamente os contos de outros usuários, criando um círculo de memórias, afetos, conexão com o passado e ressignificação do presente.

Inspirado nessa metodologia participativa, adaptei a tenda do conto no cotidiano da escola, convidando professores, diretores, coordenadores e outros profissionais da educação para um momento de integração e expressão de seus afetos. O movimento de falar sobre si e de ouvir o outro, trouxe aos participantes a oportunidade de aproximação de suas histórias de vida, percebidas pela emoção coletiva, pelo “obrigado por me ouvir” ou “eu não sabia de sua história”.

Vale destacar a história do Professor Paulo, que trouxe dois anéis para representar seu objeto de valor, um representando a construção de sua família e outro, representando sua formatura. Paulo nasceu num bairro simples da cidade de Gravatá, PE, e fez parte de uma ONG que mudou o percurso de sua vida, conhecida como Obra Da Infância Pobre (ODIP). Ainda criança foi incentivado a praticar esportes e a estudar, tendo como referência os ensinamentos do Dom Bosco, do grupo Salesianas. Escolher aquele objeto fez com que ele voltasse no tempo, e recordasse a simplicidade em que vivia, e se emocionou ao falar dos professores que lhe inspiraram a também ser professor.

Foto de um homem de camisa branca, calça preta e tênis brancos. No fundo uma cortina branca e no centro da sala um pano vermelho com papeis e uma caixa vermelha e branca

Professor de Educação Física da Escola José Batista de Melo, Avencas, Gravatá-PE.

Outro momento interessante foi a participação de seu Henrique, motorista do ônibus escolar, que ao perceber o movimento na sala de aula se aproximou, pediu para participar da atividade, e em seguida retirou algumas chaves de dentro da caixa, o que representava toda sua história profissional. Falar do seu passado trouxe importantes recordações sobre a construção de sua família, das dificuldades que enfrentava na Região Metropolitana do Recife, e de sua aposentadoria enquanto motorista. O ato de falar sobre sua vida também faz com que seu Henrique refletisse sobre o lugar que ele ocupava na escola, de sua responsabilidade ao transportar as crianças, os adolescentes e os jovens.

Foto de um senhor de óculos, motorista do ônibus escolar. Ao fundo uma cortila branca e vermelha, no centro da sala um pano vermelho com papeis e uma caixa vermelha e branca

Motorista da Escola José Batista de Melo, Zona Rural de Gravatá-PE.

Por fim, a partir dessa sensibilização, refletimos sobre a educação socioemocional e dinamização em sala de aula.   Observamos que o cenário pós-pandemia nos trouxe uma preocupação sobre saúde mental na educação e da necessidade de ampliar o debate nos diversos espaços da escola.

Experiência vivida na Escola José Batista de Melo, Distrito rural de Avencas, Gravatá/PE.

 

Referência: FÉLIX-SILVA, Antonio Vladimir, et al. A tenda do conto como prática integrativa de cuidado na atenção básica. Natal: Edunp, 2014.