Meu ceticismo é precisamente em relação a ideia de verdade. Minha aposta é de que toda a verdade construída tem um valor imanente para aquele que a formula. No entanto, não há uma única verdade que permita a mesma sensação de comunhão com o cosmo em todas as pessoas.
Sentiremos o numinoso por diferentes caminhos e encontraremos a nossa verdade. E ela será, de modo incognoscível, complementar e coerente com outras perspectivas.
Segundo Verner Heisenberg “O que observamos não é a natureza, mas a natureza expostas aos nossos métodos de questionamento.” A verdade pode estar, de tal modo além de nosso ferramental perceptivo, que simplesmente toda a nossa filosofia seja similar a fragmentos de um gigantesco cenário, além de nossas possibilidades de entendimento.
É nesse sentido, de conceder um espaço mais amplo para a incerteza, que o ceticismo pode ser útil para evitar a convicção absoluta, num contexto de insuficiência de evidências.
Acredito que o uso dos conceitos metafísicos pode ser deslocado para todos os ciclos do tempo. Início, meio e fim devem ter um espaço equânime na explicação do real.
A conceito de verdade ao qual dirijo minha postura cética se refere a um ordenamento no mundo a partir de causas primeiras. Não vejo como o mistério da vida pode ser encontrado nos fundamentos rasos do tempo passado. Há um espaço infinitamente amplo para a metafísica na totalidade do tempo. Deus, o verbo – aquele que é – pode estar por nascer no que percebemos como porvir, tanto quanto, no aqui e agora.
Quase toda a noção de verdade, que se pretende reordenadora do mundo, busca uma determinação do presente e do futuro a partir de uma transcendência das causas primeiras. Na visão da verdade como efeito das causas primeiras, tudo é determinado segundo uma legislação instituinte. Porém, o real e a realidade podem ser multi e inter determinados.
Então nossas modestas e contraditórias visões da verdade partiriam de uma distorção gerada pela perspectiva a partir da qual percebemos o mundo.
Em poucas palavras, essa é a forma da intuição que me leva ao sentimento cético, e humilde, de que a maior verdade possível é uma busca coletiva e histórica da humanidade que está sempre inacabada e em eterna construção.
Por Elias J. Silva
E quando os caminhos se cruzam
Andarilhos se encontram
Mãos se tocam
Corpos se abraçam
As palavras se tornam verbos
Os verbos seduzem os andarilhos
E eles descobrem que além da verdade de cada um
Existem outras verdades
Intensíssimas verdades que a vida e o amor produzem
(do nosso ensaio poético Caminhos e Andarilhos)
https://www.recantodasletras.com.br/audios/prosapoetica/40393