O presente texto trata-se de uma resenha crítica do artigo “O corpo como fio condutor para a ampliação da clínica” encontrado no Caderno de Saúde Mental, artigo este que resultou de itinerâncias clínicas na rede de saúde mental de Aracaju-Sergipe, e por sua vez, traz voz para questões e discussões de suma importância na área da saúde mental tomando o corpo como fio condutor de análises sobre a própria clínica.
Os autores referenciam a clínica como sendo um corpo que (re)existe mais afeito à abertura dos corpos inclusive do seu próprio, ou seja, uma clínica ampliada. Mas por que ampliar a clínica? Ora por uma necessidade de (trans)formação, ora por uma necessidade de desconstruir o que já foi dado sobre a mesma, uma clínica que funciona junto de um exercício de poder, ligada ao verbal e ao corpo biológico tentando organizar os corpos (des)organizados. Sugere-se a clínica como um espaço de experimentação, onde a partir do encontro dos corpos há um deslocamento dos territórios existenciais.
Mas e como ficam os corpos que um dia foram isolados, silenciados, em longas internações psiquiátricas? Os autores apresentam traços deixados pelas internações, fixados no corpo, como muros inscritos na carne, sinais corporais em sujeitos que eles chamam de “cronificados”. Estes “sujeitos cronificados” continuam com uma falta de afetação no encontro com o corpo do Outro, se expressam por intensidade e repetições. Aqui quero ressaltar o conceito de “repetição-diferenciação” que diz respeito aos movimentos, gestos, repetidos inúmeras vezes por estes corpos como forma de conservação, mas que, a cada movimento produzem algo de diferente, não apenas reproduzindo, mas introduzindo a diferença. Nesse sentido a diferença é tida como a dobra da dobra, produz outros movimentos, outras prática, outro corpo.
Por fim, se mostra necessário (re)pensar esta clínica que sabe muito pouco sobre o corpo mas tenta de toda forma fixá-lo, classificá-lo, inseri-lo na lógica de “normalidade”, de produção. A lógica de produção faz sumir, se perder, a razão principal da clínica: o corpo, corpo este que não pode se deixar paralisar por ela, tem que (re)existir.
Autora do texto: Natália Roós Deponti, Acadêmica do IV semestre de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria. Texto produzido para a disciplina de Introdução a Psicologia da Saúde.
Professor: Douglas Casarotto.
Bibliografia: MACHADO, Dagoberto O.; VASCONCELOS, Michele F.; MELO, Aldo R. O corpo como fio condutor para a ampliação da clínica. Polis e Psique, Vol 2. P. 147- 170, 2012.
Por Vitor Almeida do Nascimento
Sensacional essa perspectiva! Vejo isso como uma pauta profunda, que faz repensar as práticas clínicas num todo. Interessante a questão da segunda necessidade apontada, de que é preciso desconstruir a prática clínica predominante, pois me parece que, com a clínica ampliada, aspectos são trazidos de outros âmbitos (da arte, da saúde ou do cotidiano), e, ressignificando-os, montam um novas possibilidades de clínica, mais ampla e capaz.