Quando cursava graduação me apaixonei pelo SUS, quanto mais estudava sobre, mais eu me identificava, me emocionava e me motivava. A convicção de que a saúde é um direito e que deve ser universal, integral e saber priorizar os que mais precisam, se tornou uma luta.
Luta é um verbo cheio de metamorfoses em si. A luta para mim assumiu formas diversas durante minha caminhada profissional. Diversos são os modos de lutar. Diversos são os modos de reexistir em luta.
A luta se faz na escuta clínica, no olhar para além do que já está posto. Na busca por entender o contexto do outro. Na prática amorosa e esperançosa. No empoderamento dos colegas de trabalho. Na dúvida, no espaço para o não saber. No construir junto em conjunto.
Hoje, preciso das manhãs que me dão o presente da ilusão de um novo início, de um novo dia para lutar. Preciso delas, e de lavar meu rosto e de lembrar que mesmo sufocada com um sistema que virou mercadoria, acreditar ainda é um ato de luta.
Eu acredito!
Eu acredito nos olhares que me procuram, nas histórias que ouço, que me doem por vezes, mas sempre me engrandecem, me ajudam a me rever e me fazer mais humana. Me reorganizar para ajudar no caos do outro.
Eu acredito na possibilidade de construção. De tijolo em tijolo se faz espaços mais livres, menos preconceituosos, mais tolerantes, mais solidários.
Se hoje olham com um olho diferente para um usuário que antes era considerado um estorvo, já é uma vitória. Já é parte da luta.
Mas lutar cansa. Lutar dói. Lutar embrulha o estômago. Já roí todas as unhas e pensei em desistir.
Me lembrei da sobrecarga de trabalho vivida. Da falta de empatia. Do distanciamento das chefias. Da indisponibilidade interna para a diferença.
Me lembrei das frases odiosas ouvidas nos corredores.
Me lembrei da dor, de por um segundo me imaginar longe daquilo que me faz brilhar os olhos. Dia desses pensei: será que devo seguir no SUS?
No mesmo dia vi uma colega de trabalho sorrir e abraçar uma paciente grávida dizendo: nós estamos aqui para cuidar de você, não vamos te abandonar. Venha falar comigo sempre que precisar!
Antítese simples: oscilação entre seguir ou parar. O amor sempre vence a parada. E como dizia Freud, a pulsão de morte está atrelada a pulsão de vida. A coisa funciona mesmo assim, bem junta.
Logo chega um novo amanhecer. Um novo início. E a sutileza da esperança se apoia na firmeza da luta.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Bárbara querida,
Que relato cheio de afetos que nos aumentam a potência prá seguir na luta. Estamos junto com você pois esta rede construiu ao longo do tempo um jeito inédito de ser rede que nenhuma outra outra pôde constituir. Um jeito que colhe relatos de um SUS cheio de gente que ama o trabalho do cuidado em saúde. Sabemos o que tira a potência de nossa saúde pública e por ela lutamos em todas as frentes possíveis.
um grande abraSUS!!!