AgPopSUS: caminho para o fortalecimento do SUS e da participação popular

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O Programa de Formação de Educadores Populares em Saúde (AgPopSUS) do Ministério da Saúde, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ocorreu com a publicação da Portaria GM/MS n.º 1.133, em 16/08/2023, é uma das maiores inovações no campo da formação direcionado a movimentos sociais populares dos últimos tempos.

O certame contemplou 400 turmas espalhadas por todo o Brasil. Cada turma era composta por 20 (vinte) educadores/as e um/a educador/a. Em Alagoas, o AgPopSUS contou com 27 turmas integradas por indígenas, quilombolas, atingidos pelas mineradoras, lideranças comunitárias, sem-terra e marisqueiras.

O Fórum Alagoano em Defesa do SUS e Contra a Privatização da Saúde, ficou responsável por formar duas turmas do território do VII Distrito Sanitário de Maceió, integradas por educandos/as comprometidos com a saúde.

Os 06 eixos formativos do curso de formação incluíram as temáticas de educação popular, agentes de educação popular em saúde, formação do povo brasileiro, território, comunicação, ambiente e vigilância popular, SUS, além das práticas populares de cuidado, soberania alimentar, agrotóxicos e combate à fome. Tais temáticas favoreceram debates, partilhas de experiências e construção de estratégias de ação de saúde nos territórios.

Abordando outros temas essenciais como o feminismo e a luta das mulheres, juventudes, controle social, racismo ambiental, saúde mental, a questão LGBTQIAPN+, saúde do campo, florestas e águas, aprendizados e saberes ancestrais quilombolas, racismo ambiental, população em situação de rua (lutas e saúde), desinformação, fake news e os desafios da comunicação popular, mudanças climáticas e desastres ambientais, dengue.

O curso teve carga horária total de 160 horas, divididas em tempo-escola (aulas teóricas), com 48 horas, e tempo-comunidade (atividades práticas no território), com 112 horas. O curso foi organizado em 6 (seis) aulas, realizadas mensalmente entre março e agosto de 2025, das 08h às 17h, na Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas (EENF/UFAL). Os/as educandos/as receberam uma bolsa contendo camisa, dois livros do curso, caneta, garrafa, boné e broche.

No tempo-escola, utilizavam-se místicas, dinâmicas, leituras coletivas, músicas e cirandas, promovendo a interação entre os/as educandos/as de diversos territórios, respeitando os saberes científicos e populares. As atividades eram realizadas em grande roda, possibilitando um diálogo horizontalizado permeado pela metodologia da problematização.

O tempo-comunidade foi direcionado para o conhecimento do território, suas potencialidades e fragilidades, além da identificação de estratégias de luta e resistência. Propiciou o diálogo com lideranças comunitárias e a identificação dos equipamentos sociais e públicos existentes na comunidade. Essa abordagem permitiu uma imersão prática, incentivando um olhar cuidadoso e amoroso sobre a comunidade, além do reconhecimento dos saberes locais. Estávamos organizados em núcleos de base por território. Nos encontros do tempo-escola, os núcleos compartilhavam as experiências vivenciadas no tempo-comunidade.

Tempo-comunidade dialogando com a liderança comunitária Jersonita.

A seguir, relatos das educandas.

 

Eu consigo expressar minha experiência de forma muito pessoal, porque sempre me vi como um ser humano que precisava fazer algo pela minha comunidade, mas não tinha meios. Sempre lutei, mas me via de mãos atadas porque não conseguia ter respostas para as lutas. Mas o curso de AgPopSUS me direcionou como deve ser feito, como podemos ajudar àqueles que nos confiam suas situações. Pude conhecer a fundo minha comunidade, sua realidade, dificuldades, potências e a história incrível que minha comunidade viveu, até se tornar o que ela é hoje.  Descobrimos também que há coisas que não mudam e precisamos ter muita sabedoria, muita paciência e perseverança. Ainda não me vejo uma liderança para minha comunidade, mas quero estar muito envolvida naquilo que for melhor para todos e todas. O curso AgPopSUS proporcionou isso (Luciana).

Participar deste processo de formação contribuiu para desconstruir e construir possibilidades de trabalho no território. Percebi como o território é vivo, cheio de histórias; o diálogo com os moradores/as mais antigos deu ânimo nesta caminhada para conhecer os desafios, possibilidades e estratégias de melhorias. Durante o tempo-escola, permitiu-se fortalecer o diálogo, a troca de saberes com amorosidade, respeito, empatia e acolhimento. O momento da mística permitia-nos debruçar sobre o nosso interior e vislumbrar o coletivo como espaço de luta e resistência e ESPERANÇAR! (Eladja Oliveira).

O curso do AGPOPSUS me proporcionou um olhar que vai além da comunidade e do território. Ele me inspirou a lutar por uma nova forma de sociabilidade, bem como a cultivar e cuidar do nosso território e da nossa ancestralidade. Como universitária de Serviço Social, vivi uma experiência profundamente enriquecedora com a população, podendo observar de perto as diferentes expressões da questão social e as lutas comunitárias no momento tempo-comunidade. Já no tempo-escola, houve uma intensa troca de experiências, saberes e culturas, além do cultivo de amizades, respeito e reciprocidade. (Maria Eduarda Guedes).

Nossa Educadora: Professora Margarete que nos permitiu Esperançar!

Referências:

Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n° 2.761, de 19 de novembro de 2013. Institui a Política Nacional de Educação Popular em Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (PNEPSSUS). Diário Oficialn da União. 19 Nov 2013.

BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 1.133, de 16 de agosto de 2023. Subtítulo (opcional): Institui o Programa de Formação de Agentes Educadoras e Educadores Populares de Saúde (AgPopSUS). Brasília, DF. 2023.