Acadêmicos Médicos estimulam criação de vínculo de respeito entre a equipe da ESF e o usuário do SUS

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Medicina, segundo a etimologia da palavra, vem do latim “saber o melhor caminho”, ou “tratar”, “curar”. Dessa forma, o exercício da profissão médica é permeado pelo processo de auxiliar o outro para com a sua própria saúde, tanto na prevenção primária quanto na secundária ou terciária. Assim, o médico é aquele que estuda os processos e sistemas biológicos a fim de promover o bem estar biopsicossocial das pessoas.

No entanto, antes mesmo de deter todo o conhecimento científico, o médico precisa ser capaz de realizar a atividade mais basal e intrínseca do ser humano: a comunicação, de maneira eficiente. Isso porque ela não é apenas o ato de falar algo, mas sim um conjunto de linguagens verbais e não-verbais que, além de dizer coisas, também pode ser terapêutica e estabelecedora de vínculos. Esse vínculo, na prática médica, é determinante para que haja eficiência no diagnóstico e adesão a qualquer tratamento proposto.

Isso nos remete a reflexões sobre como a Medicina é uma profissão que vai além de conhecimento biológico: o ser humano é mais que um conjunto de matérias e reações químicas. A interação humana, o vínculo entre “equipe-usuário do SUS” e a habilidade de comunicar e de interpretar a comunicação do outro é tão imprescindível ao Médico quanto saber o conceito de uma doença. Mais do que um sintoma, o cliente possui uma história, possui dores e problemas. Ele pode ser considerado como um sistema integrado de diversos mecanismos de funcionamento.

Para que possamos “olhar para uma pessoa como um todo”, colocando em prática o “Princípio da Integralidade”, do SUS, precisamos conseguir nos comunicar com ela. Dentro desse contexto, minha experiência no Programa de Aproximação Progressiva à Prática da Universidade do Oeste Paulista, no Campus de Presidente Prudente (PAPP/FAMEPP/UNOESTE) foi determinante para que eu pudesse entender a importância da comunicação na prática médica.

Nessa disciplina, nós somos inseridos, desde o primeiro semestre da faculdade, na rotina de uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) nas cidades de Presidente Prudente e Álvares Machado, no interior de SP. Diferente daquilo que o “Modelo Biomédico” poderia propor, nós não vamos, em um primeiro momento, aplicar medicações e realizar diagnósticos.

Com foco na “Clínica Ampliada” e alicerçados no “Modelo Biopsicossocial”, nós realizamos, sob supervisão docente, visitas domiciliares, sendo instruídos por nossas Facilitadoras, a reconhecer os “determinantes sociais de saúde” da família visitada, construindo um “plano de ação” a partir das Necessidades de Saúde. Observamos as “Condições de Vida”, o “Acesso”, o “Vínculo” e a “Autonomia na maneira de andar a vida” das famílias adotadas por nós, no território ligado a cada ESF, utilizada como cenário de ensino e aprendizagem do PAPP/FAMEPP/UNOESTE.

Não seríamos capazes de realizar tal atividade se não tivéssemos sido preparados sobre: as técnicas de comunicação, a empatia e o vínculo que deve ser estabelecido entre equipe e usuário do SUS. Tivemos, na ESF, a oportunidade de observar, na prática, como a pessoa é um ser não só biológico mas também psicológico e social. Foi possível entender que os nossos planos de ação, criados a partir dos determinantes de saúde que encontramos, só foram efetivos, a partir da criação de vínculos de respeito e confiança, com o usuário SUS. Entendemos que a comunicação, além de uma forma de linguagem, também pode ser terapêutica.

A vivência no PAPP/FAMEPP/UNOESTE me mostrou que a Medicina não pode se resumir a reconhecer a doença. O bom profissional médico deve olhar para o usuário SUS como um ser humano. Dessa forma, é necessário entender que seres humanos sentem mais do que dor física, pois somos seres biopsicossociais, e, para tal, não há exames de imagem, por exemplo, que digam aquilo que só a interação e a comunicação são capazes de explicitar. Para isso, é preciso que rompamos com nossas barreiras culturais e sociais, que sejamos capazes de entender todos os tipos de linguagens e que consigamos nos colocar no lugar do outro. O PAPP traz oportunidades para entendermos e colocarmos em prática os Princípios do SUS: “Integralidade, Equidade e Universalidade. Antes de receitar um medicamento, nós precisamos ser capazes de reconhecer o humano dentro do outro.

As Facilitadoras do PAPP utilizam o “Arco de Maguerez” para estimular a “Reflexão na Ação”, após cada encontro nos territórios ligados às ESFs. Entendi, em um dos encontros que a “alteridade” se refere à experiência internalizada da existência do outro, não como um objeto, mas como um outro sujeito co-presente no mundo das relações intersubjetivas.

Referências:

CORIOLANO-MARINUS, Maria Wanderleya de Lavor; QUEIROGA, Bianca Arruda Manchester de; RUIZ-MORENO, Lidia; LIMA, Luciane Soares de. Comunicação nas práticas em saúde: revisão integrativa da literatura. Saúde e Sociedade, [S.L.], v. 23, n. 4, p. 1356-1369, dez. 2014. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902014000400019.

BERTACHINI, Luciana. A comunicação terapêutica como fator de humanização da Atenção Primária. O Mundo da Saúde, São Paulo, v. 36, n. 3, p. 507-520, set. 2012. Disponível em: http://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/95/14.pdf . Acesso em: 19 nov. 2023.