As Interfaces da Redução de Danos na Rede de Acompanhamento Terapêutico

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Esse post faz parte do Projeto Itinerâncias da Clínica Psicossocial – Rede de Acompanhantes Terapêuticos na RHS, orientado pelo professor Douglas Casarotto, apresentado semana passada e agora, daremos continuidade com um novo post.

Meu nome é Paulo, sou estudante de psicologia e estou fazendo estágio de acompanhante terapêutico em um CAPS AD na cidade de Santa Maria/RS. Em uma de minhas visitas domiciliares, me peguei inserido em um contexto no qual não tinha tanto embasamento, pensando, como de fato funciona a redução de danos, como eu poderia pensar em um passo inicial, levando em conta essa perspectiva? Essa é uma dúvida que eu e muitas pessoas que se interessam ou cogitam em um momento da vida, seguir por essa área da saúde, tem. A Redução de Danos (RD) vem se consolidando como um importante movimento nacional, impulsionando a construção de uma política de drogas democrática e foi revisando textos e artigos, que pude fazer alguns levantamentos acerca do tema.

Muitos autores abordam a redução de danos como, “uma política de saúde que se propõe a reduzir os prejuízos de natureza biológica, social e econômica do uso de drogas, pautada no respeito ao indivíduo e no seu direito de consumir drogas”. A redução de danos pode ser uma estratégia pensada também a partir de qualquer comportamento que é tido como prejudicial para uma pessoa, comunidade ou região, por exemplo. Como as “palavras redução de danos” em si já dizem, o objetivo é reduzir danos, prever e de forma segura, pensar possibilidades que venham a contribuir com a melhora do paciente ou de seu meio. Esse é objetivo da presente reflexão, elucidar modos de RD, no contexto de álcool/droga.

A redução de danos seria toda estratégia que ajudaria um indivíduo, sem julgamentos por parte do terapeuta. Uma ajuda sem os danos da abstinência ou o peso da cura imediata, mas sim, da melhora gradativa, passo-a-passo, sem pressão, um trabalho continuo entre terapeuta e paciente.

A estratégia mais comum apontada na literatura sobre o tema é a distribuição/ troca de seringas para UDI, mas atualmente, como podemos verificar na cartilha Drogas e Redução de Danos: uma Cartilha para Profissionais da Saúde (BRASIL, 2008), podemos elencar uma gama de estratégias, como por exemplo:

· Para SPA’s Injetáveis: orientação para o não compartilhamento de agulhas e seringas e distribuição de preservativos;

· Para SPA’s Ingeridas: (anfetaminas, benzodiazepínicos, alucinógenos, e antiparkinsonianos, álcool e drogas sintéticas): informação ao usuário sobre dependência e efeitos maléficos da SPA’s, sobre riscos de intoxicação, de desencadeamento de quadros psicóticos, controle da prescrição e venda de medicamentos, alternar o consumo de bebidas alcoólicas com bebidas não alcoólicas, não beber de estômago vazio e necessidade de ingesta de água para usuários de ecstasy.

· Para SPA’s Inaladas e/ou Aspiradas (cocaína, éter, lança- perfume, thinner): orientação quanto à higiene nasal para evitar lesões, utilizar canudos de plástico para o uso, informação sobre os riscos do uso.

· Para SPA’s Fumadas (maconha, crack e tabaco): negociação de troca de substância e/ou diminuição do consumo, informação a respeito dos danos que podem causar e uso do cachimbo para evitar que usuários de crack utilizem objetos sujos como latas para o uso.

Contudo, cabe a nós profissionais da saúde, bem como redutores de danos, estarmos sempre nos reinventando e pensando estratégias que possam ajudar pessoas com tais dificuldades de desvinculação com substancias químicas, não se limitando apenas, as técnicas que são descritas na cartilha, zelando sempre pela melhora de suas saúdes, sem julgamentos e descriminações. O objetivo da reflexão, era esclarecer um pouco mais sobre a RD para pessoas que tenham interesse, curiosidade ou se viram cruzadas com esse caminho, assim como eu, que hoje, vejo o enorme potencial dessa prática.