Eu estou orgulhoso do imenso amor que me liga a todos. Não deixamos de amar um milímetro alguém para, só então, amar outra pessoa. Pense se para me amar, você precisasse amar menos outras pessoas… Como seria um mundo onde o amor fosse um jogo de soma zero?
Eu posso morrer de amor pela minha esposa, pelo meu filho ou minha mãe, sem amar menos meu amigo. Eu posso morrer no contexto de meu amor por esse amigo, como já pensei que poderia ter acontecido em alguma situação extrema por que passei, sem que isso, me faça amar menos a qualquer um dos meus familiares.
Na verdade, essa ideia de que o amor é um jogo de soma zero nos faz sermos negligentes com alguns de nossos amores. Fazemos isso para encontrar vantagens no contexto de outros amores. No final, esse jogo de interesses nos faz amar menos a todos.
Soma zero quer dizer que tenho apenas 100% de amor para dar. Então, se eu der 50% para meu filho, vai sobrar 25% para meu irmão e 25% para minha esposa. Percebe, querido leitor, como isso é absurdo? Até porque, em alguma medida, amamos intensamente muitas pessoas. Mas vivo objetivamente mais próximo de meu filho, minha esposa e minha mãe, para pensar num exemplo.
O amor decorre em sua intensidade de uma série de gestos e proximidades. O sentimento no amor é uma consequência da ação ao mesmo tempo em que a desencadeia. Sentir apenas, portanto, é insuficiente para caracterizar o amor.
A medida do amor consiste numa coleção de gestos com variadas intensidades, distribuídos ao longo da passagem inexorável do tempo.
A impossibilidade de se repetir ou dar mais de uma dimensão a cada instante, juntamente com o fato de que nossa capacidade de amar é virtualmente ilimitada, consiste no drama incontornável da existência.