A MÁQUINA EXPRESSIVA DO SUS – RHS 10 EM DEZ-COBERTA
Fui descoberto pela RHS lá em seus primórdios, antes mesmo do período em que atuei como consultor da PNH, o belimpávido período de 2011 a 2015, quando conheci potências existenciais que para sempre marcaram a minha vida.
Já no primeiro encontro, a certeza de uma rede quente se desdobrando em possíveis, cuja potência sempre em incremento chamei de Máquina Expressiva do SUS. Enfim, o tripé do trabalho imaterial, a cooperação, a comunicação e a subjetividade, tripé que Lazzarato e Negri (2001) nomeiam a máquina biopolítica do trabalho imaterial, me parecia ganhar existência em uma rede que se constituía com a finalidade de expressar vozes plurais em sua diversidade de entendimento do que constituía um movimento que conclamava à ação de comunicar e o fazia de dentro do movimento Susista.
Para mim, era como se todo o movimento social que constituiu o SUS, em sua luta contra o autoritarismo, estivesse sendo conclamado a reaparecer e reacender sua força expressiva que grassaria na Constituição o célebre axioma: Saúde é direito de todos e dever do Estado.
Saúde com letra maiúscula porque entendia a indissociabilidade entre atenção e gestão do SUS, a inseparabilidade absoluta entre clínica e política. Era, então, uma in-vocação, porque chamava para dentro de uma rede social autônoma, apesar de dentro da máquina de governo, a multitude de vozes que possibilitaram o SUS, em seu heterogêneo, complexo e disputado movimento constituinte. Um canal que se abria para todas estas vozes aparecerem e expressarem seu entendimento do que vem a ser humanização em saúde, saúde pública e coletiva, a bem dizer, saúde como defesa inalienável da vida digna de ser vivida em sua plenitude multipotenciária de contágio. Proposta tão audaciosa e original que, mesmo que não desse certo, já teria valido a pena ser efetuada.
Mas deu certo, para lá de certo, e a máquina expressiva do SUS foi nos descobrindo em nossa militância em qualquer pontinho, por mais ínfimo que fosse, e trazendo a tona a certeza de que não estávamos sozinhos e que, mais, apesar de todos os pesares, ousávamos ser alegres, afetáveis e vivos em nossa luta que, como uma Kizomba, a RHS convocava a um “evento que congraça gente de todas as raças numa mesma emoção”. Máquina expressiva sim porque:
“Tem a força da cultura
Tem a arte e a bravura
E o bom jogo de cintura
Faz valer seus ideais
E a beleza pura dos seus rituais”.
Enfim, a festa continua aberta e pulsante em toda a avalanche de catástrofe que nos parece assolar neste momento, quando, mais que nunca, querem agonizar um SUS que respira por nós, tendo sua vida necessidade de nosso sangue e corpo que, como antes, o encarne como um impossível de desfazer depois de refeito, porque mexer com o SUS é mexer com nossos nervos e ossos, é nos afrontar em nossa mais íntima potência. “Anastácia não se deixou escravizar”, porque como raça menor, também somos Zumbi dos Palmares; também somos Macunaíma que pinta o corpo para a festa, em alegria, mas também para a guerra, em paixão de morte.
Dez anos desta Kizomba Rhsfosforescente, esta dez-coberta em que tantos, por detrás do virtus, é também potência aberta em possíveis que precisamos descobrir e habitar.
Um grande afago nestas vidas por detrás da vida da RHS, grandes amigos que aprendi a admirar, um grande huhuuu para todos e em especial para o Ricardo Teixeira, incansável pai/filho anômalo selvagem da paixão pelo SUS, criador/criatura da máquina afetiva que ele também é.
Um grande aconchego em todos nós que transitou, transitamos e transitarão nesta afetiva rede comunicativa de colaboração com a luta de todos.
Se esta potência continua aberta e por ser efetuada, façamos dela o que ela é: máquina expressiva de todas as vozes, Kizomba SUS.
Ubuntu para a RHS.
UBUNTODOS POR UM! (https://redehumanizasus.net/92967-ubuntodos-por-um/)
Ocupar é a razão de todo corpo (https://redehumanizasus.net/95029-o-que-nos-cabe/).
LAZZARATO, Maurizio & NEGRI, Antonio. Trabalho Imaterial. Rio de Janeiro, DP&A, 2001
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
5:39h da manhã… acordo tomada pelas impressões deixadas por jovens que conheci ontem em um novo grupo formado e pela alegria de ter trocado uma mirada para a vida como “faltosa” por um olhar que a toma em toda a sua dimensão de plenitude. Isto devo ao encontro com Deleuze e, por intermédio dele, com Spinoza. Espero com isso poder contagiar meus amados pacientes também. Porque por eles já sou contagiada todos os dias.
Mas outro encontro tão belo e grande é este relatado nas palavras do poeta Miguel aqui hoje. E tal não é a minha surpresa ao encontrá-lo no exato momento em que agradeço mentalmente aos amigos que me apresentaram a este modo de pensar e viver marcado pela intensidade dos afetos que aumentam a potência de viver.
Agradeço a mais um amigo, Miguel, por nos lembrar e reacender as possibilidades de compor com idéias e um grupo tão especial como o que pôde sonhar e criar a política nacional de humanização do SUS em seus primeiros tempos. Queridos como Regina Benevides, Eduardo Passos, Gustavo Oliveira, Dário Pasche, Cláudia Peju Matthes, Luciane Réggio, André Benedito, Dani Matielo, Patrícia Silva, Mariana Oliveira, Emília Souza, Jacqueline Abrantes, Rejane Guedes, Débora Aligieri, Sabrina Ferigato, enfim, a lista é quase infinita.
E ao Ricardo, nossa homenagem e admiração, definida de modo belíssimo neste post como o “incansável pai/filho anômalo selvagem da paixão pelo SUS, criador/criatura da máquina afetiva que ele também é”.
HU!!!