O isolamento social e a quarentena consistem nas únicas alternativas de prevenção e controle da pandemia de Covid-19. O já célebre achatamento da curva, no gráfico das infeções, permite lidar com mais segurança e menos custos mantendo a incidência de casos dentro das possibilidades estruturais dos sistemas de saúde.
Os modelos matemáticos são obtidos a partir dos dados que estão sendo obtidos desde dezembro de 2019. Em muitos lugares eles já indicam o colapso dos serviços sanitários.
Outras infecções, a despeito de todos as pesquisas e investimentos, permanecem há décadas sem vacinas ou curas eficazes. Há algumas doenças infecciosas que podem ser tratadas ou controladas. No entanto, uma estrutura de serviços públicos e acesso ao saneamento básico são essenciais mesmo para os agravos à saúde que conhecemos bem.
A tese da “imunização de rebanho” supõe uma benignidade na infecção por coronavírus que carece de evidências. Os chefes de Estado que tentaram lidar com o fenômeno novo com ferramentas antigas estão amargando fracassos históricos.
Não é certeza que se adquira imunidade para a Covid-19 após a infecção. Se esse for o caso, não sabemos por quanto tempo essa hipotética imunidade natural pode persistir.
O princípio da precaução, observado pelos cientistas, consiste em não considerar o desejo como fato. Estamos diante de uma situação de grande incerteza. Há casos de reincidência dos sintomas em pessoas que já estavam curadas. A dengue é uma virose que não confere imunidade e suas reincidências podem ser ainda mais graves em uma mesma pessoa.
O mundo pode não retornar a normalidade anterior pelo fato de que a Covid-19 possa se constituir num desafio de médio ou longo prazo, marcado por sucessivas e periódicas ondas epidêmicas em diferentes regiões do planeta.
Talvez não devamos mesmo nem desejar voltar ao absurdo que chamávamos de normalidade alguns meses atrás. Afinal foi aquela “normalidade” que nos trouxe a essa situação.
A pandemia é simultaneamente um fenômeno natural e artificial. A adaptação de uma cepa viral ao organismo humano acontece desde sempre. Mas é necessário uma civilização industrial globalizada em termos predatórios em relação ao ecossistema e suas formas de vida, para que o atual cenário tenha se tornado possível. Esse mundo corresponde ao modo de vida que realizamos ao longo da história.
Estamos diante de uma situação trágica. Dela podem surgir ainda muitas outras crises, como fome endêmica, guerras entre grandes potências militares e as consequências humanitárias do problema da péssima distribuição de riqueza e recursos ao redor do planeta.
Mas em lugar de nós entrarmos em pânico e desespero, precisamos ser tão realistas, quanto inventivos. A criação de um outro mundo e novas e melhores realidades sociais é o único caminho viável para a civilização e para a espécie humana.
Podemos, como já fizemos antes, mudar nosso modo de existir para continuarmos existindo.