Atenção Primária à Saúde: seus conceitos experimentados pelos acadêmicos na ESF
Integralidade, coordenação, longitudinalidade, atenção no primeiro contato. Estes são atributos da Atenção Primária à saúde (APS) que devem ser observados em rotinas de serviços de saúde. Como acadêmica no meu terceiro ano de graduação em medicina, tive a oportunidade de vivenciar esses temas – abordados na grade curricular da Universidade do Oeste Paulista, no campus de Presidente Prudente – que ganham diferentes perspectivas ao serem experimentados no cotidiano do Programa de Aproximação Progressiva à Prática, que insere os estudantes em ESFs da região. Observados com foco no cuidado oportuno, envolvem promoção à saúde e prevenção, fundamentalmente necessárias para o bom funcionamento da rede de Atenção Primária. Eles ajudam, na prática, a alicerçar um dos princípios do SUS: a integralidade. Norteado pela universalidade e equidade – a APS vai além de uma medicina resolutiva, com cuidados focados em determinantes sociais de saúde e no usuário como um ser biopsicossocial.
Muitos desses atributos acabam sendo ignorados por alguns trabalhadores da Saúde. O SUS tem ferramentas muito poderosas que ainda não são reconhecidas pelas equipes de Saúde e pela comunidade. A atenção no primeiro contato, por exemplo, está rodeada de muitos processos, desde trabalho multidisciplinar à empatia e respeito em cada encontro da equipe com o usuário – seja por parte da equipe de nível superior como médicos, enfermeiros ou odontológico, seja pela parte administrativa, pelos agentes comunitários ou técnicos de enfermagem.
Muitas vezes os trabalhadores de saúde estão tão focados na doença que acabam esquecendo do indivíduo como um todo. Por isso a medicina centrada na pessoa é tão importante. O usuário do SUS tem uma dimensão biopsicossocial, enfrentando problemas para além da esfera biomédica. Devemos lembrar que o momento da consulta é muito particular. Dessa maneira, tratar cada um com dignidade, oferecer um conforto, com explicações, atenção e interesse são atitudes desejáveis para todos os profissionais da Saúde. Em muitos dos meus encontros com os usuários, acompanhando o médico da ESF, pude presenciar que a anamnese vai muito além de uma simples e rotineira sequência de perguntas. Pelo contrário, ela envolve olho no olho, contato verbal frequente e criação de vínculos de respeito e confiança do profissional para com a pessoa que veio buscar orientações e tratamento.
A longitudinalidade se mostra na existência de uma fonte regular de atenção e seu uso ao longo do tempo, independente da presença de problemas específicos relacionados à saúde. Ela tende a produzir diagnósticos e tratamentos mais precisos que reduzem encaminhamentos. A integralidade, por sua vez, abrange todos esses pontos falados até aqui – porque ela está associada com o cuidado e atenção integral de cada usuário. Deve compor uma Rede de Serviços integrada, com ações para que usuários recebam atenção ampliada na esfera biopsicossocial. O processo saúde e doença deve ser valorizado e a promoção a saúde deve se integrar à prevenção, cura e reabilitação, todas inseridas no contexto da APS. Inclui encaminhamentos para especialidades médicas nos ambulatórios e até para o hospital quando for necessário. Para isso, a integralidade exige a coordenação, ou seja, uma forma de gestão do atendimento. Usuários do Sistema Único de Saúde devem ser preferencialmente atendidos pelos mesmos profissionais, com ajuda dos registros existentes no prontuário médico. Dessa maneira, a equipe deve se esforçar para integrar todo cuidado que o paciente recebe, com foco na coordenação entre os serviços prestados. A atenção coordenada é necessária porque é cada vez maior o número de pessoas que sofrem de mais de uma doença e recebem cuidados de saúde por trabalhadores de diferentes especialidades.
Como atributos derivados, podemos citar a competência cultural e a orientação comunitária e familiar. Ambos sugerem que a equipe de saúde lance um olhar atento a características da comunidade local . Envolve observação de hábitos, linguagens, contexto físico e social, além de contato com as crenças dos usuários.
Esse olhar ampliado da equipe da ESF para os usuários do Sistema único de Saúde dá suporte para organizar uma rede regionalizada de atenção à saúde com fortalecimento da atenção primária e com uma boa repercussão para a saúde pública. Por esse motivo, Estratégias de Saúde da Família estão sendo projetadas para muitas cidades, com o intuito de atenção completa para as comunidades, abrangendo todas as faixas etárias.
Referências
http://aps.saude.gov.br/ape/esf/
https://sisaps.saude.gov.br/painelsaps/saude-familia
Portela, G. Atenção Primária a Saúde: ensaio sobre conceitos aplicados aos estudos nacionais, Physis revista de saúde coletiva, Rio de Janeiro, 27: 255 – 276 , 2017
Por Alex Wander Nenartavis
Parabéns à Acadêmica Paula Rodrigues !
Muito bom poder ler sobre seus progressos.