Conheci a redehumanizasus na mostra interativa humanizasus em 2008 durante um evento de saúde da família. Em 09 de agosto de 2008, comovida com um relato que recebi da minha irmã mais velha, entrei na rede “cantando baião.” No texto, minha irmã contava sobre sua peregrinação quando, na ocasião do climatério, começara a sangrar sem parar e procurava no SUS uma cura para o seu “endométrio que enlouquecera, caducara, intrigara-se da mãe do corpo”. Na indignação da descoberta de sentir-se invisível na maternidade pública, descobrira também outros invisíveis com dores maiores e mais profundas do que a dela. Diante dos jovens doutores, “Feito cabocla veia do sertão”, falava “de gente e de peleja” e conclamava no seu baião: “Luiz, respeita Januário!”
Eis que uma empresa de consultoria e vendas de serviços invade os comentários, anunciando: “somos publicitários da vida, do milagre, das mudanças, de uma nova realidade que sai do papel e começa a adentrar o serviço de saúde pública.” Imediatamente, diversos comentários de editores, consultores da PNH e outros usuários da rede, rebatem veementemente o fato de uma empresa aproveitar-se de um relato de sofrimento de uma usuária de SUS para promover sua propaganda.
Pude sentir, logo na entrada, a potência daquele coletivo. E segui publicando, interagindo, lendo as cartilhas da PNH, convocando novos atores da USF Panatis e do RN para conhecerem a rede.
A RHS fez crescer o meu gosto por contar e escutar as narrativas no trabalho em saúde. Histórias que seguem conosco entre os bancos da academia e os corredores dos serviços de saúde. Histórias de seu Francisco e o seu reencontro com a canção, histórias sobre orquídeas pintadas no espelho, histórias de canções usadas como prece para aplacar a saudade, de caminhadas sob a luz de um lampião a gás para fazer voltar o sono, histórias de varais de textos no galpão da unidade, de grupos de estudos, de cinco minutos pelo SUS na sala de espera, histórias de despedidas.
“Seu doutô, me dê licença pra minha história contar.” Assim chegou a Tenda do Conto à RHS. Na ocasião, ainda não carregava sua mala, mas foi se espalhando pelo Brasil através da rhs. Histórias de sertanejos com seus porta-retratos, fuxicos e cadeira de balanço deslocaram-se da pequena unidade de saúde do Panatis na zona Norte Natal/RN, atravessaram sertões, serras e mares; juntaram-se a outras histórias contadas, em diferentes sotaques, compondo novas Tendas – novos modos de pensar o cuidado pautado na escuta, no respeito e na atenção à experiência do outro. A RHS posicionando-se “contra o desperdício da experiência.”
Histórias de encontro com a poesia que se carrega dentro de si, com a poesia cantada, a educação popular, com o usuário que cria dois perfis para exercer sua experiência criativa e suas lutas, histórias de movimentos muito mais do que de instituição, como diz o nosso querido Elias…Pesquisa, ensino, apoio, participação social, movimento humanizaSUS, ciberespasus!
Hoje, aqui, junto a tanta gente que teima em seguir alumiando caminhos, cito Mia Couto: “Tudo são luzes e a gente se acende é nos outros”
*Texto em homenagem aos 14 anos da RHS
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Que postagem revitalizante, Jacque. E voltas à rede cada vez mais lírica.
😘