A trajetória da loucura, revisando o passado das pessoas excluídas por uma sociedade
Na antiguidade grega e romana, antes do século V a.C, o homem não conhecia a si mesmo, a loucura era definida como sem razão, aberrações ou distorções dessa natureza eram atribuídas às forças e entidades conhecidas. Nessa época acreditava-se que os deuses se manifestavam de alguma forma, através de mensagens, tudo o que acontecia na vida do homem era por vontade dos deuses ou capricho deles, sendo retratado nos textos de Homero e Hesíodo.
Manifestações motivadas por deuses e demônios, nesse tempo a loucura era identificada pela influência de ideologia religiosa e pela força dos preconceitos sagrados. Em tempos de Inquisição a loucura era considerada como manifestações do sobrenatural, demoníaco e até satânico, e tinha como expressão bruxaria e com o forte poder da igreja o movimento de caça as bruxas comandado pela Inquisição tinha o objetivo de manter a aceitação da crença religiosa.
Dessa forma, ainda nesta época, a loucura era identificada com os perfis dos feiticeiros portadores de supostas doenças mentais que tinha relação entre o poder da igreja e da burguesia, alguns loucos eram protegidos pelas suas famílias, outros eram acorrentados, outros exorcizados, outros queimados (bruxos), entretanto com o desenvolvimento histórico, o poder da igreja foi abalado e o portador de doença mental obteve um novo olhar.
Se até a Renascença, a loucura não era mais que um limite material exterior à razão medieval, no século XIV, Foucault (1979) destaca o fato de que ela passa a circular como saber proibido no cerne da própria cultura. Sua circulação, porém, é restrita ao exterior dos muros das cidades. Relegada ao espaço sem partilha dos campos e das águas nas quais flutua a Nau dos Loucos. Essas embarcações dispunham de um valor simbólico, como um ritual que libertava a sociedade dos doidos. Confiar o louco aos marinheiros era a certeza de evitar que ficasse vagando nas cidades e também de que ele iria para longe, era torná-lo prisioneiro de sua própria partida.
É a partir do século XV que a loucura se insere num universo moral. É nesse universo de idéias e imagens culturais que a loucura se revela de várias formas, as fraquezas humanas se fazem presentes e seus excessos penalizam os homens, que eram confrontados com a sua verdade moral, com as regras próprias à sua natureza e às suas verdades. Neste período, os perigos que a loucura poderia oferecer para influenciar a relação entre o sujeito e as verdades são afastados.
Logo em seguida, num primeiro momento do século XVI, os espaços dos leprosários foram preenchidos pelos portadores de doenças venéreas e sob influência do modo de internamento, esse mal com o tempo foi controlado, mas por meados do século XVII, se integrou ao lado da loucura num espaço de exclusão, devido o crescimento das cidades, com o poder das relações políticas e com o desenvolvimento da industrialização.
Com o declínio do poder da igreja e da interpretação religiosa do mundo, o complexo inquisidor-feiticeira desapareceu e, em seu lugar, surgiu o complexo alienista-insano mental.
Nesse período, foram criados, em território europeu, os primeiros estabelecimentos para internação, destinados a receber os loucos, enfim, todos aqueles que, em relação à ordem da razão, da moral e da sociedade, demonstravam fonte de desordem e desorganização moral.
Uma história que vem mudando desde a Reforma Psiquiátrica, mas que ainda passa por muitas adversidades e dificuldades, uma luta que não devemos abandonar.
Por:
Carmen Suzana Correa Arena
Cícera Márcia Lúcio Barbosa
Referências:
1. Revista de psicofisiologia, 1(1),1997.
2. SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas versão On-line ISSN 1806-6976.
3. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) v.4 n.2 Ribeirão Preto ago. 2008.
4. WEB ARTIGOS HISTÓRIA DA LOUCURA publicado em 13 de october de 2010 por Angélica Piovesan .
5. ECOS | Estudos Contemporâneos da Subjetividade | Volume 6 | Número 2 Revisitando a História da loucura: experiência trágica, exclusão, captura e tutela.
Por Raphael
Olá Cícera,
Peço que a dupla coloque uma figura para ilustrar o post, até sugiro que seja a nau dos loucos.
A postagem de vocês tem a abordagem mais interessante de ler até agora e me permite trazer algumas contribuições para o debate:
Vocês apontam as divindades greco romanas e logo após no curso histórico a possessão demoníaca e a inquisição praticada pela igreja católica como raízes do sofrimento psíquico.
Perguntas Pinga-Fogo ?
1-Em que medida vocês acham que o poder da igreja realmente enfraqueceu, pois não é raro que antes de buscar ajuda médica ( ou concomitantemente) grande parcela da população busque pastores para expulsar seus ” demônios” ou centros espíritas sejam Kardecistas ou de Matriz Africana?
2-Legalmente vivemos o Estado Laico, mas na prática o governo carrega a tradição da Igreja Católica Apostólica Romana, prova clara disso é o feriadão encerrado hoje ( Corpus Christ). Em que medida a crença religiosa pode auxiliar na reabilitação ou atrapalhar a mesma ao reforçar as culpas e fraquezas do sujeito?
Parabéns pela resenha… aguardo resposta para as perguntas.
AbraSUS,
Raphael