Alma Assistida: Projeto de desenvolvimento de um prontuário afetivo em ambiente crítico.

Autores:
Fábio Bombarda (médico intensivista, infectologista e professor de Medicina do Unisalesiano), Ana Flávia Lima Fontes, Eloísa Ferraz de Oliveira, Julia de Azevedo Garcia, Marcela Abrão Marques, Melanie Hartfelder Thomas, Vinícius Ramos Jundi (acadêmicos internos do sexto ano da Faculdade de Medicina do Unisalesiano)

Modelo do Prontuário Afetivo desenvolvido pela equipe da UTI adulto 1 da Santa Casa de Araçatuba

Introdução
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um ambiente onde pacientes enfrentam situações extremamente delicadas e desafiadoras, muitas vezes lutando pela vida em meio a tratamentos complexos. Nesse contexto, é fundamental reconhecer não apenas as necessidades clínicas dos pacientes mas também seus aspectos emocionais e psicológicos. A utilização do prontuário afetivo surge como uma ferramenta de apoio para apoiar a abordagem da dimensão humana, oferecendo um cuidado mais individualizado e humanizado aos pacientes.
O prontuário afetivo é descrito como uma abordagem que busca registrar informações não apenas sobre o estado de saúde física dos pacientes, mas também sobre suas preferências pessoais, interesses, relacionamentos e emoções. Ele reconhece que cada paciente é único e possui uma história de vida que influencia diretamente sua experiência durante a internação na UTI. Ao registrar esses aspectos, os profissionais de saúde podem oferecer um cuidado mais individualizado e compassivo, adaptado às necessidades individuais de cada paciente.
Em pesquisa bibliográfica, observamos alguns estudos demonstraram que o uso do prontuário afetivo levou a uma alguma redução nos níveis de ansiedade e estresse dos pacientes internados na UTI, assim como, uma maior satisfação com o cuidado recebido, com sensação de suas necessidades emocionais serem atendidas de forma mais eficaz. Mendes et al. (2019).
Outro estudo realizado por Santos et al. (2020) destacou que a implementação do prontuário afetivo promoveu uma maior humanização do ambiente da UTI, tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde. Os pacientes se sentiram mais acolhidos e compreendidos, enquanto os profissionais relataram uma maior conexão com seus pacientes e uma maior motivação no trabalho.
Portanto, considerando as boas evidencias entendemos ser interessante a utilização deste prontuário informal em nosso ambiente, que contextualize os aspectos afetivos do paciente enquanto estratégia de promoção de bem-estar emocional e humanização no intento de melhorar a qualidade do cuidado oferecido nessas unidades críticas de saúde.

Objetivo:
Implementar um projeto de desenvolvimento de um prontuário informal de contexto afetivo ajustado à dinâmica de trabalho da equipe da unidade de terapia intensiva (UTI) adulto da Santa Casa de Araçatuba, Hospital de referência terciário do noroeste paulista, em pacientes clínicos e cirúrgicos.

Justificativa:
Ampliar os processos de humanização e estreitar as relações entre família, paciente e equipes de saúde.

Metodologia:
O presente grupo de pesquisa, formado pelos alunos do sexto ano supracitados da faculdade de medicina do Unisalesiano, sob orientação do Professor Dr. Fábio Bombarda, realizou duas reuniões cientificas a despeito dos processos de humanização em ambientes críticos, propondo inicialmente um levantamento de literatura técnica com revisão bibliográfica e discutindo sobre a importância do suporte emocional e das necessidades de estreitar as relações entre família, paciente e equipes de saúde onde concluiu-se da importância da do desenvolvimento de prontuários de cunho afetivo a serem implantado na unidade.
Em um segundo momento, realizou-se a elaboração de um modelo de prontuário afetivo adaptado às necessidades da UTI adulto em colaboração multidisciplinar entre médicos, residentes, alunos e equipe de enfermagem.
Entre os aspectos discutidos foi proposto o desenvolvimento de um formulário distinto das documentações oficiais utilizadas habitualmente no prontuário, utilizando-se cores e imagens, assim como a descrição em letras manuais coloridas de modo a cumprir com o objetivo de tornar o processo lúdico e descontraído, compondo o desenvolvimento de uma comunicação informal.
Foram escolhidos temas que correlacionam aspectos pessoais, familiares, afetivos e de preferências que possam apoiar na identificação do indivíduo enquanto ser único.
Por fim, adicionou-se um campo denominado “Mensagem da Família”, onde os familiares podem auxiliar na composição do prontuário descrevendo manualmente um recado para seu ente querido.
Após o desenvolvimento, houve uma reunião de treinamento da equipe para capacitação e comunicação com os familiares e pacientes, assim como as formas de preenchimento e o local a serem afixados, no caso, à beira leito junto da identificação do paciente.

Equipe multidisciplinar de desenvolvimento do projeto de prontuário afetivo da UTI adulto 1 da Santa Casa de Araçatuba

Aplicação prática:

Utilizar canetas hidrográficas de cores diferentes em letras manuais, preenchendo os seguintes campos:

Passo 1: Nome:
Registrar o nome completo do paciente.

Passo 2: Como Gosta de Ser Chamado:
Identificar o nome ou apelido pelo qual o paciente prefere ser chamado, respeitando suas preferências individuais.

Passo 3: Amores da Vida:
Registrar informações sobre as pessoas ou elementos significativos na vida do paciente, como familiares, amigos próximos ou atividades que tragam alegria e satisfação.

Passo 4: O Que Gosta de Fazer:
Documentar hobbies, interesses e atividades que o paciente costuma realizar ou que gostaria de fazer, quando em condições de saúde.

Passo 5: Profissão/Habilidade:
Registrar a profissão ou habilidades especiais do paciente, destacando aspectos que contribuam para sua identidade e autoestima.

Passo 6: Time do Coração:
Identificar o time esportivo favorito do paciente, se aplicável, considerando o potencial de conversa e interação sobre esse interesse durante o período de internação.

Passo 7: Minha Comida Favorita:
Registrar as preferências alimentares do paciente, incluindo comidas favoritas.

Passo 8: Meu Pet:
Identificar se o paciente possui animais de estimação e registrar informações relevantes sobre eles, como nome, espécie e importância na vida do paciente.

Passo 9: O Que Gosto de Ouvir:
Documentar preferências musicais do paciente, incluindo gêneros musicais favoritos, artistas ou músicas que proporcionem conforto e bem-estar.

Passo 10: Minha Fé:
Registrar a afiliação religiosa ou espiritualidade do paciente, se relevante, e considerar a integração de práticas ou rituais religiosos que possam oferecer apoio emocional durante a internação.

Passo 11: Mensagem da Família:
Incluir mensagens ou palavras de incentivo da família ou amigos do paciente, fornecendo suporte emocional adicional e fortalecendo os laços afetivos durante o período de internação na UTI.
Referências:

1.    Mendes, A., et al. (2019). Affective charting: Humanizing care in intensive care units. Intensive and Critical Care Nursing, 52, 79-84.

2.    Santos, R., et al. (2020). The impact of affective charting on the humanization of intensive care: perceptions of patients and healthcare professionals. Journal of Clinical Nursing, 29(5-6), 918-927.