A pandemia deixou evidente a origem de toda riqueza.
Sem o consumo de mercadorias e o pagamento de impostos não há desenvolvimento. Ou seja, nos termos da espécie humana, o trabalho e o sustento da vida são tão importantes e necessários para produção de riqueza, quanto a atividade intelectual e o desenvolvimento tecnológico.
De modo preciso os dois fenômenos, a ciência como empreendimento e o trabalho como gesto intrínseco a todos nós, mesmo o cuidado enquanto trabalho não remunerado, são faces do mesmo fenômeno: o desenvolvimento econômico e tecnológico.
A melhor definição de riqueza corresponde ao que nomeamos como “Bens de Civilização.
Não é suficiente uma ideia genial, a produção de uma tecnologia, para gerar e gerenciar um processo. O mérito empreendedor é necessário, mas insuficiente, em si mesmo, para gerar riqueza. Por isso toda acumulação de riqueza é uma pilhagem dos bens de civilização.
Um empreendimento gerador de riqueza depende da articulação de um sistema simbólico. Um conjunto entre linguagens e gestos coletivos. É necessário o trabalho das pessoas que formam uma comunidade, os habitantes de uma pólis, de uma região, sociedade, império ou, mais recentemente um conjunto de Estados Nação, para gerar riqueza, ou os bens de civilização, que caracterizam nosso modo de existência.
Ao interferir no circuito de produção – e acumulação de riquezas – a pandemia da covid-19 está expondo o mecanismo de expropriação dos bens de civilização que a humanidade gerou ao longo da história do desenvolvimento científico e econômico.