Combate às ISTs e Drogas: Educação em Saúde para adolescentes de escola pública no interior paulista
Projeto realizado na Unidade de Prática Profissional 2 dos cursos de Medicina e Enfermagem da Famema, orientado pela docente Profa. Dra. Vanessa Baliego Andrade Barbosa Silva. Autores: ACP; Rebelo, DC; Lima, DM; Garcia, HPB; Mesquita, K; Oliveira, LM; Arman, LHG; Silva, MCP; Silva, MFO; Santos, NC; Sena, RL;
O aumento das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e do uso de drogas entre os adolescentes representa uma preocupação crescente na maioria das sociedades contemporâneas. De acordo com a OMS, mais de 1 milhão de pessoas são infectadas diariamente por infecções sexualmente transmissíveis, incluindo jovens a partir de 15 anos. Concomitantemente, o uso de álcool e drogas ilícitas tem se popularizado em faixas etárias cada vez mais precoces. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de escolares entre 13 e 17 anos que já experimentaram bebida alcoólica é de 63,3%. Ainda, 13% desse grupo relataram já ter feito uso de drogas ilícitas como maconha, ecstasy, cocaína e crack. Diante disso, fica evidente a importância da conscientização acerca de ambas as temáticas para jovens em idade escolar.
Assim, os estudantes da FAMEMA que compõe o grupo 3 da Unidade de Prática Profissional elaboraram uma intervenção utilizando o referencial do Planejamento Estratégico Situacional, que contempla um planejamento flexível e realizado a partir da análise dos indicadores de saúde vivências da equipe de saúde, a qual convive diariamente com a população e compreende suas necessidades de saúde. O processo de planejamento percorreu diferentes momentos: momento explicativo, no qual ocorreu o diagnóstico do problema a partir de dados estatísticos, momento normativo, em que a estratégia de prevenção foi definida como a mais adequada, momento estratégico, no qual discutiu-se os materiais utilizados, as datas disponíveis e as possíveis dinâmicas educativas e, por fim, um momento tático- operacional que consistiu na aplicação da ação planejada. A partir disso, o grupo visitou a Escola Estadual do bairro com o objetivo de realizar atividade educativa e promover a prevenção contra o uso de drogas e a contaminação de ISTs para estudantes do 9º ano do ensino fundamental.
Com esse intuito, o grupo desenvolveu uma apresentação em duas partes. A primeira parte foi sobre as ISTs. Foi feita uma dinâmica que fazia alusão à transmissão das ISTs da seguinte forma: foram distribuídos diversos copos nas mesas, a maioria com água e outros com vinagre, sem que os estudantes soubessem dessa distinção. Depois, pediram para que cada um dos estudantes do 9 ano pegasse um copo e misturasse o conteúdo com o copo do colega ao lado, e depois redistribuísse o líquido. Logo após, foi adicionado água de repolho roxo, que havia sido preparada anteriormente, em todos os copos. Por ser um indicador ácido base caseiro, quando adicionado nos copos apenas com água, o líquido resultante adquiriu uma coloração azul, enquanto os copos com vinagre, por ser uma substância ácida, adquiriram coloração rosa. Como a maioria dos copos continha vinagre após a mistura feita pelos estudantes, a grande maioria dos copos ficaram rosa, mesmo os copos com vinagre sendo a minoria no começo do experimento. Essa prática teve a intenção de representar a disseminação de uma infecção sexualmente transmissível entre os adolescentes. Posteriormente, realizou-se uma nova atividade com o objetivo de criar uma aproximação acerca do manuseio de preservativos. Para tanto, os estudantes da FAMEMA utilizaram de peças do Laboratório Morfofuncional da faculdade que representavam os órgãos reprodutores feminino e masculino para ensinar a maneira correta de colocar o preservativo, além de ressaltar a importância do seu uso. Depois, foram distribuídos preservativos para os adolescentes. Para finalizar a apresentação referente à temática de ISTs, foi feita uma breve introdução sobre a candidíase e as principais ISTs, sendo elas a gonorreia, sífilis, HPV e HIV, suas formas de contaminação, principais sintomas, tratamento e prevenção, além da exposição de fotos das principais complicações dessas infecções.
A segunda parte da apresentação foi relacionada às drogas. O grupo fez uma exposição das drogas que, baseado nas condições socioeconômicas da região em que a escola está inserida, seriam as que mais alcançariam essa área, sendo elas os vapes/pods, cigarro comum, álcool, maconha, cocaína e crack. Foi explicado o mecanismo de ação dessas drogas no organismo, bem como seus principais sintomas e repercussões do uso, enfatizando o quesito vício e salientando a contraindicação de todas as drogas citadas. Ao final, o grupo fez uma dinâmica de perguntas e respostas com os alunos pelo site “Kahoot!”, no qual eram feitas perguntas sobre o tema abordado para analisar o conhecimento aprendido pelos adolescentes. Foram feitas 12 perguntas, cada uma com um tempo determinado para resposta, e ao final os três com maior pontuação foram premiados com chocolates.
A ação em saúde realizada foi uma iniciativa significativa, voltada para a educação desses adolescentes sobre temas cruciais. Os resultados e impactos dessa atividade podem ser analisados sob diversas perspectivas, desde o engajamento dos alunos até as implicações a longo prazo.
O alto nível de participação e os questionamentos dos adolescentes durante as apresentações evidenciam seu interesse em aprender sobre questões que afetam diretamente suas vidas, constituindo uma das grandes fortalezas desse trabalho. Esse engajamento é essencial, pois contribui para desmistificar informações sobre ISTs e drogas, criando um ambiente seguro para discussões e esclarecimento de dúvidas. Já os resultados do quiz, realizado por meio do Kahoot, revelaram um panorama interessante sobre o nível de conhecimento dos alunos após as apresentações. A Sala 2 destacou-se com um desempenho de 64% de acerto, enquanto as Salas 1 e 3 registraram 44% e 45%, respectivamente. Embora esses números indiquem uma absorção de informações, eles também apontam para lacunas significativas no conhecimento.
É importante ressaltar que essas atividades têm potencial de gerar impactos positivos a longo prazo. A educação em saúde pode aumentar a conscientização sobre práticas sexuais seguras e o uso responsável de substâncias. Com um melhor entendimento sobre ISTs e drogas, espera-se que os adolescentes tomem decisões mais informadas, contribuindo para a redução de comportamentos de risco na comunidade.
Para futuras ações, é fundamental considerar a inclusão de atividades práticas ou debates em pequenos grupos, que possam aprofundar ainda mais a compreensão dos alunos sobre esses temas. Além disso, a implementação de avaliações pré e pós-atividade permitirá medir a evolução do conhecimento de forma mais precisa, proporcionando uma avaliação mais robusta do impacto gerado.
A experiência na escola estadual evidenciou a relevância da conscientização sobre esses temas, especialmente entre os adolescentes. A abordagem prática, como o manuseio de preservativos e a dinâmica com os copos, facilitou a compreensão sobre a transmissão das ISTs e a importância da prevenção.
Além disso, entender sobre os efeitos das drogas e suas consequências foi impactante, especialmente ao relacionar essas informações com a realidade socioeconômica da comunidade. A interatividade proporcionada pelo Kahoot! manteve os adolescentes engajados e permitiu avaliar o aprendizado de forma divertida. O desfecho foi a promoção de um espaço seguro para discussão e reflexão crítica entre os jovens. Essa prática, portanto, reforçou a importância da educação em saúde na formação de adolescentes mais informados e responsáveis.
Consideramos que a ação em saúde representou um passo importante na promoção da educação e conscientização entre adolescentes, com resultados que destacam a necessidade de continuidade e aprimoramento nas abordagens educativas.
Por Sérgio Aragaki
Muito bom saber que esse trabalho está sendo desenvolvido e juntando estudantes de Medicina e Enfermagem. Tenho trabalhado o tema relacionado às pessoas que usam drogas, contrastando o Proibicionismo e a Redução de Danos, na formação médica. Conhecer e saber o porquê somos antiproibicionistas e defensores da RD e que isso está alinhado à Reforma Psiquiátrica e à Luta Antimanicomial tem feito diferença na formação e, certamente, na atuação desses futuros profissionais.
Seguimos junto, criando e fortalecendo redes de produção de vidas!
AbraSUS!